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'Free Stall Barn' no Brasil: 40 anos de sucesso

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/05/2023

9 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 26/05/2023

O primeiro projeto para fins de pesquisa e validação de um confinamento total de rebanho leiteiro teve seu anteprojeto iniciado em 1982, elaborado em 1983 e implementado pela Embrapa Gado de Leite em novembro do mesmo ano.

A responsabilidade coube ao então Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite localizado na Rodovia MG 133, Km 42 – BR-155 em Coronel Pacheco, MG. Sob polêmica institucional, o pré-projeto apresentado à Diretoria da Embrapa foi rejeitado por não atender a expectativa e recomendação de ser o modelo para o Confinamento Total do Rebanho.

A divergência de opinião entre os técnicos do Centro, universidades e institutos de pesquisa consistia no fato de que confinar o rebanho de leite não teria validade para as condições brasileiras. No entanto, o projeto teve o apoio do então presidente da Embrapa, Dr. Eliseu Roberto de Andrade Alves e seguiu os trâmites legais para sua elaboração.

A justificativa para tal iniciativa naquela ocasião foi a necessidade de produção de leite concentrada e próxima dos grandes centros, em áreas de valor econômico elevado, interação com o alto custo da mão de obra, reduzir a distância de transporte entre a produção e a planta processadora e, principalmente, aumentar a produtividade dos rebanhos, tanto por animal quanto por área cujo intuito foi o de reduzir o efeito da sazonalidade da produção e evitar as oscilações do produto para o mercado.

Naquela oportunidade já se tinha ideia de que a verticalização da produção neste tipo de sistema traria maior possibilidade de receita pela diversificação na comercialização do leite e derivados. No entanto, como a expectativa era atender a uma demanda produtiva e por dificuldades burocráticas para a Embrapa, o projeto se propôs a comercializar com terceiros o leite produzido. Razões de logística e captação efetiva fizeram a Itambé, a escolhida para receber a produção do sistema.

"A ideia de confinar animais de produção de leite no Brasil é velha e remonta ao ano de 1925, quando houve a tentativa de se confinar totalmente as vacas de leite da raça Holandesa em uma fazenda com pasteurizador, fábrica de manteiga, tecnologia moderna e mercado consumidor próximo e grande”. O sistema foi chamado de modelo para fins econômicos como descrito na publicação do Almanak Agrícola Brasileiro.

Anos depois, em 1980 após prospecção nos Estados Unidos, México e Europa o senhor Orostrato Olavo Silva Barbosa adotou o conceito do sistema free stall que conheceu na Califórnia, como o modelo de exploração leiteira para ser implantado em sua fazenda, a São José. No entanto, a construção das instalações para o complexo produtivo foi iniciada em 1984 e o início da operação aconteceu em 1987 . Assim, foi iniciada a produção e comercialização do leite tipo A ‘Fazenda Bela Vista’.

À época, o maior produtor de leite do Brasil extraia 65 mil litros diários de 2.430 vacas Holandesas em lactação com média diária de 26 litros por vaca. A distribuição do produto era feita em São Paulo, Santos, Ribeirão Preto, Franca e Guaxupé dentre outras.

A criação do sistema free stall é creditada a Adolph Oien, em sua fazenda em Washington, estado americano, quando, em 1959, converteu o sistema Loose housing com cama de palha em sistema de baias individuais, o denominado free stall (Bickert and Light, 1982). Na instalação tipo loose housing os animais têm movimentação livre e deitam aleatoriamente no espaço de cama, enquanto no tipo free stall os animais são livres para se movimentarem, porém, são direcionados para se deitarem nas baias individuais, reduzindo o espaço de área coberta.
 

O projeto

Um projeto de exploração leiteira é proposto para a região de Brasília – DF, visando a estudar a viabilidade técnico-econômica de um sistema intensivo de produção de leite para áreas de Cerrado.

O projeto será implantado em uma área localizada na sede do Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças (CNPH) da Embrapa. O uso intensivo da mecanização é preconizado, não somente na produção, colheita e conservação de forragem, mas também na alimentação e manejo dos animais e na higiene das instalações.

Atenção especial foi dada ao planejamento das instalações zootécnicas, procurando-se associar a sua funcionalidade com os aspectos de manejo e conforto dos animais, facilidade de mecanização e baixo investimento. Um programa de alimentação baseado em ração completa é recomendado, proporcionando assim melhor padronização das máquinas e equipamentos, maior eficiência na ministração dos alimentos, e menor utilização de mão-de-obra.

Procura-se, também, maximizar a produção de forragens de alta qualidade, compatível com o alto potencial do rebanho, e reduzir a dependência por alimentos comprados. Este esquema certamente contribuirá para obtenção de altos rendimentos, tanto por animal quanto por unidade de área.

A composição média do rebanho estabilizado é de 255 animais puros da raça holandesa preta e branca, sendo 125 matrizes com potencial médio de 6500 kg de leite por lactação. Os animais serão agrupados de acordo com a faixa etária e estágio fisiológico e mantidos em regime de estabulação completa. A avaliação prévia do projeto sugere a viabilidade técnico-econômica desse tipo de sistema, com taxa interna de retorno de 16% a.a. 
 

Objetivos e metas

O sistema de produção proposto tem por objetivo verificar a viabilidade técnico-econômica da exploração intensiva de um rebanho especializado para a produção de leite em áreas de cerrado. Se tecnicamente viável, ficará evidenciada a disponibilidade de tecnologia para obtenção de melhores índices de produtividade para uma vasta extensão do território nacional. Se economicamente justificável, o sistema poderá gerar valiosos subsídios para a formação da política econômica do setor. As metas previstas para o sistema de produção são as seguintes:

40 anos
 

Índices zootécnicos

Com o sistema estabilizado, espera-se atingir os seguintes índices zootécnicos:

indices zootecnicos

 

Hoje, no Top 100 das maiores fazendas produtoras de leite, 48% delas estão assentadas em sistema de confinamento total do tipo Free stall, pelo menos para as vacas em lactação (Milk Point, 2022).
 

Evolução dos sistemas de alojamento para o gado de leite no Brasil

Inicialmente as vacas eram ordenhadas manualmente em currais de chão batido e posteriormente passaram a ser alojadas em estábulos com paredes largas para proteger o interior de intempéries.

Foi uma cópia dos estábulos europeus e americanos que visavam oferecer conforto aos animais e, principalmente ao fazendeiro, contra as baixas temperaturas do inverno rigoroso do ambiente de clima temperado. Os problemas de manejo, conforto animal e sanitários ocorriam frequentemente, mas, era o que se conhecia.

Com a criação da ACAR – Associação de Crédito e Assistência Rural em Minas Gerais, empresa que antecedeu a EMATER, em 1948, como modelo para Extensão Rural aos moldes daquele em uso nos Estados Unidos, sugiram as Associações de Crédito Rural em outros estados brasileiros e, ao final década de 1950 os serviços de ATER já encontravam-se presentes em todos os estados nas regiões sul e expandindo-se para os estados do nordeste e centro-oeste (Diniz e Hespanhol, 2014).

Por meio desta rede de ATER, as adaptações dos modelos de alojamento de gado de leite foram iniciadas de maneira a atender às condições tropicais em conformidade com as recomendações emanadas das Universidades e dos Institutos de Pesquisas Brasileiros. De lá para cá a inovação se fez presente, graças ao conhecimento científico e à criatividade dos produtores de leite em promover as mudanças que melhorariam a execução das atividades diárias.

De 2001 até o presente, o MilkPoint realiza anualmente uma análise do modelo de instalação utilizado pelos cem maiores produtores de leite no Brasil para alojar as vacas em lactação, publicado no Top 100 do MilkPoint. Perguntas são elaboradas e enviadas aos produtores que indicam o modelo adotado e os índices conseguidos. A informação emanada dos proprietários ou gerentes das fazendas passam por análise de colaboradores do MilkPoint e os resultados são publicados anualmente e referem-se à performance da propriedade no ano anterior à publicação.

A figura 1 indica a tendência de adoção dos modelos de sistemas de produção existentes no Brasil. O sistema de confinamento total do rebanho ou apenas das vacas em lactação teve um incremento real no Brasil.

top 100 evolução dos sistemas
Fonte: Top100 MilkPoint - Elaborado pelos autores. 

Esse levantamento mostra que, passados 20 anos da implantação do SIPL, em Brasília (1982-2002), 44% das fazendas com maiores produções de leite já adotavam o sistema de confinamento total, sendo 20% como “Free stall barn” e 24% no modelo de piquetes.

Desde então, o modelo de produção de leite em confinamento cresceu para 82% dos produtores, com 48% de free stall, 2% em piquetes e 34% no modelo tipo “Compost Barn” , este, com início de citação em 2014. A redução no uso do modelo de semi-confinamento e pastejo na época chuvosa, com os respectivos percentuais de 35% para 11% e de 21% para 5%, considerando os levantamentos de 2002 e 2023, explica esta tendência.

Nesses 40 anos, a tendência no Brasil de modernização das instalações para alojar vacas de leite em confinamento mostra que o modelo free stall e, mais recentemente, o compost barn implementados pela Embrapa Gado de Leite, alcançaram os seus objetivos de inovação.

O presente relato sobre a chegada do modelo Free stall no Brasil e os dados mostrados no levantamento do MilkPoint indicam ser possível o uso de distintos sistemas de confinamento e de pastejo para produção de leite em nossa vasta área territorial e diversidade climática.
 

Autores


Luciano Patto Novaes, Engenheiro Agrônomo (UFLA – ESAL). Doutorado em Dairy
Science pela VPI&SU – Blacksburg, VA, USA. Pesquisador Embrapa Gado de Leite,
aposentado.

Airdem Gonçalves de Assis, Engenheiro Agrônomo (UFRRJ). Doutorado em
Agricultural Systems pela University of Reading, Reading, England. Pesquisador
Embrapa Gado de Leite, aposentado.

Geraldo Alvim Dusi, Engenheiro Agrônomo (UFRRJ). Doutorado em Agronomy pela
University of Florida - Gainesville, FL, USA. Pesquisador Embrapa Gado de Leite,
aposentado.

Ricardo de Oliveira Encanação. Arquitetura e Urbanismo (UnB). Mestre pela
Mississipi University. Mississipi, MS, USA. Embrapa Sede. Brasília, DF

Referências

Bickert, W. G. and Light, R. G. Housing Systems. 1982 J. Dairy Sci 65:502-508

Faria, Vidal Pedroso de. Pensando o leite, vol. 1 : conceitos / Vidal Pedroso de Faria; [Artur Chinelato de Camargo, colaborador]. -- Rio de Janeiro : FAERJ - Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do Rio de Janeiro : SEBRAE-RJ, 2015.

Diniz, R. F.; Hespanhol, A. N. Da ABCAR à ANATER: trajetória e desafios da extensão rural para o Desenvolvimento Rural Sustentável no Brasil. Anais do VII Congresso Brasileiro de Geográfos, agosto 2014 . Vitória, ES. Anais do VII CBG – ISBN 978-85-98539-04-01

Coluna Folha de São Paulo, 03/10/2012.obituario.com.br. Disponível em https://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2012/10/1162945-orostrato-olavo-silvabarbosa-1923-2012---o-maior-produtor-de-leite-do-pais.shtml. Acesso em 2 de dezembro de 2022.

Milk Point. Top 100, 2002 a 2022. Rede Milk Point Ventures. Disponível em https://www.milkpoint.com.br/. Acesso em 25 de novembro de 2022. Milk Point. Top 100 2023.

Rede Milk Point Ventures. Disponível em https://www.milkpoint.com.br/. Acesso em 13 de abril de 2023.

Nascimento, S.; Cassimiro, R. Fábrica de Leite. Revista Globo Rural. Dezembro de 2010. Disponível em https://globorural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT193589- 18282,00.html. Acesso em 2 de dezembro de 2022 Revista Balde Branco.

O adeus de Olavo Barbosa. 30 de setembro de 2012. Disponível em https://www.facebook.com/RevistaBaldeBranco/photos/o-adeus-de-olavobarbosa. Acesso em 2 de dezembro de 2022

Silva, Tufano. A trajetória do Rei do Gado e do Café. Por Ricardo Dias / Revista Midia. Disponível em https://terceirotempo.uol.com.br/que-fim-levou/olavobarbosa-5617. Acesso em 2 de dezembro de 2022.

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