Dentre as inúmeras formas de interação do publico que acompanha o trabalho do Milkpoint, chegou até nos este questionamento: Em que tipo de criação/produção se faz necessária a desinfecção de ambientes utilizando cal, calcário ou gesso? Baseado no fato de que em outras atividades, tal qual na avicultura, esta prática é utilizada com grande frequência.
Em geral, quando falamos do uso de cal, calcário ou gesso na pecuária, é sobre sua atuação na desinfecção. Ao contrário de atividades sazonais, a utilização desses produtos para promover a higienização é altamente específica, variando conforme o tipo de instalação, a fase de vida das vacas e o sistema adotado. Por exemplo, na criação de bezerras em instalações construídas em madeira, seja de forma individual ou coletiva, a cal é empregada para desinfecção periódica das instalações, além da flambagem, ou vassoura de fogo, como é popularmente conhecida.
Em outras estruturas, construídas em madeira ou alvenaria, tais como currais ou salas de ordenha, baias de parição ou armazenamento de feno, também são utilizadas as mesmas práticas para promover a desinfecção destas instalações.
Nos confinamentos que adotam o modelo free stall, que utilizam areia para preencher os leitos, é comum realizar o manejo de remoção de dejetos das baias, repor o volume de areia e cal hidratada é aplicada para desinfecção do ambiente. Idealmente, esse manejo deveria ser feito duas vezes ao dia, ou no mínimo uma vez ao dia. Entretanto, em muitas propriedades que adotam o sistema free stall, esse procedimento é negligenciado e não é adotado no manejo diário. Isso coloca em risco os objetivos de manter os índices de Mastite e de células somáticas abaixo dos níveis desejáveis.
Quando o material utilizado para preencher os caixotes das baias é serragem ou maravalha, também é recomendado a remoção dos dejetos, reposição de material e colocação de cal hidratada no local. Entretanto, o ideal também seria colocar cal virgem no material que fica depositado no estoque enquanto aguarda para ser utilizado nas reposições, este manejo busca evitar que microrganismos indesejáveis se desenvolvam no material estocado e possamos contaminar as baias com o material de reposição.
Já em propriedades que adotaram o confinamento das vacas utilizando o sistema de compost barn, e não estão conseguindo administrar tão bem o manejo da cama, utilizam cal ou calcário para promover a desidratação da cama. Isso se torna uma ação totalmente paliativa que piora a situação geral da cama, ou seja, é um atalho para ter a sensação de que estamos fazendo algo para resolver. O ideal seria reiniciar a compostagem da cama da forma correta e manejá-la de forma a não ser mais necessário a utilização destes materiais. Esse materiais são desinfetantes e embora tenham ação higroscópica, contribuem para desidratação imediata, eliminam também as bactérias que promovem a compostagem com sua ação desinfetante, aumentando ainda mais o desafio de manter a cama seca, além de aumentar os custos de manutenção do processo como um todo.
Compreender melhor como funciona a dinâmica da compostagem da cama, com certeza dá menos trabalho e diminui muito o custo de manutenção do processo como um todo. Todo e qualquer produto desinfetante pode desidratar a cama de uma forma superficial, imediata e até com uma sensação de que está trazendo resultado, mas na verdade, compromete o sistema como um todo a cada aplicação, gerando um ciclo vicioso negativo e indesejado para o bolso do produtor de leite.
Atualmente existem algumas alternativas para auxiliar no processo de manutenção da cama do compost barn ainda dentro do confinamento, que tem como objetivo manter a atividade microbiana que promove a compostagem sempre muito ativa, seguindo o mesmo raciocínio dos inoculantes utilizados na produção e conservação de alimentos. Contudo, estamos acompanhando alguns trabalhos nesse sentido onde os resultados estão sendo promissores, porém se faz necessário maior tempo e coleta de dados para avaliações mais conclusivas.
Utilizar cal, calcário ou gesso é uma prática de desinfecção que ultrapassa gerações e que em alguns casos se faz necessária e é muito bem vinda por ser uma forma prática e econômica. A mensagem que fica é que temos de avaliar muito bem o resultado de cada aplicação, em cada atividade distinta, e até mesmo dentro de uma atividade específica levando em conta em qual fase pode ou não ser utilizada para otimizar resultado de desinfecção dos ambientes, e também avaliar se cabe substituí-la por novas tecnologias.
Cabe salientar que estamos utilizando um manejo que hora deve ser utilizado como forma definitiva e eficiente para o que se propõem fazer, e ao mesmo tempo pode ser apenas um paliativo dependendo de sua aplicabilidade. Quando este for o caso, certamente vale a reflexão de se iniciar da forma correta para não aplicar uma tecnologia eficaz em um setor e não muito indicada em outro, junto a produção leiteira.
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