Nos últimos anos desenvolveu-se em Israel um índice de “Relação Verão:Inverno”, que permite avaliar a eficiência do uso de meios de resfriamento para combater o estresse térmico nas fazendas leiteiras. Este índice avalia o rendimento no verão com relação ao inverno (considerando o inverno como base).
Ele é incluído em um relatório anual, que se apresenta a cada fazenda leiteira que participa do banco central de dados do “Livro do Rebanho Israelita”, administrado pela Associação de Produtores Leiteiros de Israel (ICBA).
O índice analisa médias corrigidas de produção de leite, preço do leite corrigido (ECM), gordura, proteína, células somáticas (CCS) e taxa de concepção durante o inverno e verão. Com base nesse relatório, determinam-se as prioridades de assistência técnica, concentrando e focando os esforços nas fazendas leiteiras com resultados mais pobres.
As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam dados do Livro do Rebanho Israelita em 2014, nos quais se compara o Índice de relação Verão:Inverno em fazendas familiares pequenas (Moshav) com 2 ou 3 ordenhas/dia e fazendas cooperativas grandes (Kibbutz) com 3 ordenhas/dia (Tabela 1), rebanhos de diferentes níveis de produção anual – alta, média e baixa (Tabela 2) e fazendas leiteiras localizadas em diferentes regiões do país (Tabela 3).
Tabela 1 – Índice de relação Verão:Inverno em fazendas familiares e cooperativas
Tabela 2 – Índice de relação Verão:Inverno em fazendas cooperativas grandes de diferentes níveis de produção anual por vaca.
Tabela 3: Índice de relação Verão:Inverno em fazendas cooperativas grandes em regiões com verões extremamente frescos (montanhas) e quentes (Vale do Jordão).
Pelo apresentado nas tabelas 1, 2 e 3, pode-se ver que as vacas em ambos os setores (Moshav e Kibbutz) conseguem no verão um índice de 0,92-0,94 na relação percentual de leite por vaca, comparado com a do inverno. Em ambos os setores, as vacas perdem 2% a 3% de gordura e proteína nas lactações de verão.
A taxa de concepção no inverno supera em ambos os setores os 40%, enquanto no verão a taxa se reduz a quase metade, baixando um pouco mais nas fazendas leiteiras familiares em comparação às fazendas leiteiras cooperativas (17% e 20%, respectivamente), possivelmente pelo melhor manejo realizado nas fazendas grandes.
Comparando as diferentes fazendas de acordo com o nível de produção (nível de produção de leite anual), observamos que os resultados da relação Verão:Inverno foram melhores nas de alta produtividade, comparado com as de média e baixa produtividade. Isso é devido possivelmente ao melhor manejo e, inclusive, ao melhor uso de sistemas de resfriamento nessas fazendas.
Comparando os resultados nas diferentes regiões do país, vemos as vantagens que a região montanhosa (mais fresca) tem sobre as demais regiões, mas sobretudo, sobre a região extremamente quente do Vale do Jordão.
Um dos fatores mais importantes desse ponto de vista econômico é a fertilidade das vacas. O índice de relação V:I pode nos ajudar a classificar as diferentes fazendas leiteiras na forma como combatem o estresse calórico e como base para avaliar de forma indireta o efeito do resfriamento das vacas no verão na taxa de concepção.
Para realizar esse estudo, foram escolhidas 15 fazendas leiteiras com a relação V:I mais alta e mais baixa, com base no Livro do Rebanho Israelita em 2014 e se compararam os parâmetros produtivos e reprodutivos dos mesmos. Os resultados estão mostrados na Tabela 4.
Tabela 4: Parâmetros produtivos e reprodutivos das vacas nas 15 fazendas leiteiras cooperativas grandes com a relação V:I mais alta e a mais baixa em 2014.
Pelo apresentado na Tabela 4, pode-se observar que quase não há diferença no potencial produtivo, entre os 2 grupos de fazendas leiteiras e a produção média por vaca nos meses de inverno, nos dois grupos de fazendas oscila ao redor dos 42 quilos por vaca/dia. Nas fazendas leiteiras de “relação alta”, muito provável que devido ao bom manejo de resfriamento, a produção média nos meses de verão quase não baixa e se mantém em 41,5 quilos/vaca/dia. Ao mesmo tempo, nas fazendas leiteiras que provavelmente não manejam bem o resfriamento, a produção média por vaca baixa no verão em 12% em comparação com a do inverno e as vacas perdem quase 5 quilos diários de sua produção de leite comparando-a com o inverno.
É interessante notar como se comporta a fertilidade das vacas nesses grupos e isso pode ser visto na mesma Tabela 4. A taxa de concepção em ambos os grupos supera os 40% e não difere muito entre eles no inverno. Nos meses de verão, a taxa de concepção baixa em 27 pontos percentuais, para 14%, nas fazendas leiteiras que provavelmente não resfriam bem as vacas enquanto, no grupo de fazendas que provavelmente conseguem fazer isso, a taxa de concepção baixa menos e chega a 26% no verão (12 pontos percentuais acima da das fazendas do outro grupo).
Não há dúvida de que o bom resfriamento no verão ajuda a obter melhor produção e a taxa de concepção no verão. Porém, isso é somente em média. Ao estudar os dados de uma forma um pouco diferente, foram analisados os dados das 30 fazendas com a relação V:I mais alta e mais baixa. Entre as 30 fazendas com a relação baixa (< 0,92), 9 fazendas obtiveram no verão uma taxa de concepção acima de 20% (30% do grupo), enquanto o resto do grupo obteve taxa de concepção abaixo de 20% (70% do grupo). Entre as 30 fazendas com a relação mais alta (> 0,98), 14 fazendas obtiveram taxa de concepção abaixo de 20% no verão (45% do grupo), quando 9 fazendas obtiveram uma taxa de concepção maior de 30% no verão (30% do grupo).
Dos dados apresentados, aprendemos que o bom resfriamento no verão e a relação alta de produção de leite entre o verão e o inverno talvez aumentem a probabilidade de obter uma melhor taxa de concepção no verão, mas não se pode garantir. Vemos pelo menos um terço das fazendas leiteiras que obtêm uma boa relação V:I e que, provavelmente, resfriam bem as vacas no verão, mas não conseguem ter ao mesmo tempo boa taxa de concepção.
Pode-se concluir dizendo que, talvez, o bom resfriamento seja um requisito importante para conseguir ter uma boa fertilidade no verão, mas não se pode garantir, já que não é o único fator que influi nesse parâmetro. Muito provável é que, ao apresentar-se boas condições de manejo de alimentação, de fertilidade e de inseminação, o bom resfriamento no verão ajude a melhorar a taxa de concepção.