O sucesso na atividade leiteira depende de muitos fatores. Dentre eles o controle dos custos de produção, o volume e a qualidade do leite produzido, o controle do manejo e, em especial, a nutrição animal, visto que os custos com a alimentação do rebanho correspondem a maior despesa, podendo chegar a 70% - 80% dela.
A análise da matéria seca in loco é, talvez, a de maior impacto no controle da nutrição animal, pois os teores de água dos alimentos fornecidos podem variar muito nas diferentes situações (dias chuvosos ou muito quentes), bem como quando o milho é ensilado com teores de matéria seca acima ou abaixo daqueles preconizados. Sendo assim, o conhecimento da matéria seca dos alimentos permite o ajuste ideal da dieta nas fazendas.
Neste sentido, muitos esforços foram empregados no intuito de desenvolver metodologias que viabilizassem as análises em campo. Nesta busca por praticidade e eficiência, apareceram técnicas como uso do Koster Test, forno micro-ondas e, mais recentemente, a ideia de utilizar o Airfryer. Contudo, elas se demonstraram caras, imprecisas e pouco práticas.
Foi enfrentando tais dificuldades que um estudante da Universidade Federal de Viçosa (UFV), durante graduação, criou um dispositivo chamado Dryer Bag – sob a coordenação do professor Marcos Inácio Marcondes. Os primeiros resultados desta nova metodologia foram publicados no SIMLEITE realizado na UFV, em 2015, e mais recentemente no encontro anual da Journal of Dairy Science, em 2017, nos Estados Unidos.
O Dryer Bag consiste em um dispositivo em tecido, especialmente desenvolvido para determinar a matéria seca com a utilização de um simples secador de cabelos comercial. O estudante passou cerca de dois anos desenvolvendo o material. Foram diversos protótipos até chegar ao formato final.
“Foram três trabalhos extensos de testes com o Dryer Bag, com mais de 30 tipos de alimentos entre capins e leguminosas de diversas variedades, dietas totais, silagens de milho, sorgo, cana de açúcar e concentrados”, elenca o zootecnista Wagner da Silva Machado (na época da criação estudante de graduação da UFV).
Para garantir a qualidade da metodologia e dos dados que o Dryer Bag fornece, os autores levaram mais dois anos para registrar e requerer patente do método e do dispositivo. Hoje, as inovações fazem parte do conjunto das novas tecnologias desenvolvidas pela Universidade Federal de Viçosa, que incentiva o uso da criação nos programas desenvolvidos pela casa.
“Como a gente já detém a tecnologia e a patente, temos usado em todas as nossas fazendas. Vai fazer silagem, vai coletar amostra de forragem, precisa fazer matéria seca, já utilizamos em tudo isso aí”, conta o professor Marcos Inácio Marcondes, chefe do Departamento de Zootecnia da UFV.
Um dos programas da universidade que utiliza o Dryer é o Família do Leite, que dá a 28 produtores rurais a oportunidade de serem atendidos por um grupo de 104 estudantes da instituição. O programa adotou o Dryer desde que ficou pronto, em 2017. A coordenadora, Polyana Pizzi Rotta, ressalta a tecnologia como um método preciso, rápido e de fácil execução. “Já na primeira etapa, damos os treinamentos para os estudantes sobre o Dryer e eles aprendem a fazer e interpretar super-rápido”, diz
O Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL) também vem utilizando o Dryer Bag. A equipe pode perceber na prática a comparação com o Koster Test. “Temos no PDPL um equipamento chamado Koster. Porém como ele queimou e, coincidentemente, chegou o Dryer Bag fizemos uso muito intenso deste equipamento”, conta Thiago Camacho, técnico agrônomo do PDPL. “É um equipamento compactado, leve e de fácil manuseio que proporcionou bom resultado da matéria seca para tomada de decisão de ponto de colheita de milho para silagem”, completa o profissional.
Testes com o Dryer Bag
Já foram mais de 250 comparações de matéria seca realizadas com o Dryer Bag. Todas com resultados precisos. O primeiro teste foi em 2015, reunindo 14 alimentos. “Este teste inicial visava validar o Dryer Bag, de forma a poder investir mais esforços para testá-lo nas mais diversas situações posteriormente”, conta Wagner da Silva Machado.
Neste primeiro teste, foram utilizados alimentos diversos entre forragens conservadas, forragens verdes, dieta total e concentrados. Todos foram testados diversas vezes no Dryer Bag. Simultaneamente, realizaram-se análises em laboratório.
Estes testes foram realizados da seguinte forma: uma amostra do alimento era coletada e colocada em um balde. Deste balde, retirava-se 1 alíquota de silagem para a Estufa 1 onde a amostra ficava a 105ºC por 24 horas; 1 alíquota para a Estufa 2 a 55ºC por 72 horas com ventilação forçada; e 1 alíquota para o Dryer Bag. O procedimento foi repetido três vezes na mesma amostra do alimento, não necessariamente na mesma ordem, completando assim as três amostras para cada método. Todas as três repetições de cada alimento nos três métodos eram pesadas e postas em análise ao mesmo tempo.
De acordo com o gráfico, no grupo de forragem, as metodologias laboratoriais e o Dryer Bag apresentam resultados iguais entre si. Mesmo sendo observados valores ligeiramente maiores na Estufa 2, comparados a Estufa 1 e ao Dryer Bag, isso nos testes com concentrados e dieta total, a diferença é natural e intrínseca a presença do concentrado na amostra. Ela existe devido ao fato de a estufa a 55ºC não ser quente o suficiente para retirar toda a água do concentrado, tirando apenas parcialmente. As técnicas laboratoriais recomendam a utilização da estufa a 105ºC para alimentos com elevado teor de matéria seca, como os concentrados, comprovando assim a afiliação do Dryer Bag como um meio preciso de determinação da matéria seca.
Na segunda comparação, foram testados 13 alimentos também distribuídos entre forragens conservadas, forragens verdes, dieta total e concentrados. Ao analisar os resultados do Dryer Bag, mais uma vez há conformidade com as análises laboratoriais.
Os três métodos se mostraram iguais quando comparados às forragens. “Como era de se esperar, as análises que continham concentrado foram diferentes apenas para a Estufa 2, marcadas pela letra B, pois como já havíamos visto, não seria recomendado a utilização da Estufa a 55ºC para análise da matéria seca de concentrados devido ao seu baixo poder de retirar a água deste tipo de alimento. Podemos observar também que, até para concentrados, o Dryer Bag se mostrou totalmente eficiente e aplicável, pois não houve diferenças com a Estufa 1, que são os resultados marcados pela letra A”, explica Wagner.
Outros dados preliminares ainda não publicados compararam o Dryer Bag ao micro-ondas, a estufa e ao Koster Test. Nestes testes, o Dryer Bag foi utilizado em diversas situações, inclusive com concentrados. Na comparação, o uso do Koster Test para análise da matéria seca de alimentos que contém concentrados como dietas totais mostrou-se inadequado, ultrapassando 3% de erro da matéria seca verdadeira.
Otimiza tempo e mão de obra
Em outra bateria de testes, o Dryer Bag foi posto a prova quanto ao tempo de realização das análises. Foram três repetições entre diversos tipos de alimentos, seguindo a metodologia descrita anteriormente.
A duração do teste depende, por exemplo, da quantidade de água presente no alimento. Contudo, no teste de tempo o Dryer demonstrou ser eficiente, determinando a matéria seca em espaços de tempo que variaram de 41 a 85 minutos.
Além de apresentar os dados necessários de forma rápida e confiável, o Dryer Bag não requer a presença constante de alguém, já que o preparo é simples e rápido, necessitando apenas de 1 a 2 minutos para colocar as amostras no Dryer Bag e colocá-la em teste.
“Ele tem a imensa vantagem de que você arruma, coloca lá e esquece, vai fazer outra coisa. O micro-ondas você perde meia hora porque tem que estar na frente dele. E a vantagem com relação ao Koster é que o Koster é grande, pesado, tem perigo de se queimar. Sem contar o preço. O Koster nem se fala, é quase três mil. Mas, o Dryer é a metade do preço de um micro-ondas, por exemplo, além de ser muito mais prático, lavável”, compara Marcos Inácio Marcondes.