Recentemente publiquei nesta coluna o artigo Mais que ouro!, em que demonstrei que o preço do leite ao produtor cresceu mais que o preço do ouro, o ativo que mais valorizou em 2011, para espanto de muitos leitores. Agora, vamos completar a análise e pesquisar o comportamento dos preços do insumos. Será que eles cresceram também mais que o ouro?
Para entender o que está pressionando os custos de produção, vamos analisar o comportamento dos preços de cada um dos grupos que compõem a estrutura de custos. Todos nós sabemos que o salário mínimo vem subindo mais que a inflação, ano a ano. Esta política começou ainda no Governo Fernando Henrique Cardoso e foi intensificada nos Governos Lula e Dilma. Isso acabou demonstrando que não fazia sentido aquele argumento sempre presente durante décadas, que dizia ser impossível dar ganhos reais ao salário mínimo pois haveria crescimento da inflação. Ao contrário, o crescimento do poder de compra do salário mínimo, juntamente com outras políticas de transferência de renda, como o bolsa família, foi vital para estimular a manutenção da economia brasileira aquecida e preservou o emprego dos trabalhadores e o lucro dos empresários.
Pois o custo da mão de obra cresceu 10,5% entre janeiro e dezembro de 2011. Portanto, cresceu acima da inflação, mas bem abaixo do crescimento do preço recebido pelo leite. Em igual período, o concentrado teve comportamento similar e acumulou um aumento de 12,8%. A figura 1 mostra o comportamento dos preços mês a mês.
Figura 1. Comportamento dos preços de Mao de Obra, Concentrado e do Leite ao Produtor em números índices. Brasil. Janeiro a Dezembro de 2011.
Fonte: Embrapa Gado de Leite (preços de Insumos) e Cepea/USP (preço de leite)
Energia e Combustível são itens de custos que não oscilam livremente no Brasil. Energia tem preços reajustados por índices de inflação, seguindo acordo contratual. Já os combustíveis tem os preços administrados e a variação fica na dependência do interesse do Governo em segurar preços para controlar inflação. Em 2011, o preço do petróleo oscilou muito, mas a Petrobrás não repassou esta oscilação para o consumidor. Tudo isso levou o seguimento Energia e Combustível a apresentar uma variação acumulada de 10,0% em doze meses e o comportamento dos preços foi uma reta, como mostra a Figura 2. Também os gastos com sanidade subiram e bastante! Em doze meses a variação acumulada foi de 15,4%, um pouco abaixo da variação acumulada pelo preço do leite, enquanto que o Sal Mineral apresentou tendência vertiginosa de crescimento de preços desde abril, fechando o ano com preços elevados em 17,6%. Portanto, os preços do Sal Mineral acumulou variação igual à elevação verificada nos preços do leite.
Figura 2. Comportamento dos preços de Energia e Combustível, Sanidade e do Sal Mineral em números índices. Brasil. Janeiro a Dezembro de 2011.
Fonte: Embrapa Gado de Leite (preços de Insumos) e Cepea/USP (preço de leite)
Os custos com Reprodução, Produção de Volumosos e com a Qualidade do Leite acumularam crescimento superiores ao preço do Leite ao Produtor. Custos com Reprodução cresceram mais que o preço do leite em dez dos doze meses, atingindo o acumulado de 27,1%. Já a Qualidade do Leite ficou onerada em 31,9%, enquanto que o volumoso acumulou elevação de custos de 41,4%. O comportamento destas três categorias de custos estão apresentadas na Figura 3.
Figura 3. Comportamento dos preços de insumos usados em Reprodução, Qualidade do Leite e Produção de Volumosos e Leite ao Produtor em números índices. Brasil. Janeiro a Dezembro de 2011.
Fonte: Embrapa Gado de Leite (preços de Insumos) e Cepea/USP (preço de leite)
Em essência, vimos que dois dos principais insumos em termos de peso no custo de produção tiveram comportamento favorável ao produtor, pois os preços cresceram abaixo do preço do leite. Refiro-me ao preço da Mão de Obra e do Concentrado. O mesmo comportamento tiveram os preços de Combustível e Energia. Já os preços de Sal Mineral e de produtos utilizados com cuidados com Sanidade fecharam o ano de 2011, acumulando crescimento praticamente igual ao preço do Leite ao Produtor. Por outro lado, os custos com Reprodução, Qualidade do Leite e Volumoso suplantaram em muito o crescimento do preço do Leite ao Produtor.
Os dados apresentados não permitem afirmar que quem produziu leite perdeu dinheiro em 2011. Nem que os custos engoliram a receita. Afinal, cada um obteve o seu preço e o impacto de cada item no custo de produção varia de propriedade para propriedade. Ademais, os itens que menos subiram são de grande peso no custo. Já os que mais subiram tem peso restrito, excetuando-se Volumoso. Então, o correto é você conhecer o seu custo de produção. A partir daí, é muito fácil conhecer o peso de cada item no seu custo total, o que permitiria você criar um indexador próprio para a sua fazenda e conhecer a inflação do seu leite em particular. Mas, uma coisa é certa. Todos os gráficos demonstraram que começando este ano com margens menores que as experimentadas no início do ano passado.