Um artigo recente, publicado por pesquisadores do Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (INIA) do Uruguai, demonstrou que, manejando o pasto sob uma estratégia que visa obter alta taxa de ingestão de forragem, sim, é possível.
O estudo de Gareli et al. foi realizado na Estação La Estanzuela, do INIA, em Colonia, no país vizinho. Foram usadas 24 vacas holandesas em lactação de alto mérito genético, com peso médio de 550 kg, pastando Dactylis glomerata, uma gramínea perene de estação fria muito usada por lá, por 80 dias durante a primavera. O artigo “Effects of grazing management and concentrate supplementation on intake and milk production of dairy cows grazing orchardgrass” foi publicado na revista “Animal Feed Science and Technology” em maio de 2023.
No estudo, eles compararam duas estratégias manejo do pasto: alta taxa de ingestão e alta colheita de forragem por hectare, com e sem suplementação.
O tratamento para alta colheita de forragem por hectare, teve como critério de entrada no pasto o número de folhas por perfilho, entre 3 a 4, e a saída com 1 a 2 cm de lâmina foliar deixada em perfilhos pastejados (correspondente a alturas entre 7 e 11 cm). Isso resultou em um rebaixamento de 65%, com 15% de área não pastejada pelas vacas.
Já na estratégia para alta taxa de ingestão, a altura de entrada foi definida como 21 cm e a saída com um rebaixamento de 40%, mais moderado, portanto, com cerca de 30% de área não pastejada, correspondente à altura média de 13 cm, referências usadas no Rotatínuo.
24 litros por vaca/dia, à pasto e sem suplementação
Na estratégia baseada no número de folhas do pasto, buscando alta colheita de forragem por hectare, se alcançou 2 ciclos de pastejo com intervalo de 38 dias durante o experimento. Elas consumiram diariamente 14 kg de MS de um pasto com 19-23% de PB e 59% de FDN e produziram 19 litros/vaca/dia em média, porém, às custas de impacto negativo no escore corporal e causando perda de peso nas vacas.
Já no manejo de alta taxa de ingestão, os pastejos de menor intensidade e mais frequentes permitiram maior consumo de pasto de maior qualidade nutricional, 26% de PB e 59% de FDN em seus 5 ciclos, a cada 15 dias, durante o período do experimento. As vacas chegaram a um consumo diário de mais de 16 kg de MS de pasto por dia e produziram uma média de 24 litros/vaca/dia, somente com pasto, sem nada de suplementação.
Tabela 1 - Síntese de resultados obtidos sem suplementação, sob as duas estratégias de manejo do pasto.
Alta Taxa de Ingestão |
Alta Colheita de Forragem por Área |
|
Ciclos de Pastejo (nº) |
5 |
2 |
Período de descanso (dias) |
15 |
38 |
Consumo de MS (kg/vaca/dia) |
16.3 |
14.0 |
Litros/vaca/dia |
23.9 |
19.3 |
Ou seja, adotando a estratégia de maior taxa de ingestão, elas consumiram mais pasto e produziram 5 litros a mais por vaca/dia, ganhando ainda em escore corporal e peso. Vale observar que esse alto consumo de pasto implica em uma ingestão de quase 3% de MS e FDN acima de 1,7% do PV.
29 litros por vaca/dia, à pasto com baixa suplementação concentrada
Nos tratamentos com suplementação, além da comparação das estratégias de manejo do pasto, eles forneceram 4 kg de MS de ração comercial (em torno de 0,7% do PV). A quantidade de concentrado foi definida buscando minimizar possíveis efeitos substitutivos.
No manejo para alta colheita de forragem, quando ofertada a ração concentrada, o consumo de MS total da dieta chegou aos mesmos 16,3 kg que a outra estratégia de manejo, quando sem suplementação. A diferença de produtividade por vaca foi de 2,4 litros, chegando próximo de 22. Nesse caso, também foi resolvido o problema da perda de peso e de escore corporal que se obteve no tratamento sem suplementação.
Já no manejo para alta taxa de ingestão, a diferença para a alimentação sem suplementação foi de quase 5 litros, chegando próximo de 29 litros por vaca/dia, com o consumo de MS total chegando a 17,7 kg e também mantendo escore corporal.
Tabela 2 - Síntese de resultados obtidos com suplementação, sob as duas estratégias de manejo do pasto.
Alta Taxa de Ingestão |
Alta Colheita de Forragem por Área |
|
Consumo de MS do pasto (kg/vaca/dia) |
13,9 |
12,5 |
Consumo de MS Total (kg/vaca/dia) |
17,7 |
16,3 |
Litros/vaca/dia |
28,7 |
21,7 |
Ou seja, na estratégia de manejo do pasto para alta taxa de ingestão, com 0,7% do PV de suplementação concentrada, a produtividade animal chegou a 29 litros por vaca ao dia, explorando o potencial genético dos animais, valores significativamente superiores à outra estratégia de pastejo de maior intensidade.
Os autores analisam esses e outros resultados no artigo e concluem que, quando o objetivo for o desempenho animal, o pastejo priorizando a taxa de ingestão de forragem pelas vacas resulta em uma maior ingestão diária de forragem de maior valor nutritivo, o que leva a uma maior produção de leite e sólidos lácteos por vaca e aumentos no peso corporal da vaca, com ou sem suplementação concentrada.
Esse trabalho traz novas perspectivas para sistemas à base de pasto, demonstrando que é possível obter alto consumo de MS de pasto e produtividade de vacas de alto mérito genético à pasto com ou sem suplementação, ao empregar essa estratégia de alta taxa de ingestão no manejo.
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Referência:
Solange Gareli, Alejandro Mendoza, Nora M. Bello, Fernando A. Lattanzi, Santiago R. Fariña, Jean V. Savian, Effects of grazing management and concentrate supplementation on intake and milk production of dairy cows grazing orchardgrass, Animal Feed Science and Technology, Volume 301, 2023. https://doi.org/10.1016/j.anifeedsci.2023.115668