Os segmentos que compõem o mercado de leite fluido no Brasil (leite UHT + leite pasteurizado) representam 30% do total de leite inspecionado produzido no país, sendo que deste total, o leite UHT é responsável por cerca de 90% do volume, com aproximados 6,5 bilhões de litros consumidos anualmente. Assim, a retração ou o aumento do volume do leite denominado leite fluido acompanha de perto a performance do leite UHT, já que o leite pasteurizado tem diminuído sua participação ano a ano.
Depois de um longo período de crescimento no consumo de leite UHT, tivemos uma inversão dessa tendência na pandemia que se agravou em 2022, quando o consumo caiu cerca de 4,5%, em grande parte devido aos altos preços praticados no setor lácteo, necessários para fazer frente à escassez de matéria prima decorrente da queda na produção primária.
O leite se tornou um dos vilões da inflação e o final de 2022 foi bastante difícil para os negócios do setor de UHT. Dados da Scanntech mostram que os dois primeiros meses de 2023 seguiram e amplificaram a tendência de queda, com retração de volume de vendas de 7% sobre o mesmo período de 2022.
A partir de março houve uma forte reação e investimentos do setor com o lançamento do Movimento “A Vida Pede Leite” pela ABLV – Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida, junto aos consumidores e profissionais da saúde, resgatando os valores nutricionais do leite com ações nas mídias tradicionais e robusto trabalho nas redes sociais. Tal esforço, aliado a uma significativa redução nos preços do leite, contribuíram para reduzir as perdas dos meses seguintes com boa recuperação de volume, que atingiu seu ápice em meados do ano, registrando em julho um volume 12% superior ao mesmo mês do ano anterior.
No entanto, esse movimento perdeu força no último trimestre, com nova queda de volume e apontando para uma nova retração de consumo para o ano fechado de 2023, ainda que discreta, em torno de 1%. Com isso o mercado de leite fluido no Brasil regride aos menores níveis em mais de uma década!
Esse recuo detectado pela Scanntech em outubro surpreende pois se dá em um momento em que os preços do leite UHT estão cerca de 15% mais baixos que no ano passado, o que sugere uma perda de poder aquisitivo do consumidor, fato que é corroborado com a retração de volumes para várias outras categorias de alimentos básicos apontados na mesma pesquisa, como, por exemplo, óleo de cozinha, café, biscoito, margarina, arroz e até sal, mesmo com preços menores que os praticados em 2022, exceto os dois últimos, o que mostra claramente que o poder de compra está fortemente reduzido.
Felizmente o cenário parece mais promissor para o ano que se aproxima e o setor avalia como muito positiva a melhora dos indicadores econômicos e sociais que começam a aparecer, com inflação em queda e controlada, redução dos juros, estabilidade cambial, taxa de desemprego decrescente e aumento da massa salarial, que devem trazer um novo impulso ao consumo das famílias. Também terão continuidade os investimentos em comunicação das marcas e do movimento institucional em favor do consumo do leite.
Com a disponibilidade de matéria prima complementada pela importação, o abastecimento não deve sofrer escassez e os preços do leite UHT ao consumidor devem se manter nos mesmos patamares de 2023, estimulando a retomada do consumo. Assim, o setor trabalha com otimismo para o ano de 2024, com efetiva recuperação dos volumes de produção e vendas.
Nilson Muniz Diretor Executivo da ABLV, Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa vida.
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