Eficiência reprodutiva é a habilidade de fazer a vaca ficar gestante o mais rápido possível, após o período voluntário de espera. Uma reprodução ineficiente reduz a lucratividade tanto por reduzir a eficiência na produção de leite, como por reduzir o número de novilhas para reposição, além de aumentar os gastos com sêmen, medicamentos e serviços veterinários.
A partir da anotação dos dados de detecção de cio, coberturas, diagnósticos de gestação e avaliações ovarianas conseguimos levantar os índices da eficiência reprodutivas do rebanho, as possíveis causas dos problemas e, o mais importante, detectar os problemas na fase inicial, permitindo que as atitudes corretivas sejam tomadas antes que o problema fique muito sério e irreversível.
Os dados reprodutivos devem ser comparados aos estabelecidos nos livros, aos índices regionais, locais (entre fazendas vizinhas), mas principalmente em relação ao histórico do rebanho.
Dados necessários para o cálculo dos índices reprodutivos:
- Data do último parto de cada vaca;
- Data dos partos anteriores das vacas com duas ou mais lactações;
- Condição reprodutiva de cada vaca (gestante, vazia, coberta);
- Número de coberturas por vaca;
- Data da primeira cobertura pós-parto e das coberturas mais recentes.
Quais são os principais índices de eficiência reprodutiva?
Os principais indicadores de eficiência reprodutiva que devem ser observados nas fazendas leiteiras são:
- Dias em aberto (dias vazios);
- Intervalo entre partos atual;
- Dias pós-parto no primeiro serviço (primeira cobertura);
- Número de serviços por concepção;
- Comparação entre o intervalo entre partos atual e o intervalo entre parto projetado;
- Taxa de detecção de cio (estro).
O que são dias em aberto (dias vazios)?
Para o cálculo do dias em aberto devemos considerar o número de dias do último parto até:
- A data da concepção das vacas gestantes;
- A data da última cobertura das vacas ainda não confirmadas gestantes;
- Ou a data em que o cálculo foi realizado.
O ideal é que se tenham as anotações de pelo menos 12 meses anteriores. Problemas de fertilidade e/ou de detecção de cio aumentam os dias em aberto.
Geralmente uma porção pequena de vacas com dias em aberto muito alto são responsáveis por um pequeno grau de aumento da média de dias em aberto do rebanho.
Mas, se este índice esta sendo fortemente afetado por poucas vacas, podemos considerar que os problemas são particulares desses animais e não do rebanho, e colocá-los na lista de descarte. As vacas já definidas como descarte, mas que ainda estão em lactação, não precisam ser incluídas nos cálculos.
O cálculo da média dos dias em aberto é feito pela soma dos dias em aberto de cada vaca divido pelo número de vacas do rebanho.
Tabela 1. Intervalos de dias em aberto e resumo da interpretação.
Em rebanhos de alta produção, se a média de dias em aberto esta abaixo de 85 dias, pode indicar que as vacas estão sendo cobertas muito cedo e parte do potencial de produção leiteira esta sendo perdido. Quando se trata de rebanhos mestiços com baixa persistência de lactação esse número pode ser interessante.
Como calcular o intervalo entre partos?
O intervalo entre partos atual é o cálculo do número de meses entre o parto mais recente e o parto anterior das vacas com mais de um parto. Neste dado não entram as vacas de primeira lactação.
Este dado reflete o insucesso do manejo reprodutivo anteriormente aos partos, mas não aponta as causas das falhas.
Tabela 2. Intervalos entre partos atual e resumo da interpretação.
Em rebanhos com alta persistência de lactação, os dados mostram que rebanhos com intervalo entre partos atual menor que 11,7 meses produzem menos leite do que rebanhos com intervalos entre partos entre 11,8 e 13 meses.
Dias pós-parto no primeiro serviço (primeira cobertura)
O número de dias pós-parto no primeiro serviço é influenciado pelo período voluntário de espera (PVE), como o próprio nome diz, por uma decisão de manejo, por isso esse índice varia muito entre os rebanhos. Cada fazenda deve, a partir do final do PVE, definir o objetivo a ser alcançado para a média de dias pós-parto no primeiro serviço.
Algumas vacas podem ser cobertas com 40 dias pós-parto, porém na maioria dos rebanhos de alta produção, o máximo de fertilidade é alcançado por volta dos 60 dias pós-parto.
O ideal é que a liberação das vacas para o início das coberturas seja feita depois de um exame pelo veterinário, para que as vacas com problemas sejam diagnosticadas e tratadas. O início das inseminações artificiais nos animais com infecção uterina é atrasado até que a infecção seja eliminada e o útero esteja saudável.
A média de dias pós-parto no primeiro serviço também é influenciado pelo retorno a ciclicidade pós-parto e pela eficiência da observação de cio.
O cálculo dos dias pós-parto no primeiro serviço é feito da seguinte forma:
- Cálculo do número de dias do parto até o primeiro serviço para as vacas inseminadas;
- A média de dias pós-parto no primeiro serviço do rebanho é feito pela soma dos dias pós-parto no primeiro serviço de cada vaca, dividido pelo número de vacas do rebanho.
Após determinada a média, deve ser feita a diferença desta para o objetivo.
Tabela 3. Relação entre o objetivo e a média alcançada para o número de dias pós-parto no primeiro serviço e resumo da interpretação.
*as causas podem ser relacionadas ao anestro e/ou às falhas de detecção de cio.
Número de serviços por concepção
A média de número de serviços por concepção do rebanho indica a fertilidade das vacas que foram cobertas e ficaram gestantes. As vacas descarte e as vacas que repeat breeder (vacas com mais de 4 coberturas) não diagnosticadas gestantes não entram nesse índice.
O cálculo do número de serviços por concepção é feito da seguinte forma:
- Calcular o número de coberturas da vacas gestantes
- A média é obtida pela soma das coberturas dividida pelo número de vacas gestantes.
Tabela 4. Relação entre o número de serviços por concepção e a fertilidade do rebanho.
A baixa fertilidade pode ser decorrente de detecção de cio inadequada, falhas nas técnicas de inseminação artificial, sêmen com problemas (armazenamento ou infertilidade do touro) ou problemas nas vacas (infecção uterina, doenças infecciosas, etc...).
Esse índice isoladamente não reflete a eficiência reprodutiva do rebanho, pois podemos ter baixo número de serviço por concepção, mas poucas vacas do rebanho estão gestantes ou as vacas estão com dias em aberto muito longo por falhas na detecção de cio.
Comparação entre o intervalo entre partos atual e o intervalo entre parto projetado
O objetivo dessa comparação é saber se a eficiência reprodutiva da fazenda nos últimos 9 meses esta melhorando, se mantendo ou piorando.
O cálculo exato do intervalo entre parto projetado é feito da seguinte forma:
- Dias em aberto mais o período de gestação médio da raça do rebanho (Holandesa 279 dias, Jersey 279, Gir 290 dias), dividido por 30,25 dias/mês (para se corrigir a diferença entre meses com 28, 30 e 31 dias).
Exemplo:
- Dias em aberto = 123 dias
- Período de gestação = 279 dias
- Intervalo entre parto projetado (IEPP) = (123 + 279)/30,25 = 13,3 meses
Tabela 5. Comparação entre o intervalo entre partos atual e o intervalo entre parto projetado e a relação com a fertilidade do rebanho.
Taxa de detecção de cio
A taxa de detecção de cio é um cálculo um pouco mais difícil pois deve considerar o período entre estros.
Pode-se fazer uma estimativa usando a seguinte fórmula para calcular o intervalo entre inseminação e a partir desse intervalo se faz uma interpretação da porcentagem de detecção de cio de acordo com a tabela 6.
- Intervalo entre coberturas = (Média de dias em aberto - Média de dias pós-parto no primeiro serviço)/(Número de serviços por concepção - 1).
Exemplo:
- Média de dias em aberto = 140 dias
- Média de dias pós-parto no primeiro serviço = 75 dias
- Número de serviços por concepção = 2,6
- Intervalo entre coberturas = (140-75)/(2,6-1)
- Intervalo entre coberturas = 40,6 dias, comparando esse número obtido com os dados da Tabela 6, verifica-se que corresponde a taxa de aproximadamente 50% de detecção de cio.
Tabela 6. Estimativa da porcentagem de detecção de cio baseado no calculo do intervalo entre inseminações.
As falhas de detecção de estro podem ser causados por anestro, problemas de locomoção e falha técnica de detecção.
Alguns rebanhos apresentam alta taxa de detecção de cio com fertilidade baixa, sugerindo problemas com a acurácia detecção de cio (vacas são consideradas em estro quando não estão).
Tabela 7. Relação entre a porcentagem estimada de detecção de estro e a eficiência da detecção.
A ineficiência reprodutiva reduz a lucratividade do rebanho e pode ser causada por diferentes fatores. A correta anotação dos dados e a interpretação dos índices podem ajudar a diagnosticar os problemas o mais cedo possível, antes que estes tomem proporções muito grandes e se tornem irreversíveis.
Devemos lembrar que a maioria dos programas de gerenciamento de rebanho nos fornece esses índices, temos que nos habituar a interpretá-los e tomar as atitudes corretas no momento adequado.