Ao falarmos da cadeia produtiva de leite, temos que analisar as dificuldades enfrentadas pelos pequenos e médios produtores rurais da atividade, desde os preços dos insumos utilizados na alimentação do rebanho, a importação de leite oriundo de outros países, a falta de incentivos a essa parcela de produtores que vem cada vez mais, sendo desmotivadas a permanecerem na pecuária leiteira.
Não é de hoje que o produtor sabe que para ter lucro precisa ter conhecimentos em gestão da produção, saber quais são seus custos variáveis, fixos e totais, conhecer seu rebanho, ter anotado todos os índices de produção, de reprodução, sanidade e de melhoramento genético dos animais e ter uma estrutura dentro da propriedade que permita facilitar o fluxo da produção.
O cuidado com o local de armazenagem dos insumos, desde os ligados à alimentação para evitar perdas (de pouquinho em pouquinho, no final do processo, o produtor já teve quilos de concentrados desperdiçados), a atenção ao controle de pragas no local, e os locais e formas de armazenamento de produtos.
O controle da qualidade do leite está ligado a um melhoramento contínuo da produção, com foco em entregar um produto de acordo com as exigências de mercado.
O controle dos índices de CCS (contagem de células somáticas), CBT (controle de bactéria total) e sólidos, influenciam de maneira direta nas características organolépticas dos produtos derivados de lácteos, e nos fatores ligados ao tempo maior de prateleira dos produtos e rendimento. Cito como exemplo, a fabricação de um queijo, e um leite de melhor qualidade impacta no volume de litros para obter um kg de queijo.
O pecuarista de leite pode fazer o uso de ferramentas que são simples e eficazes em gestão, cito como sugestão a análise SWOT ou FOFA, como é conhecida no Brasil, onde o produtor pode mapear quais são seus pontos fortes na produção (genética dos seus animais, pasto de boa qualidade, etc), podendo mantê-los, e ter conhecimento dos pontos fracos (alto índice de mastite nas vacas, leite com pouco teor de sólidos, etc), podendo assim, ajustar os índices que apresentam falhas para melhorar o fluxo de produção.
Diminuir os fatores que não podem ser alterados pelo produtor como, por exemplo, o alto preço dos insumos de alimentação ou uma nova instrução normativa, e buscar oportunidades de mercado considerando realizar turismo rural ou cruzamentos industriais, para que os bezerros machos no futuro possam apresentar boas condições de carcaça para o abate.
Atentando que o produtor que queira trabalhar com a bovinocultura de corte precisa conhecer as diretrizes de mercado muitas vezes diferentes das voltadas para a bovinocultura de leite.
Entretanto, os pequenos e médios produtores se perguntam se investir na sua produção é viável, já que, para um funcionamento adequado de uma cadeia de produção, é necessário que todos os elos da mesma trabalhem em conjunto e sejam aliados e não competidores, e possuam o mesmo objetivo a alcançar.
Cabe aos produtores rurais se unirem e cobrarem pela sua profissão, buscarem cada vez mais a gestão e a assistência técnica, não só em indicadores técnicos, mas em gestão da produção, análises de contratos e diretrizes de mercado, para seguir as orientações do mesmo, conhecer a sua produção e o seu produto, conseguir uma relação contratual com agroindústrias onde o poder de barganha seja bilateral e não unilateral como vemos atualmente.
O poder de barganha permite “desenhar” o contrato, para que beneficie ambos os lados e traga motivação à melhoria continua, buscando se associarem e cooperarem para a troca de informações, cooperações com empresas do setor e compras estratégicas para conseguir preços melhores.
Cabe a agroindústria investir mais no mix de marketing, na criação de embalagens melhores, linhas de produtos diversificados (orgânico, leite de pastagens, queijos finos) voltados para o mercado diferenciado, podendo criar um selo regional, canais de comunicação com seus clientes, com objetivo de mostrar o processo de extração de leite, etc.
Conhecer o seu consumidor e o que ele não conhece sobre o produto, desmistificando e solucionando dúvidas e inverdades sobre o leite, buscando estratégias de merchandising e se voltar às necessidades dos seus clientes.
Somente assim, o consumidor saberá dos benefícios que essa cadeia de produção traz economicamente ao local, gerando empregos dentro da propriedade e na fabricação e comercialização de insumos, na agroindústria e no varejo, evitando o êxodo rural e estimulando produtores que contribuem com questões ambientais e sociais, serem reconhecidos.
O agronegócio só é bom se beneficiar todos que pertencem a cadeia produtiva!
Autores
Areta Lúcia da Silva - Especialista em Administração e Negócios e Especialista em Administração da Produção e Logística (UNOESTE) Tecnóloga em Agronegócio (FATEC-MC) e estudante em MBA de Logística e Cadeia de Suprimentos (FACULDADE METROPOLITANA).
Lechan Colares Santos - Doutor em Administração na Área de Gestão de Cadeias do Agronegócio e Docente na UNOESTE.