O período pós-parto é uma fase delicada, pois a vaca está aumentando a produção de leite enquanto o rúmen está pequeno e portanto a ingestão ainda está limitada, determinando o que chamamos de balanço energético negativo (é como se a vaca estivesse usando o cheque especial ou suas reservas para manter a produção de leite). Isso é fisiológico, ou seja, normal para o período, mas é preciso um manejo nutricional adequado além de um olhar especial para a reprodução e assim evitar futuros problemas.
Pós-parto e a condição corporal de vacas leiteiras
O consultor e veterinário Leonardo da Silva Dantas diz que “O Escore de Condição Corporal (ECC) nada mais é que um indicador que avalia, de forma geral, o estado nutricional da vaca frente a uma etapa de sua vida produtiva. Dessa forma, o valor sozinho, sem uma referência do status produtivo da vaca, não quer dizer nada. A variação de 1 a 5 é a mais comumente utilizada, com intervalos de 0,25 pontos entre cada nota.” Observe as figuras abaixo:
Além de todo cuidado no pré-parto, que não é assunto novo (conforto, dieta, monitoramento, vacinação, etc), é preciso pensar no ciclo completo de parto à parto. O próprio parto já é um momento muito estressante no ciclo produtivo das vacas. Elas passam por alterações hormonais, nutricionais, mudanças na condição corporal, ficando também suscetíveis à doenças.
Qual a condição que se espera de uma vaca ao parto?
Dantas explica que “O problema de uma vaca magra demais parece óbvio: ou está doente ou passando fome. Mas e uma vaca gorda? Aliás, o que é uma vaca gorda? Atualmente (digo isso porque no passado não era bem assim...) preconizamos que uma vaca antes do parto deveria estar com ECC entre 3,25 e 3,5. Isso NÃO É uma vaca gorda!! Excesso de gordura corporal antes do parto (ECC acima de 3,75) vai predispor a ocorrência de distúrbios metabólicos que vão comprometer a saúde e lactação dessa vaca. Uma vaca parindo gorda come menos no pós-parto e essa condição favorece acúmulo de gordura no fígado: comendo menos, a vaca acaba por perder peso e “queimar” gordura corporal que em excesso se acumula no fígado. A isso se dá o nome de cetose, doença metabólica que vai levar a um consumo ainda menor!! A produção leiteira ficará comprometida e a reprodução nessa lactação será muito prejudicada. Cria-se um ciclo vicioso, pois ao atrasar sua reprodução, a vaca acaba por emprenhar gorda (com DEL alto) e terá novamente alto risco de parir gorda e ficar doente no pós parto…”
Quando falamos de ECC adequado ao parto trata-se de algo em torno de 3,25 (veja a figura novamente). Evidentemente um gado mais girolando merece um desconto já que tenderá sempre a ter um escore mais alto. Porém a preocupação em relação ao escore ao parto está ligada ao consumo de matéria seca no pós-parto (que vai puxar leite obviamente) como confirma Leonardo:
“... uma vaca (ou novilha, desde o primeiro parto) parindo em ECC adequado (3,25, por exemplo) tem maior consumo pós parto e com isso menor queima de gordura corporal, menor chance de cetose. Sua produção leiteira não será prejudicada e sua eficiência reprodutiva será normal. Emprenhando rapidamente (com DEL entre 70 e 90) terá um intervalo entre partos de 12 meses, de forma a não ganhar peso excessivo na lactação e entrando no pré- parto com ECC adequada novamente. Esse é o ciclo virtuoso.” Portanto é importantíssimo pensar em como o rebanho está ganhando e perdendo peso, especialmente por conta de atrasos na reprodução. Olhe na sua lista de vacas em lactação, preste atenção nas vacas gordas e observe o DEL delas, provavelmente são animais que tardaram em emprenhar ou tiveram problemas no parto anterior.
Dantas ainda complementa que “inúmeros fatores vão contribuir para que a vaca ganhe peso em excesso: nutrição desbalanceada, genética, abortos que atrasam sua reprodução, falhas na inseminação que levem ao atraso na prenhez (aqui cabe lembrar do estresse térmico!). O importante é estar sempre com a maior proporção de seu rebanho mais dentro do ciclo virtuoso que do ciclo vicioso!! Cada produtor deve traçar suas estratégias, com as ferramentas que tiver em mãos e com auxílio de um bom técnico.” Ou seja, olhar o rebanho como um todo e saber que estamos atacando o inimigo correto, isto é a preocupação não deveria ser prioritariamente em emagrecer vacas (especialmente no período seco) e sim, não deixar que elas ganhem tanto peso.
Vacas que ganham muito peso antes do parto apresentam uma redução na produção de leite, aumento do hormônio leptina que diminui seu apetite e uma tendência maior a distúrbios metabólicos como cetose, gordura no fígado, deslocamento do abomaso, além de apresentar baixa resistência a agentes patológicos.
Portanto, monitorar a condição corporal das vacas em toda a lactação é crucial para evitar problemas sempre pensando a nos três estádios da curva de lactação - pois as exigências nutricionais são distintas para cada um deles, e como mencionado, entender o estágio reprodutivo e produtivo é fundamental para garantir uma boa saúde das vacas em seu pós-parto. Sendo assim, vacas não obesas se recuperam melhor após o parto.
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