Autoras do artigo*
M.Sc. Taís Regina Sczesny, Zootecnista (PPGZOO UDESC)
Ana Luiza Bachmann Schogor, Zootecnista, e Fábio José Gomes, Méd. Veterinário, Professores do Departamento de Zootecnia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC Oeste)
A falta de controle gerencial nas unidades de produção de leite (UPL) dificulta o conhecimento do resultado econômico da atividade, bem como a tomada de decisões por parte do produtor rural (ou de sua assistência técnica), que por fim, auxiliam no processo produtivo. Neste contexto, algumas dúvidas surgem: qual sistema de produção é mais rentável? Qual o custo para produzir um litro de leite? Quanto posso investir? Minha atividade está sendo bem remunerada, ou devo investir em outra coisa?
Em propriedades leiteiras que realizam o gerenciamento da atividade, é provável que as respostas para estas perguntas sejam mais facilmente obtidas, pois é por meio das anotações de informações produtivas, econômicas e zootécnicas, que conseguimos calcular indicadores, que são úteis para compreendermos a realidade da nossa UPL e compararmos com outras unidades produtivas, com outras atividades, ou até mesmo com outras oportunidades de investimentos.
Com intuito de difundir a importância e a prática da gestão nas propriedades rurais, o poder público por meio de empresas público-privadas, criou o programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) - SENAR, que possui uma metodologia de assistência técnica associada à consultoria gerencial, para atender produtores rurais que estão dispostos a receber tal capacitação. Esse programa de assistência disponibilizado pelo órgão SENAR é contínuo, e tem um período de 2 anos, pois somente cursos de formação de curto período, podem não atender as necessidades dos produtores rurais.
A partir da adoção desse modelo de assistência, e com o propósito de realizar o diagnóstico das unidades de produção de leite, um estudo realizado no Programa de Mestrado em Zootecnia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), caracterizou 87 unidades de produção de leite na região Oeste catarinense por meio de informações zootécnicas e econômicas.
A abordagem estatística dada no estudo foi a análise de agrupamento. Esta análise foi aplicada em 87 UPL, e permitiu verificar se estas 87 UPL, as quais recebiam o mesmo tipo de assistência técnica público-privada, eram semelhantes (ou homogêneas) entre si quanto a 32 índices produtivos, técnicos e econômicos avaliados (Tabela 1). Como resultado, foram obtidos 2 grupos distintos de propriedades (Grupo 1 e Grupo 2), sendo que esse número ideal de grupos também foi definido por critérios estatísticos. E, a diferença entre os grupos, apresentados na Tabela 1, são resultados de uma análise de variância.
Primeiramente, destacaram-se a predominância da mão de obra familiar na atividade leiteira das unidades avaliadas e que, apesar de receberem igual base metodológica de assistência técnica e gerencial, e possuírem semelhante sistema de produção de leite (à pasto com suplementação), as 87 unidades de produção de leite avaliadas, possuíram heterogeneidade produtiva, técnica e econômica (caracterizada basicamente então, pela formação de dois grupos de produtores distintos).
Foi possível observar que indicadores técnicos e produtivos avaliados, interferiram sobre indicadores econômicos da atividade leiteira. Desse modo, as UPL que possuíam maior quantidade de vacas e vacas em lactação, melhor relação de vacas em lactação em relação ao total de animais do rebanho, maior escala de produção, e melhores índices técnicos/produtivos, como: produtividade por animal, e produtividade em relação à área destinada à pecuária, foram agrupadas no Grupo 1.
Da mesma forma, os indicadores econômicos: renda bruta, custo operacional efetivo, custo operacional total, custo total, lucro, lucratividade, rentabilidade, gasto com concentrado em relação à renda bruta do leite, foram superiores para as UPL classificadas no Grupo 1.
Dessa maneira, os resultados encontrados nesta pesquisa, indicam que a eficiência no uso da terra, no uso do concentrado, a escala de produção, e a produtividade por animal, foram fatores que contribuíram para os diferentes resultados econômicos encontrados nas UPL, classificadas então, em diferentes grupos (Grupo 1 e Grupo 2).
Tabela 1. Indicadores técnicos, produtivos e econômicos de 87 unidades produtoras de leite assistidas pelo programa ATeG - SENAR, no Oeste catarinense, no ano agrícola 2016/2017, conforme classificação nos grupos 1 e 2.
Portanto, realizar a gestão da atividade leiteira associada à uma adequada assistência técnica, possibilita ao produtor obter maior conhecimento sobre a sustentabilidade econômica, técnica e produtiva da sua unidade de produção. Além disso, auxilia na identificação dos indicadores que determinam maior rentabilidade da atividade. Finalmente, podem possibilitar ao produtor responder àquelas perguntas feitas anteriormente: Qual sistema de produção é mais rentável? Qual o custo para produzir um litro de leite? Quanto posso investir? Minha atividade está sendo bem remunerada, ou devo investir em outra atividade?