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Ambiência na região Sul: entendendo e reduzindo o estresse das vacas em dias quentes

POR KAREN DAL MAGRO FRIGERI

E FREDERICO MÁRCIO CORRÊA VIEIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/03/2022

10 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 05/10/2022

As vacas leiteiras, sejam mantidas à base de pasto ou em confinamento, apresentam em alguma época do ano quadros de estresse por calor. Isto todos nós sabemos.

Todavia, vale a pergunta: em regiões conhecidas por climas frios no inverno, as vacas sofrem de estresse por calor? A resposta é sim, sofrem, e muito! Embora tenhamos a ideia de que a região Sul do país seja bastante conhecida pelos cenários frios e geadas no inverno, apresenta registros de ondas de calor que não fica muito para trás de outras regiões do Brasil.

Para complicar, o investimento em ambiência (climatização, construções que auxiliem na dissipação de calor, dentre outros recursos) são bem aquém daqueles que outros setores produtivos possuem – exemplo da avicultura de corte. Precisamos falar sobre a ambiência na Região Sul, com ênfase na bovinocultura leiteira.

Perder menos é ganhar mais quando oferecemos as melhores condições para reduzir o estresse térmico destes animais. Para entender melhor estas situações térmicas da região Sul, vamos iniciar nosso artigo verificando como as vacas experimentam o estresse térmico por calor.
 

Caracterizando o estresse térmico por calor

As vacas são sensíveis as mudanças climáticas no ambiente em que estão inseridas. Quando são expostas a altas temperaturas ambientais, umidade do ar ou sua combinação (temperatura e umidade), além da radiação solar e o vento, reações diversas podem ocorrer em seu metabolismo, como por exemplo, aumento da temperatura corporal, frequência respiratória, temperatura retal, entre outros. Desta forma, o estresse térmico por calor é presenciado quando as vacas não são capazes de perderem o aumento da temperatura corporal (Figura 1).

Figura 1. Efeito do estresse térmico na fisiologia animal.

Elaborado pelos autores (2022)
 

Clima na Região Sul

A região Sul do Brasil caracteriza-se por apresentar predomínio do clima subtropical úmido. Com estações bem definidas, períodos de calor entre os meses de outubro a abril e frio entre os meses de maio a setembro, com episódios de geadas e neve em algumas regiões e, em sua maioria, chuvas bem distribuídas ao longo do ano, caracterizando uma região extremamente úmida. Entretanto, nos últimos anos, durante a estação de inverno, ondas de calor se tornaram mais constantes e durante o verão, massas de ar quente e seca, com os termômetros chegando próximo ou até mesmo ultrapassando 40 ºC (Figura 2).

Figura 2. Variabilidade da temperatura máxima e da precipitação na Região Sul.


Elaborado pelos autores (2022)

As ondas de calor na região Sul vêm interferindo nos sistemas produtivos, causando perdas, comprometendo a lucratividade das propriedades, nas produtividades, comportamento e no bem-estar dos animais.

Dessa forma, fica notório que medidas devem serem implementadas nas propriedades para reduzir esse impacto. Frequentemente essas medidas apresentam um custo inicial significativo. Os produtores de leite geralmente perguntam: “Terei um retorno neste investimento”? Para responder essa pergunta, descrevemos de forma breve algumas ações do estresse térmico por calor e o que ele impacta no sistema produtivo.
 

Qual é o impacto do estresse térmico em vacas leiteiras?

Em um estudo realizado na região Sul do Brasil, durante os meses de dezembro a março, observaram que com o aumento da temperatura e da umidade relativa do ar houve decréscimo da produção de leite em até 6,20 kg/vaca/dia (Oliveira et al., 2018).

Os impactos do aumento da temperatura e da umidade relativa do ar vão muito mais além do que o declínio produtivo em vacas leiteiras. O estresse térmico interfere nos índices reprodutivos, aumenta o descarte de animais, limita a resposta imune, o que o deixa mais propenso a doenças e ataques de parasitas. Além disso, ocorre declínio na síntese dos sólidos totais do leite, além do aumento da contagem de células somáticas, entre outros fatores (Figura 3). Do ponto de vista econômico, estes fatores interferem diretamente na lucratividade da fazenda.

Figura 3. Zona termoneutra, e pontos críticos de temperaturas para bovinos leiteiros.


Elaborado pelos autores (2022)

Não bastando os impactos que o estresse térmico causa as vacas leiteiras, foi observado em um estudo realizado em Castro-PR que aproximadamente 8 meses do ano os animais ficaram sobre condições de estresse térmico (Subtil, 2018).

Estes dados demonstram a importância da ambiência para vacas leiteiras na região Sul do Brasil, bem como, de demostrar e informar aos produtores de leite que o estresse térmico é considerado o problema que mais causa prejuízos direto ou indiretamente em uma propriedade rural.

Por isso, precisamos entender e discutir mais sobre o clima, com o intuito de analisar como vem se comportando ao longo dos anos e o que podemos fazer para amenizar a ação do estresse térmico nas vacas leiteiras.
 

Como podemos reduzir o estresse térmico em dias quentes?

Por mais que a região Sul apresenta temperaturas amenas em determinada época do ano, precisamos planejar as ondas de calor no inverno e no verão. Dessa forma, medidas de manejo de curto a longo prazo são essenciais para mitigar o efeito do estresse térmico na região Sul, como: 

  • Controle da temperatura e da umidade (por exemplo, por meio do Índice de Temperatura e Umidade - ITU) do ambiente externo e no interior do galpão, com acionamento de ventiladores e aspersão quando ITU estiver entre 65-66, para que não haja perdas no sistema.
     
  • Uso do monitoramento automático dos animais, combinando o ITU e índices fisiológicos (temperatura corporal e atividade dos animais).
     
  • Observação dos comportamentos das vacas. Vacas em estresse térmico ficam mais tempo em pé (o que acarretam em maior probabilidade de desenvolvimento de problemas locomotivos, como laminite ou claudicação), buscam áreas de melhor ventilação (cuidado com as vacas dominantes, elas buscarão as melhores áreas, deixando as demais em condições piores), reduzem ingestão de alimentos (podendo chegar em até 50% em vacas não resfriadas) e a ruminação (cuidado, grande possibilidade de desenvolvimento de doenças metabólicas), aumentam o consumo de água, entre outros.
     
  • Seleção genética de animais termotolerantes ao calor em raças de alta produção, com pelos lisos e pelagem branca.
     
  • Sistema de resfriamento na sala de espera (ordenha), com implantação de ventiladores (cuidar a altura a ser empregada os ventiladores), aspersores e sombra (deve possibilitar bloqueio UV de no mínimo 90%). Sistema deve ser acionado pelo menos 30 minutos antes da ordenha. Além disso, a metragem dessa área deve ser considerada, pois vacas sofrem quando estão aglomeradas, o que pode dificultar na perda de calor corporal.
     
  • Aspersores no corredor de saída da sala de ordenha, esse sistema deve ser considerado se houver oportunidade de molhar a vaca por completo pós a ordenha.
     
  • Sistema de resfriamento para vacas secas e no pré-parto. Vacas secas quando resfriadas com ventiladores mais aspersão na pista de alimentação, possuem posteriormente bezerro mais pesado, maior produção e qualidade do colostro, maior produção de leite e melhor sistema imune etc. 
     
  • Sistema de resfriamento pós-parto. Vacas resfriadas com ventiladores mais aspersão na pista de alimentação apresentam maior consumo de matéria seca e por consequência, maior produção de leite.
     
  • Para a perda do calor nas vacas na linha de cocho, a combinação de aspersores e ventiladores (3 m/s) é mais recomendado. Essa combinação é 5 vezes mais eficiente do que apenas aspersores ou ventiladores em vacas de alta produção.
     
  • Sistema de resfriamento em currais de enfermaria também devem ser incorporados.
     
  • Projetar e dimensionar os galpões para vacas leiteiras de acordo com as características geográficas e climáticas do local, com pé-direito alto (maior que 3 metros, para possibilitar melhor fluxo de ar natural), densidade de alojamento e baias proporcionais a quantidade, categoria e raça dos animais; ventiladores, nebulizadores e aspersores de acordo com o sistema implementado na propriedade; lanternim para a renovação contínua de ar (para cada 3 metros de largura do galpão considerar 5 cm de lanternim); orientação leste-oeste (para minimizar a exposição ao sol pela manhã e à tarde).
     
  • Em sistema de pressão negativa deve-se fazer limpeza periódica das placas evaporativas, controle dos exaustores, além dos defletores (proporcionar um tamanho adequado de acordo com a estrutura do galpão) para aumentar a velocidade do ar e direcionar o fluxo para os animais, como também, possibilitar um gerador em falta de energia.
     
  • O sistema de resfriamento com pressão negativo é uma excelente alternativa para perda de calor em altas temperaturas, entretanto, na região Sul, a umidade do ar pode ser uma limitação do sistema. Pois, conforme aumenta a umidade do ambiente, a capacidade de entrada de ar fresco no galpão diminui.  
     
  • Em sistema de confinamento aberto e com uso de ventiladores que apresentam a utilização de robô, este sistema dificulta o uso de resfriamento com aspersores e ventiladores antes da ordenha. Talvez uma solução no uso do robô em relação ao estresse térmico, seja o planejamento de um galpão fechado com pressão negativa. Entretanto, esse sistema tem um alto custo de instalação.
     
  • Os telhados recebem grande quantidade de radiação solar que são transmitidas para o interior da instalação. A utilização de isolante térmico (XPS) em galpões auxilia no bloqueio da radiação, mas uma limitação ainda é o custo de implantação.
     
  • Fornecimento de sombra aos animais para a proteção da radiação solar ainda é um dos recursos mais acessíveis (mais de 5 m2/animal). As sombras naturais apresentam bons resultados no bloqueio da radiação e do resfriamento do ambiente em comparação a sombra artificial.
     
  • Em sistemas a base de pastagem uma alternativa que vem demostrando bons resultados e reduzindo a radiação solar sob as vacas é a implantação do sistema silvipastoril.
     
  • Propriedades que apresentam pivô central podem utilizar o mesmo para o resfriamento evaporativo dos animais. Entretanto, em dias que não há movimentação do vento adequadamente, o sistema pode não resfriar adequadamente as vacas. Mas, é uma alternativa interessante a ser considerada.
     
  • Vacas em estresse térmico aumentam o consumo de água para a termorregulação, dessa forma, o fornecimento adequado de bebedouros a quantidade de animais, raça, categoria torna-se essencial. Recomenda-se que os cochos de água fiquem a sombra.
     
  • Reduzir a distância que as vacas caminham até o acesso ao alimento e a água, se possível;
     
  • Modificações nutricionais devem ser realizadas para ajudar os animais a manter a homeostase, além de auxiliar o sistema imune com a suplementação de vitamina E e selênio. Minerais, como manganês, zinco, fósforo e selênio mostraram melhorar o estado metabólico e melhorar a saúde geral das vacas leiteiras.
     
  • As vacas comem nas horas mais frescas do dia, dessa forma, o pastejo noturno ou o fornecimento de mais alimentos a noite é uma estratégia interessante.

Diante disso, a modificação do microambiente, visando a perda de calor dos animais para aliviar o estresse térmico é uma das medidas mais importantes a serem consideradas. Com as melhorias no ambiente, os produtores de leite da região Sul conseguem alcançar o retorno econômico investido, além de conseguir resultados significativos no seu sistema produtivo.

             

Referências Bibliográficas

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Herbut, P., Hoffmann, G., Angrecka, S., Godyn, D., Vieira, FMC, Adamczyk, K., & Kupczynski, R. (2021). Os efeitos do estresse calórico no comportamento de vacas leiteiras – uma revisão. Annals of Animal Science , 21 (2), 385-402.

Joo, S. S., Lee, S. J., Park, D. S., Kim, D. H., Gu, B. H., Park, Y. J., ... & Kim, E. T. (2021). Changes in blood metabolites and immune cells in holstein and jersey dairy cows by heat stress. Animals11(4), 974.

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Marumo, J. L., Lusseau, D., Speakman, J. R., Mackie, M., & Hambly, C. (2021). Influence of environmental factors and parity on milk yield dynamics in barn-housed dairy cattle. Journal of dairy science.

Oliveira, Z. B., Silva, C. M., Souza, I. J., Link, T. T., & Bottega, E. L. (2018). Cenários de mudanças climáticas e seus impactos na produção leiteira no Sul do Brasil. Revista Brasileira de Engenharia de Biossistemas12(2), 110-121.

Pilatti, J. A., Vieira, F. M. C., Rankrape, F., & Vismara, E. S. (2019). Diurnal behaviors and herd characteristics of dairy cows housed in a compost-bedded pack barn system under hot and humid conditions. animal13(2), 399-406.

Recce, S., Huber, E., Notaro, U. S., Rodríguez, F. M., Ortega, H. H., Rey, F., ... & Salvetti, N. R. (2021). Association between heat stress during intrauterine development and the calving-to-conception and calving-to-first-service intervals in Holstein cows. Theriogenology162, 95-104.

Subtil, S. A. (2018). Estresse térmico e produção de leite em região de clima temperado e subtropical. Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Leite e Derivados-UNOPAR.

KAREN DAL MAGRO FRIGERI

FREDERICO MÁRCIO CORRÊA VIEIRA

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CÁSSIO RODRIGO GEHRKE

AUGUSTO PESTANA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/03/2022

Assunto de extrema importância, parabéns aos autores

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