Para analisar a produção de leite no Mercosul, em uma visão de médio e longo prazo, Andres Padilla, Industry Specialist na Rabobank Brasil, separou em duas fases o leite da região: de 2002 a 2012 e de 2012 a 2022.
De acordo com Padilla, em sua palestra no primeiro painel da 8ª edição do Dairy Vision, evento que ocorreu nos dias 22 e 23 de novembro, em Campinas/SP, com a participação de mais de 400 agentes e executivos do setor lácteo, ambas as décadas são bem distintas. Se, nos primeiros dez anos analisados, houve um aumento na produção, de 2012 a 2022 a produção de leite no Brasil, Uruguai e na Argentina desacelerou em virtude de vários fatores.
“Em qualquer análise, o leite deve ser pensado entre outras matrizes que estão presentes no campo, com todas as culturas que concorrerão por capital, terra, recursos humanos etc. (...) Olhando para o Brasil —na última década —, enquanto o leite avançou pouco, percebemos uma grande expansão tanto para soja quanto para milho,” como pode ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1. Crescimento da produção de leite comparado com grãos no Brasil, de 2012 a 2022.
Fonte: palestra Andres Padilla, Industry Specialist na Rabobank Brasil, 8ª edição do Dairy Vision, 2022.
Na Argentina e no Uruguai, conforme dados expostos por Andres, o milho teve maior crescimento. Contudo, no Uruguai, o cenário foi um pouco diferente: seguido do milho, houve um maior crescimento do leite em comparação ao de soja.
Padilla analisou que no Mercosul, o leite é basicamente um setor de mercado interno — com a exceção do Uruguai, com boa parte de sua produção exportada. “Então, estamos falando que para o Mercosul ver um crescimento maior no setor como um todo, o fator determinante não é o mercado internacional, mas sim o doméstico.” Na perspectiva internacional, Andres ressaltou que o mercado está cada vez mais competitivo, e que, no futuro, questões logísticas e as barreiras de exportação serão entraves para o Mercosul.
Em relação aos hábitos de consumo, segundo o especialista, culturalmente não houve grandes mudanças, mas o consumidor se ajusta ao que consegue consumir. “Na medida que a inflação aumenta, o consumidor migra para produtos mais baratos ou diminui o consumo de produtos que utilizam mais leite, como os queijos duros e semiduros.” Na última década, Padilla apontou que o crescimento médio da economia brasileira foi abaixo de 1%, estagnando a renda real e limitando o aumento do consumo de lácteos.
Foi frisado por Andres a rápida mudança demográfica em curso na América do Sul com as populações do Brasil, da Argentina e do Uruguai envelhecendo. Em específico para o Mercosul, devido à menor agregação de valor, os lácteos que despontam para o consumo são o leite fluido, leite em pó e muçarela.
Em paralelo com o aumento da população idosa, a estrutura familiar decrescente com menos filhos, além de mais pessoas morando sozinhas, também são um fator-chave para o consumo doméstico. Neste contexto, Padilla observou que, nos próximos anos, a indústria láctea tende a inovar em embalagens menores de leite fluido, por exemplo.
Ao traçar um paralelo com a indústria de bebidas, Andres trouxe o case da Coca-Cola. “A rentabilidade da Coca-Cola está dedicada aos produtos menores devido à adequação à realidade de famílias menores e embalagens mais práticas. Os lácteos podem seguir a mesma tendência,” exemplificou.
O que esperar para o futuro?
De acordo com o especialista do Rabobank, nos próximos anos, acredita-se que a produção de leite brasileira não terá grande crescimento, devendo crescer abaixo dos níveis de consumo. Padilla apontou que no país, as transformações estruturais da pirâmide de produção no campo devem continuar acontecendo rapidamente.
Ampliando para o Mercosul, Andres disse que “quando olhamos o conjunto da ópera – Argentina, Brasil e Uruguai – o share de mercado nas exportações globais tende a cair um pouco nos próximos anos,” finalizou.
O Dairy Vision 2023 já tem data marcada! Reserve na agenda: nos dias 07 e 08 de novembro, a Expo Dom Pedro, em Campinas/SP, será novamente palco dos protagonistas e impulsionadores do leite mundial. Até breve!