A eficiência reprodutiva é um dos fatores que influencia o sucesso econômico de uma fazenda leiteira. Porém, a ineficiência reprodutiva é considerada um problema na maioria das fazendas.
É sabido que o efeito interativo do ambiente, do manejo sanitário e reprodutivo podem influenciar o desempenho reprodutivo do rebanho (GRÖHN & RAJALA-SCHULTZ, 2000; ROXSTRÖM et al., 2001).
De forma geral, os sistemas de produção de leite buscam o aumento da produtividade, do número de bezerras nascidas por ano e da vida útil da vaca (MARQUES JÚNIOR, 1993; LEITE et al., 2001; KASK et al., 2003; SHELDON et al., 2006).
A vida útil da vaca está relacionada diretamente com a idade ao primeiro parto, com o intervalo de partos, mas se encontra também fortemente ligada com os eventos que ocorrem no puerpério (PETERS, 1984; MARQUES JÚNIOR, 1993; FERNANDES et al., 2001; BELLOWS et al., 2002; KASK et al., 2003; SARTORI, 2007).
As doenças do trato reprodutivo da fêmea que ocorrem no pós-parto impactam de forma desfavorável na eficiência reprodutiva, aumentam os custos devido aos tratamentos e o descarte prematura de fêmeas, além de provocar queda na produção de leite e afetar negativamente o bem-estar da vaca (SHELDON & DOBSON 2014, SHELDON et al. 2009).
Baseado no conhecimento da diversidade de fatores que podem ser predisponentes para ocorrência das doenças uterina pós parto e redução da eficiência reprodutiva e na importância das vacas mestiças para a produção de leite no Brasil, objetivou-se com este estudo avaliar a relação entre a higiene do períneo no momento do parto com a ocorrência de retenção de placenta, metrite, endometrite clínica e sua influência no período de serviço, taxa de concepção, número de inseminações por concepção e taxa de descarte em vacas leiteiras mestiças.
Foram coletados dados referentes a sujidade da região perineal de 101 vacas no pré-parto em duas fazendas comerciais.
Uma fazenda localizada no município de Lagoa Grande– MG (Fazenda 1), com um rebanho leiteiro de 737 vacas em lactação, produção média de 17.500 litros/leite/dia, em três ordenhas ao dia.
Outra localizada no município de Ibiá – MG (Fazenda 2), com um rebanho de 360 vacas em lactação, produção média de 7.800 litros/leite/dia em três ordenhas ao dia. Os rebanhos de ambas as fazendas eram compostos por vacas Girolando.
O sistema de produção da Fazenda 1 era semiconfinamento. No período do verão as vacas permaneceram a pasto com complemento de concentrado e volumoso no cocho e no período do inverno a alimentação era 100% no cocho. Já a produção da Fazenda 2 era em sistema Compost Barn, onde uma dieta específica foi aplicada para o lote de vacas do pré-parto.
Os dados da Fazenda 1 foram coletados nos meses de janeiro e fevereiro de 2020 e os dados da Fazenda 2 no período de janeiro a julho de 2020. Todos os animais que compunham o lote pré-parto estavam clinicamente saudáveis.
As vacas que estavam alojadas nesse lote foram analisadas pelo mesmo avaliador no dia do parto (D0). Essa avaliação consistiu em analisar a sujidade do períneo no momento que antecedeu o parto, atribuindo escores de higiene conforme a descrição a seguir:
- Escore 1 – livre de fezes e completamente seco;
- Escore 2 – presença sutil de fezes e períneo úmido em 1-10% da superfície;
- Escore 3 – períneo moderadamente molhado, coberto com esterco em mais de 10% da superfície (SCHUENEMANN et al., 2010).
Apenas os dados das vacas que tiveram parto normal foram analisados, sendo excluídas do estudo vacas que apresentaram parto distócico. Após o parto, as vacas foram observadas e aquelas que em até 12 horas não eliminaram as membranas fetais recebiam diagnóstico de retenção de placenta.
Todas as vacas recém paridas passaram por avaliações ginecológicas, as quais aconteciam de 15 em 15 dias, onde foi realizado palpação retal, exame ultrassonográfico e avaliação de secreção do fundo de vagina com utilização de Metricheck sendo possível verificar presença de metrite até 20 dias após o parto e endometrite clínica entre 21 e 30 dias após o parto.
O manejo reprodutivo dos animais também se assemelhava em ambas as fazendas. Era baseado em inseminação artificial em tempo fixo (IATF). O diagnóstico de gestação por exame de ultrassonografia era realizado 30 dias após a inseminação artificial, com confirmação aos 60 dias.
Os dados referentes ao escore de higiene perineal, diagnóstico de retenção de placenta, metrite e endometrite clínica e também dados referentes aos índices avaliados foram registrados em planilha do Microsoft Excel (Microsoft Corp., Redmond, WA). As análises estatísticas foram realizadas usando SAS Studio (SAS Institute Inc., Cary, NC).
A incidência do escore de higiene perineal 1 foi de 53,76% (50/93) do escore 2 35,48% (33/93) e escore 3 10,75% (10/93), como o número de animais classificados com o escore 3 foi muito pequeno, os dados dos animais classificados como 2 e 3 foram agrupados e analisados em conjunto. Não foi detectado diferença entre fazendas quanto a distribuição dos escores de higiene, por isso os dados foram analisado em conjunto.
Vacas com escore de higiene perineal 2+3 apresentaram maior ocorrência de retenção de placenta comparado com vacas que com escore de higiene 1. Foi detectado também que a ocorrência de metrite e endometrite clínica foi menor nos animais que receberam escores de higiene 1, em comparação com animais com escore de higiene 2+3 (Tabela 1).
Não foi detectado efeito do escore de higiene da região perineal nos índices reprodutivos avaliados, como taxa de concepção, período de serviço e número de IA por concepção, apesar da diferença numérica (Tabela 2).
Conclui-se que as vacas leiteiras mestiças que apresentam no parto a região perineal com fezes e/ou umidade em diferentes graus têm no pós-parto uma maior ocorrência de retenção de placenta, metrite e endometrite clínica em comparação com animais que apresentam região perineal completamente seca e limpa, porém não foi possível detectar efeito do escore de sujidade perineal nos índices reprodutivos avaliados.
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Referências
Este texto é parte do resumo apresentado no ADSA 2021 Virtual Annual, 2021.
Autores
Laryssa de Fátima Mendonça Silva;
Brenda Matos Fernandes; Giovanna Faria de Moraes;
Ricarda Maria dos Santos, da Universidade Federal de Uberlândia.