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Gerenciamento de índices em fazendas: conforto e ambiência, parte I

POR JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

COWTECH

EM 17/09/2018

9 MIN DE LEITURA

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Você sabe qual é a importância de gerenciar índices de conforto e ambiência na hora de produzir leite? 

A produção de leite é dependente de uma série de fatores conjugados que precisam ser combinados de forma adequada para que possamos obter resultados positivos. Analisando sistemas de produção em andamento, encontramos muitas vezes dentro de uma unidade produtora alguns setores desequilibrados com indicadores negativos ou deficiências que acabam por comprometer o sucesso global do empreendimento ou limitando a produção.

Em determinados casos nos deparamos com projetos muito bem elaborados para um dado setor, porém deficitários para outros, gerando desequilíbrios e índices não sustentáveis ao longo prazo. O presente artigo (que está dividido em duas partes) tem como objetivo destacar a importância e papel do conforto térmico e ambiência em fazendas produtoras de leite.

Procuraremos esclarecer e oferecer respostas para perguntas importantes como: O que devemos observar quando buscamos conforto animal? Como podemos mensurar conforto? Qual a expectativa de resposta com bons projetos envolvendo conforto e ambiência (climatização) e alguns índices de referência para avaliação de sistemas climatizados de produção de leite.

Quando visitamos sistemas de produção de leite é comum nos depararmos com projetos deficientes ou incompletos em termos de conforto para os animais. Todo produtor quando é convidado a realizar um investimento em conforto costuma realizar a pergunta: “Ok, estou sendo convidado a investir em conforto... mas qual será o retorno que eu terei em produção de leite?”. Primeiramente devemos responder a algumas perguntas básicas, como:

  1. O que é conforto térmico?
  2. Como mensurar conforto térmico?
  3. Quais categorias devemos atender em termos de conforto térmico?
  4. Qual é a expectativa de resposta em termos de produção com projetos envolvendo conforto térmico e ambiência animal?
  5. Quais são os tipos de projetos de climatização mais comuns/utilizados e onde climatizar, primeiramente, para melhores resultados?

Mediante levantamento de ganho médio (expectativa) em produção (que irá depender do projeto a ser escolhido/realizado) frente o valor do investimento a ser realizado, na maioria dos casos há um payback (tempo de retorno) bem interessante envolvendo a climatização de unidades produtoras de leite.

O que é conforto térmico?

Conforto térmico nada mais é do que a condição, em termos ambientais, em que conseguimos proporcionar bem-estar para os animais, com maximização da ingestão de alimentos e resposta eficiente em termos de produção de leite, condizente com o mérito genético do rebanho em questão, instalações e manejo como um todo de uma dada propriedade.

Para que uma vaca produza bem leite, é necessário que ela não esteja passando por processo de estresse térmico. Caso contrário, a sua produção de leite é afetada.

Por que a produção de leite é reduzida no verão ou em condições desafiadoras de calor e umidade? Temos que ter o conhecimento de que a vaca de leite, com anos de melhoramento genético, transformou-se numa verdadeira “máquina de produção” munida de um potente “motor” interno capaz de gerar calor.

Esse “motor” podemos chamar de aparelho digestivo, no qual destacamos o rúmen como importante componente e reservatório de alimento que - quando cheio - aumenta a temperatura corporal do animal. Vacas leiteiras são animais limitados e pouco eficientes em termos de troca de calor.

Quanto mais produtoras, mais sensíveis são às condições adversas ambientais; traduzidas por alta umidade e temperatura (= verão tropical). Mesmo animais cruzados com sangue zebu e, teoricamente mais adaptados ao calor, sofrem com o calor tropical.

Quanto maior for a temperatura média e volume de precipitação anuais, mais desafiador será o projeto em termos de climatização. Chamamos de zona de termoneutralidade a faixa de temperatura na qual a produção de leite não é afetada pelo calor e a temperatura corporal não é afetada pelo mesmo. Para projetos envolvendo animais especializados, no caso vacas da raça Holandesa, consideramos a amplitude de 4° a 26°C (Huber, 1990).

Algumas raças são mais resistentes ao calor

Pardo suíças e Jerseys deixam a termoneutralidade a partir dos 27°C e as raças zebus, mais resistentes ao calor, suportam temperaturas mais elevadas, de fato, deixando essa zona a partir de 32°C. Muitas fazendas comerciais especializadas estão trabalhando com valores diferentes sendo considerada a amplitude de 5° a 15°C como zona de conforto térmico para vacas em produção.

Os desafios e cuidados envolvendo um projeto de climatização são muito importantes, não somente pela consequência direta = queda de produção por menor consumo de alimento, como pelas perdas indiretas = perdas reprodutivas. Inúmeros estudos já comprovaram que animais em condições de estresse térmico apresentam piores índices reprodutivos por diferentes fatores que vão desde perdas embrionárias ao pleno anestro (ausência de manifestação de cio).

Quando pensamos em produção de leite competitiva e sustentável num país tropical como o Brasil é, praticamente, impossível delinearmos um bom projeto ou encontrarmos um caso de sucesso sem um bom modelo maximizando conforto, ambiência e climatização.

Cabe aqui ressaltar que muitos produtores associam conforto somente à climatização de ambientes (instalações) e uso de aparelhos como ventiladores e aspersores, mas devemos pensar, sempre, em conforto como um conjunto de medidas que vão desde cuidados básicos como fornecimento de água em quantidade e qualidade adequada ao sombreamento natural existente e, posteriormente, à climatização de ambientes.

Pelo fato do leite ser composto por, praticamente, 90% de água, esta assume um importante papel não somente via composição do leite, mas também, como meio para troca de calor. Através da ingestão de água, as vacas também procuram se refrigerar e trocar calor.

O consumo de água no verão pode sofrer incremento de 30 a 40% em relação ao inverno em regiões mais quentes (na proporção de 3 litros de água para 1 litro de leite). Dessa forma, um animal produzindo 30 litros de leite por dia deve consumir 90 litros de água. Em condições desafiadoras, o animal pode passar a consumir de 3,9 a 4,2L de água/L de leite.

Logo é fundamental garantirmos sempre bom acesso à água em quantidade e qualidade, além de dispormos os bebedouros em locais estratégicos e importantes como sala de espera e - principalmente - saída da ordenha.

Independentemente do sistema de produção em vigência, a pasto, misto ou confinamento total, cuidados com ambiência são fundamentais e perguntas importantes devem ser respondidas como: onde os animais permanecerão durante o dia? Onde os animais permanecerão durante a ordenha? Qual será o tamanho da sala de espera? Quanto tempo levará para os animais deixarem seus piquetes e retornarem aos mesmos (ou à uma determinada instalação)?

Para animais em sistemas a pasto, é necessário criar alternativas para sombreamento como o natural (árvores), artificial (sombrites, móveis ou fixo) ou mesmo disponibilizar locais cobertos para os animais se resguardarem na maior parte do dia. No caso da exploração leiteira à pasto, mesmo com rebanhos mais rústicos nas horas mais quentes do dia (10:00 às 16:00hs), é comum não termos quase atividade de pastejo ou pastejo pouco efetivo/eficiente.

Logo, o calor acaba sendo um grande vilão da ingestão de matéria-seca via forragem/pastejo, sobrecarregando o pastejo noturno, que passa a ser o único momento do dia capaz de garantir um maior consumo de volumoso nesse sistema.

Em sistemas de produção à pasto, devemos dar atenção especial ao projeto e dimensionamento de salas de ordenha que devem ser montadas em locais adequados e estratégicos em relação os piquetes, garantindo o menor deslocamento dos animais.

Também é importante um bom projeto de climatização da sala de espera, que passa a ser um importante local para a refrigeração e resfriamento dos animais na estação mais quente do ano (verão).

Como mensurar conforto térmico?

A primeira maneira de avaliarmos o estresse térmico é muito simples. Trata-se do acompanhamento e análise visual dos nossos animais em termos de reações físicas e comportamentais. Os maiores “dedos-duro” das condições inadequadas de ambiência são os ciclos respiratórios (movimentos/minuto).

A famosa respiração acelerada ou mesmo maior salivação e sinais como boca aberta e língua para fora, são evidências clínicas de uma situação crítica de estresse.

É importante destacar que não precisamos nem devemos esperar sinais clínicos de estresse para evitar o mesmo. Mesmo em condições de estresse moderado, a produção de leite já é afetada. Obviamente que, quanto maior for o estresse imposto, maiores serão as perdas produtivas.

O estresse térmico costuma “derrubar” a produção de leite por um fator muito simples e direto que é a menor ingestão de alimento dos animais por conta do calor.

Muitos produtores se preocupam com a nutrição do rebanho, principalmente das vacas (lotes) em produção. O impacto produtivo de um bom programa nutricional tende a ser direto, no entanto, para que possamos ter resultados com boa nutrição, é preciso criar condições para que os animais consumam o que é programado.

Essa condição, por sua vez, é dependente do manejo em termos de conforto térmico/ambiental oferecido aos animais.

Tabela 1. Temperatura corporal (retal) e ciclos respiratórios.

A temperatura corporal dos animais costuma aumentar em períodos de estresse, assim como a quantidade de ciclos (movimentos) respiratórios por minuto. A tabela acima, extraída de trabalho de pesquisa publicado a partir de dados gerados em fazenda comercial em São Pedro-SP, revela essa associação.

Para a maioria dos projetos envolvendo ambiência, a “moeda” discutida é a temperatura do ambiente (ar). Por lógica, quanto mais elevada for esta, maior o estresse. Devemos ponderar que, para sistemas de produção instalados em regiões tropicais o fator umidade é muito importante e nem sempre avaliado/considerado.

De acordo com trabalhos publicados e resultados experimentais, não basta mensurarmos apenas o calor (altas temperaturas). Está comprovado que as piores condições enfrentadas pelas vacas envolvem o binômio: temperatura + umidade. Para mensurarmos o impacto da umidade devemos trabalhar com dados de THI (Temperature and Humidity Index), ou seja, índice de temperatura e umidade (ITU). O índice THI pode ser calculado pela equação abaixo:

THI = tdb + 0,36 x tdp + 41,5

Onde:

THI = temperature and humidity index (Índice de Temperatura e Umidade = ITU)
tdb = temperatura do termômetro de bulbo seco
tdp = temperatura no ponto de orvalho

O termômetro de bulbo seco mede a temperatura do ar, enquanto que a temperatura em ponto de orvalho é aquela definida na qual o ar deve ser resfriado para que a condensação se inicie, ou seja, o momento em que o ar fica saturado de vapor de água (temperatura na qual o ar se transforma em vapor).

Tecnicamente, podemos dizer que a temperatura em ponto de orvalho é aquela em que a umidade relativa da massa de ar atinge 100%. Para mensuramos as condições de estresse, consideramos como limite um THI acima de 72. Acima dessa marca, temos condições para estresse térmico.

Analisando o gráfico acima, fica claro o impacto da umidade em relação à temperatura. A linha vermelha expressa um THI elevado de 82. Ele pode ocorrer com cerca de 36°C x 30%, bem como pode acontecer com uma umidade relativa do ar (UR)  de 60% e uma temperatura de quase 32°C.

No extremo oposto, temos esse mesmo THI de 82 com 28°C x 95% de UR. A medição do THI em fazendas não é muito comum em função da falta de equipamentos adequados para leitura, porém o produtor pode recorrer à tabela abaixo para a estimativa:

A tabela acima representa diferentes condições de estresse térmico via THI. Por meio dela, podemos fazer uma análise comparativa e melhor percebermos os efeitos adversos de elevadas temperaturas com alta umidade.

Por exemplo, com 27°C e 60% de UR, temos um THI de 76. Com 30,5°C e 30% de UR, temos os mesmos 76 de THI, ou seja, é melhor termos uma temperatura mais elevada com tempo seco do que uma temperatura mais baixa, porém, com maior umidade.

Confira parte II deste artigo!

Autor:

João Paulo V. Alves dos Santos, Engenheiro Agrônomo da Cowtech Consultoria e Planejamento Ltda.

JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

Espaço para artigos e debates técnicos expostos por especialistas e equipe de consultores.

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