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O ordenhador e os índices produtivos da fazenda leiteira

POR DANIEL AUGUSTO BARRETA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/04/2021

3 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 26/04/2021

Arrisco-me a dizer que a atividade leiteria é aquela cuja interação entre o homem e o animal é a mais íntima quando comparada a outros animais de produção.

Pelo menos duas vezes ao dia, as vacas leiteiras entram em contato direto com o ordenhador e com o tratador na sala de alimentação. Nesse sentido, além da dieta e do conforto térmico, a influência humana nesta interação homem-animal é crucial na manutenção de um ambiente harmônico que promova o bem-estar animal.

Em relação ao comportamento, se a relação entre o tratador e os animais for positiva e de confiança, estes podem associar o humano a uma recompensa, como oferecer alimento, por exemplo.

Por outro lado, interações negativas estão associadas a punições e fazem com que os animais evitem aproximação. Esta reatividade ocorre devido à manutenção de algumas características comportamentais primitivas dos ruminantes, que levam à fuga de situações adversas.

Em um trabalho realizado em Santa Catarina, os pesquisadores compararam a distância de fuga de vacas leiteiras à dois tratadores, um denominado de “neutro” e outro denominado de “aversivo” que por sua vez aplicava dois tapas de cada lado da garupa, e a cada tapa, um grito, no momento da ordenha.

Este manejo foi realizado por 21 dias e depois disso os tratadores foram isolados dos animais por 180 dias. Mesmo após este período, quando os tratadores retornaram, os animais apresentaram maior distância de fuga do tratador aversivo em relação ao neutro. Além disso, os autores verificaram que vacas submetidas a tratamentos agressivos podem defecar até seis vezes mais no momento da ordenha em comparação a animais mantidos em condições neutras (Hötzel et al., 2005).

Essa constatação pode nos suspeitar uma hipótese de retroalimentação, ou seja, tratadores combativos estimulam os animais a defecar mais durante a ordenha, acontecimento que pode alimentar uma aversão dos trabalhadores ao procedimento de ordenha (ou ao trabalho como um todo) e induzir a manutenção de ações indesejáveis.

Até este ponto constatamos que as atividades dos ordenhadores influenciam o bem-estar e o comportamento das vacas, mas qual a relação com a produção?

Com o objetivo de quantificar esta influência, Rosa et al. (2004) avaliaram o efeito da interação do tratador com as vacas leiteiras na condução da sala de espera à sala de ordenha.

As ações de “conversar” e encostar levemente nos animais foram consideradas positivas enquanto as ações de bater, gritar, empurrar e torcer a cauda foram consideradas negativas. Como resultado, os animais conduzidos de forma tranquila produziram cerca de 700 gramas a mais de leite por ordenha em relação aos demais.

Outros autores afirmam que até 20% da variação do rendimento de leite pode ser explicada pelo medo dos animais aos tratadores.

Este manejo agressivo por parte dos envolvidos, seja mão de obra contratada ou familiar, está enraizado em conceitos tradicionais e errados de que o uso de objetos e gritos com os animais acelera o manejo.

Em oposição, trabalhadores contentes com o ofício tendem a ter um relacionamento melhor com as vacas e consequentemente melhores índices produtivos, quando comparados aos índices de fazendas com manejo adverso ou com grande fluxo de funcionários.

Além de produção de leite, a “harmonia” da interação decorre em outros efeitos, como a saúde do úbere, por exemplo. Interações positivas podem promover menor contagem de células somáticas do leite enquanto interações agressivas podem aumentar a ocorrência de processos infecciosos, como por exemplo a mastite, além disso, a mera presença de um desconhecido no momento da ordenha é capaz de aumentar o leite residual pós ordenha, e com isso favorecer a ocorrência de mastite (Rushen et al., 1999).

Para finalizar, estas informações nos permitem refletir de que a manutenção da produtividade de sistemas de produção de leite passa impreterivelmente pelo estabelecimento de relações positivas entre o homem e os animais, que vão além da oferta de conforto térmico e alimentação de qualidade.

Alcançar este status exige qualificação profissional e reconhecimento da importância (e monetário) da função de tratador/ordenhador, pois sua influência pode ser determinante na lucratividade de uma propriedade.

 

Referências
HÖTZEL, M. J. et al. Influência de um Ordenhador Aversivo sobre a Produção Leiteira de Vacas da Raça Holandesa. Revista Brasileira de Zootecnia, n.4, p.1278-1284, 2005.

ROSA, M. S. et al. A importância das ações dos retireiros na condução de vacas da sala de espera para a de ordenha. IN: XXII Encontro Anual de Etologia, 2004, Campo Grande.

RUSHEN, J. et al. Fear of people by cows and effects on milk yield, behavior, and heart rate at milking. Journal Dairy Science, v.82, n.4, p.720-727, 1999.

DANIEL AUGUSTO BARRETA

Zootecnista, Núcleo de Pesquisa em Pastagem - UDESC/CAV

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GALDENIA LIMA

NOSSA SENHORA DA GLÓRIA - SERGIPE - ESTUDANTE

EM 18/05/2021

Bom dia, gostaria primordialmente de agradecer pela publicação de artigos tão relevantes para produção de conhecimento e com certeza entender a situação prática de muitas propriedades, sou estudante de zootecnia e desde já agradeço por compartilhar material como este que vai ajudar bastante na confecção do meu TCC, que por sinal é na área de bovinocultura leiteira, área de produção que amo e com certeza é o que quero seguir na minha vida profissional.
DANIEL AUGUSTO BARRETA

XANXERÊ - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 18/05/2021

Olá Galdenia, fico contente que os artigos tenham colaborado no seu entendimento, somos colegas de formação e somente esforços conjuntos nos permitem avançar na atividade leiteira.

Desejo sucesso!


Att.
HENIO WARLLEI DA LUZ E SILVA

TRINDADE - GOIÁS - ESTUDANTE

EM 17/05/2021

Boa tarde,

Excelente artigo.
Estou estudando para entrar no ramo da pecuária leiteira e de corte.

Atenciosamente,

Henio Warllei
DANIEL AUGUSTO BARRETA

XANXERÊ - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 17/05/2021

Obrigado Henio, o seu comentário reflete uma visão importante da cadeia do leite "estou estudando para..."

Desejo sucesso.


Att.
GERALDO NORONHA

CONTAGEM - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 29/04/2021

Muito bom o artigo. Mostra todas nuanças e complexidades no que tange a questão de relação de produtividade leiteira. Parabéns!
DANIEL AUGUSTO BARRETA

XANXERÊ - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 29/04/2021

Obrigado pelas considerações Geraldo, um grande abraço!
FABRÍCIO

VESPASIANO CORREA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/04/2021

Parabéns pela publicação, muito oportuna. Buscamos este manejo racional em nossa propriedade familiar e as vezes acabamos tendo dificuldades na condução de alguns animais, pois se tornam extremamente lentos e "empacados", diante deste manejo calmo, sem gritos e movimentos bruscos. Procuramos utilizar o assovio como forma de nós comunicarmos, mas por vezes parece insuficiente e elas não andam. Haveria alguma outra forma de manejo que pudesse auxiliar com animais mais lentos?
DANIEL AUGUSTO BARRETA

XANXERÊ - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 28/04/2021

Olá Fabrício, obrigado por compartilhar sua experiência. Neste caso talvez uma saída seja identificar o possível causador desta lentidão (situação dos corredores, problemas de casco ou até mesmo inserção de úbere... ou seja, situações em que o animal pode sentir dor ao caminhar). Ainda quanto aos animais lentos, talvez já estejam condicionados com as pessoas que os manejam, o que os torna pouco reativos.. Já vi alguns casos em que as pessoas caminhavam à frente destes animais e utilizavam um pequeno balde com concentrado para "estimular" o movimento. Contudo, não vejo no momento uma alternativa muito diferente de paciência..

Espero ter contribuído, e sinta-se à vontade em compartilhar a experiência, caso encontre uma maneira de melhorar a condução dos animais.

Abraços, Daniel

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