O vazio forrageiro, ou também chamado de vazio outonal, é uma situação de transição alimentar e que pode desequilibrar a alimentação de vacas leiteiras. É nessa época em que as coagulações misteriosas no teste do alizarol ocorrem com maior frequência, gerando prejuízos para toda a cadeia do leite. Esse fenômeno é chamado de Leite Instável Não Ácido (LINA). Se você quer saber mais como a alimentação está relacionada a esse problema, preparei 6 perguntas e respostas que vão direto ao ponto e esclarecem os principais aspectos técnicos, causas e dicas para mitigar seus efeitos.
1. O que é o Leite Instável Não Ácido (LINA)?
É o leite que parece estar ácido, mas não está. Tecnicamente, é o leite sem acidez microbiológica e ao mesmo tempo instável no teste do alizarol. Essa situação foi primeiramente descrita na década de trinta, na Holanda, e ficou conhecida mundialmente como “a anormalidade do leite de Utrecht”. Atualmente o fenômeno ainda ocorre, sendo notável nos países que utilizam o teste do alizarol na triagem do leite cru, como o Brasil.
O leite LINA é caracterizado principalmente por ter excesso de íons cálcio, o que acaba resultando na sua coagulação na prova do alizarol. Suas causas são múltiplas, sendo que a maioria das conclusões convergem que o principal motivo é o desequilíbrio ácido básico do animal.
2. Como o vazio outonal impacta a ocorrência de Leite Instável Não Ácido?
Nesse período, a escassez de pasto é um fator importante para a ocorrência do LINA. Isso porque aumentam-se as chances dos desbalanços energéticos e/ou minerais na alimentação de vacas leiteiras. Quando temos deficiências nesses quesitos alimentares, os transtornos metabólicos podem aparecer nos animais, como por exemplo as acidoses, e então refletir em desequilíbrio mineral no leite produzido, resultando no fenômeno do LINA. Assim, o balanço entre cátions e ânions na dieta das vacas leiteiras é fundamental, e deve ser controlado para diminuir a ocorrência do LINA.
A falta de energia na dieta também pode aumentar as chances de LINA. Nessa situação falta glicose no sangue do animal, e sem glicose não há lactose no leite. Sem lactose, o leite apresentará um desequilíbrio salino, como exemplo um excesso de cátions, precipitando com mais facilidade no teste do alizarol.
O estresse também é um fator que desencadeia a ocorrência do LINA, principalmente o estresse devido à privação alimentar. Dessa forma, comportamentos relacionados à fome, frustração e desconforto são indicadores de vacas mais propensas a produzir LINA. Essa situação de restrição alimentar não é incomum, ocorrendo principalmente no vazio outonal.
3. Quais as consequências do LINA para o produtor de leite?
O alizarol é o primeiro teste de qualidade realizado na coleta do leite cru. Assim, ao se deparar com um caso de instabilidade no tanque resfriador, o coletador irá rejeitá-lo antes da coleta, e o produtor ficará no prejuízo.
Na outra ponta, a indústria também tem incertezas sobre a estabilidade térmica do LINA. Essa situação é bastante comum, uma vez que a sua frequência média é de 40%, ou seja, em uma linha de 100 produtores, 40 podem ter o leite rejeitado.
A ocorrência do LINA costuma variar ao longo das estações. Nos estados do sul e sudeste do brasil, a maior ocorrência acontece no vazio outonal, o que está relacionado a menor oferta alimentar.
4. Além do vazio outonal, existem outros fatores que impactam a produção de LINA?
Basicamente os fatores que causam desequilíbrios minerais e salinos no leite podem impactar a ocorrência do LINA. Por isso os principais fatores estão relacionados à alimentação animal. O primeiro deles é o fornecimento de dietas aniônicas no pré-parto. Isso é feito adicionando sulfatos ou cloretos de amônio, cálcio ou magnésio para prevenir a febre do leite. Quando essa prática é feita em excesso (ou seja, uma diferença de cátions e ânions acima de 20meq) aumenta-se a probabilidade de LINA.
Outro ponto de cuidado na alimentação é a qualidade do sal mineral. Não podemos economizar nesse componente nutricional, pois ele está diretamente relacionado a estabilidade alcoólica do leite.
Por isso, o papel do nutricionista é essencial para prevenir e corrigir problemas de estabilidade alcoólica nos animais.
Sempre reforçando que leites recém ordenhados sempre serão instáveis ao alizarol. Isso devido à alta concentração de gás carbônico. Portanto, é muito importante deixar o excesso de gás sair do leite antes de fazer o teste do alizarol. Chacoalhar o latão, refrigerar o leite ou aguardar alguns minutos após a ordenha já são suficientes para retirar o gás.
Mesmo recebendo um manejo alimentar adequado, alguns animais ainda produzem o leite com excesso de cálcio iônico ou desequilíbrios salinos. Esse fenômeno pode estar relacionado a uma inabilidade do próprio animal em regular o balanço entre os componentes com cargas negativas e positivas do leite.
Condições zootécnicas estressantes também aumentarão as chances de LINA, como lutas por espaços entre animais, cios, comportamentos agressivo, etc.
5. Quais medidas o produtor deve tomar para evitar a ocorrência de LINA nos animais?
Para a prevenção é imperativo que haja equilíbrio mineral e energético na alimentação das vacas leiteiras durante todo o ano. Portanto, a contratação de profissionais especializados em alimentação animal, e o planejamento nutricional sazonal são muito importantes.
E para a correção do problema? Apesar dos fatores causadores serem muitos, duas regras gerais podem ser aplicadas para resolver o problema rapidamente:
1. Caso a instabilidade seja detectada em todo o rebanho, podemos tentar resolver o problema trocando a marca do sal mineral;
2. Caso a instabilidade seja persistente em vacas no pós-parto (depois do período de produção de colostro) o problema pode ser resolvido administrando MEMBUTONA na dose de 5g ao dia durante três ou quatro dias.
6. De forma geral, quais são as vantagens para o produtor em ter materiais que minimizem o vazio outonal dentro da propriedade pecuária?
A vantagem é exatamente prevenir a rejeição do leite no momento da coleta, evitando prejuízos por casos classificados erroneamente como acidez.
Outra vantagem que as medidas que minimizam o vazio outonal trazem é a manutenção do teor de sólidos do leite produzido. Essa uniformidade sazonal nos teores de proteínas, gorduras e lactose impacta diretamente o bolso do produtor, uma vez que a maioria das indústrias laticinista possuem programas de pagamento de qualidade que valorizam esses componentes.
Portanto, fica claro que compreender o impacto do vazio forrageiro na qualidade do leite é essencial para manter a eficiência e a produtividade na pecuária, garantindo assim que a qualidade do leite seja inquestionável!
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