Dois principais fatores ajudaram a impulsionar o mercado de lácteos em 2023. O primeiro deles foi a melhora no cenário macroeconômico. De acordo com as projeções de mercado, o crescimento do PIB deve ser de 3,0%, fator que impulsionou considerável melhora no mercado de trabalho, levando a taxa de desocupação próxima de fechar 2023 no menor nível desde o começo de 2015. Em decorrência desse cenário favorável, houve aumento do rendimento médio do trabalhador que, por sua vez, foi traduzido em aumento do poder de compra, pois a inflação também se manteve controlada ao longo do ano.
Além desse cenário macroeconômico favorável, a forte queda do preço de leite foi o segundo fator de destaque do setor. Segundo o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da ESALQ) o preço do leite pago ao produtor soma queda de -24,8% no acumulado de 2023 até outubro comparado com o mesmo período de 2022. O declínio no preço que começou em maio e reflete o aumento da oferta, tanto pela expansão da produção doméstica quanto pela maior importação. A queda também foi capturada pelos nossos dados de preços na gondola. O preço do litro de Leite UHT pago pelo consumidor caiu -3,0% no acumulado de 2023 até novembro comparado ao mesmo período do ano anterior, e ainda assim houve queda no volume de -2,1% no mesmo período.
Com isso, os produtos lácteos de maior valor agregado passaram a ser mais demandados. O principal deles, o queijo teve aumento no preço menor do que a inflação (+1,2%) e teve incremento de 12% no volume vendido. Outros produtos de valor agregado cresceram em volume de vendas mesmo com aumentos de preço, como cream cheese (+8,5%), doce de leite (+6,5%), creme de leite (+5,4%), requeijão (+1,7%), leite condensado (+1,5%), entre outros.
Além disso, de forma indireta, o contexto do preço do leite teve impacto indireto no mercado de misturas e bebidas lácteas. Até o ano passado havia uma tendência de as empresas buscarem oferecer opções mais acessíveis de produtos de valor adicionado para compensar o aumento de preços e atender especialmente as classes C, D e E. Nesse contexto, as opções de bebida e mistura lácteas se tornaram bastante familiares para o consumidor nos últimos anos, de forma que esses produtos com composições alternativas vinham ganhando espaço nas vendas de leite condensado, iogurte, leite UHT, creme de leite, requeijão, entre outros.
No entanto, com a melhora do poder de compra do consumidor e com a forte queda registrada no preço do leite, houve uma reversão dessa tendência em 2023. Neste ano, vimos o consumidor retornar ao consumo das formulações tradicionais, mesmo que mais caras. As empresas retomaram lançamento de produtos de alto valor agregado como opções sem lactose e com alto teor proteico.
Para 2024, as projeções de crescimento econômico e estabilidade da inflação e da taxa de desocupação sugerem um cenário favorável para o setor de lácteos, com a manutenção da tendência observada ao longo de 2023 de aumento na demanda por produtos de maior valor agregado.
Autor: Scanntech.