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Alergia ao leite de vaca: como diferenciar da intolerância à lactose?

POR LIBOVIS - UFRRJ

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 17/02/2023

9 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 13/02/2023

Segundo dados da FAO (2022), 81% da produção mundial de leite é de vacas, seguido de búfalas com 15%, cabras com 2% e ovelhas com 1%, mas estima-se que mais de 7% da população é alérgica ao leite de vaca.

Poucos leites de espécies não bovinas não causam essas alergias, têm usos terapêuticos e melhor valor nutricional do que o de vaca.

Até bem pouco tempo atrás o único substituto do leite de vaca popularmente conhecido era o bebida vegetal de soja, ideal para vegetarianos e pessoas com intolerância à lactose, mas ao longo da evolução da indústria do leite, o leite de vaca tradicional deixou de ser a única fonte de leite de origem animal, fazendo sucesso no mercado leites modificados como o zero lactose e A2, além dos leites de outras espécies como cabras, ovelhas, búfalas e outros animais.
 

Alergia à proteína do leite de vaca

O organismo de uma pessoa com alergia ao leite reconhece as proteínas como antígenos, o que leva a uma reação imunológica que culmina em um processo de hipersensibilização.

Na composição do leite bovino a maior parte (76%) são as caseínas (alfa-s1-, alfa-s2-, beta- e kappa-caseína) e, o restante corresponde às proteínas do soro, que são a beta-lactoglobulina, alfa-lactoalbumina, albumina sérica, lactoferrina e imunoglobulinas.

Destaca-se diferenças entre as proteínas alergênicas entre crianças e adultos, as primeiras sendo mais suscetíveis a alergia aos compostos beta-lactoglobulina, alfa-lactoalbumina e caseínas, e adultos tendo como responsável pelas reações alérgicas a fração alfa-s1-caseína (PASTUSZKA et al., 2016).

Analisando a composição do leite de vaca, há duas formas de beta-caseína, sendo a beta-caseína A2 a forma original e que por uma mutação genética, resulta na beta-caseína A1. Tal mutação dá-se pela organização dos 209 aminoácidos da proteína, ressaltando que na posição 67 da beta-caseína A1 existe resíduo de histidina, que é o fator estrutural que impacta o processo de digestão de proteínas desse leite, uma vez que a histidina permite a liberação do peptídeo opioide beta-casomorfina-7 no momento que a beta-caseína A1 é digerida (BARBOSA et al., 2019).  

Em relação ao opioide beta-casomorfina-7, sua importância gira em torno de sua forma de ação, podendo diminuir a motilidade do intestino, além de inibir secreção no estômago e aumentar de contração da vesícula biliar, coincidindo em inflamações intestinais. Esse opioide também aparece na beta-caseína A2, porém em concentrações menores.

O diferencial do leite de outros mamíferos ruminantes, então, é o fato de não ocorrer essa mutação da beta-caseína. Uma vez que não possuem a variação A1 da β-caseína, esses leites são considerados hipoalergênicos, diferentemente que o da vaca. Vale ressaltar também uma particularidade do leite de cabra, que em sua formação proteica contém pouca ou nenhuma alfa-s1-caseína, favorecendo a formação de coágulos menores e por conseguinte, facilitando sua digestão (RANGEL et al., 2016).
 

Intolerância à lactose

A lactose é o açúcar mais abundante presente no leite e é um composto exclusivo desse alimento, por ser um dissacarídeo consequentemente não é absorvido no sistema digestório, sendo necessário a hidrólise da molécula em galactose e glicose pela lactase produzida no intestino delgado. Pessoas que não produzem a enzima ou a produzem de forma alterada, irão desenvolver intolerância à lactose.

Entretanto, não é comum que bebês apresentem intolerância à lactose, uma vez que a lactase já existe no feto desde a oitava semana de gestação, e progride sua ação com o desenvolvimento do feto, tal enzima tem grande importância na alimentação de bebês, que se alimentam estritamente de leite materno (DOS SANTOS; DE LIMA, 2020).

Como pode-se notar um avanço de pessoas intolerantes a lactose, principalmente por estarmos na era de tecnologia e de notícias falsamente publicadas, a ignorância acerca de informações sobre o consumo de leite vem causando uma avalanche de restrições desse consumo por meio de crianças, com a consequência drástica de deficiência nutricional.

Portadores dessa afecção necessitam de medicação com reposição de lactase exógena, já que a exclusão total de lactose não é recomendada e pode trazer diversos prejuízos nutricionais.
 

Leite zero lactose e leite A2

Como uma parcela da população possui intolerância à lactose, há a necessidade de disponibilizar produtos zero lactose para consumo. Esse processo se tornou existente graças a metodologias com base em dois processos de hidrólise, o catalítico e o enzimático.

O catalítico é realizado em altas temperaturas adicionando-se a enzima lactase e outra maneira é adicionando-se a enzima beta-galactosidase de várias fontes. Os produtos que são utilizados nesses processos fazem com que a lactose seja hidrolisada em glicose e galactose ainda no leite, resultando um produto final que geralmente tem lactose em nível inferior a 20% ao do leite normal. Mas ainda assim, os intolerantes à lactose precisam fazer uma leitura atenta dos rótulos dos alimentos para não consumirem alimentos com traços de lactose (RAMALHO; GANECO, 2016).

Nos anos 2000 surgiu um tipo de leite conhecido como A2. A principal proteína do leite é a beta-caseína como dito anteriormente. Vacas leiteiras tradicionais produzem leite que contém caseína A1 e A2. Recentemente tem se feito seleção genética para vacas que produzem apenas a caseína A2. Embora ainda haja muita discussão sobre sua validade, alguns estudos mostraram que o leite A2 pode ser mais digerível para pessoas que apresentam sintomas de intolerância à lactose (BARBOSA et al., 2019).

Para atender tanto aos alérgicos à proteína do leite quanto aos intolerantes à lactose, novos produtos vêm sendo desenvolvidos pelas indústrias. A opção de leite de outros mamíferos se torna uma excelente opção, já que esses leites tendem a ser menos alergênicos do que o leite da vaca, e tornar esses leites em zero lactose faz com que essas pessoas tenham essa alternativa, não só para leite, mas também para produtos derivados (FERREIRA et al., 2022).
 

Leite de outras espécies

O leite de búfala pode conter mais que o dobro de gordura em relação ao leite de vaca o que o torna particularmente adequado para a produção de derivados com melhor rendimento. Também apresenta teores de proteína ligeiramente superiores aos do leite de vaca, enquanto a quantidade de lactose é semelhante.

Já o leite de cabra tem composição nutricional muito semelhante ao leite de vaca em termos de gorduras saturadas e proteína, mas a quantidade de ácidos graxos de cadeia curta e média estão presentes em até duas vezes mais que no leite de vaca. O tamanho reduzido desses glóbulos de gordura torna o leite de cabra mais fácil de digerir. Quanto ao teor de lactose, depende da dieta do animal.

E por fim, o leite de ovelha possui altos teores de proteína e gordura, entre as espécies comuns, apenas o leite de búfala tem mais teor de gordura do que o de ovelha. O perfil de ácidos graxos do leite de ovelha é bastante semelhante ao do leite de cabra, o que facilita a digestão, porém contém mais lactose do que o leite humano, de vaca e de cabra (VERDUCI et al., 2019).

Fator interessante é que os leites de cabra, ovelha e búfala contém apenas a beta-caseína A2 e, as caseínas do tipo alfa-s1 do leite de cabra e ovelha são mais similares as do leite humano, o que pode resultar em menor alergenicidade para humanos e melhor digestibilidade (ROY et al., 2020).

Entre os anos 1965 a 2005, a produção de leite de bubalinos aumentou 301%, leite caprino e ovino, 85% e 54,5%, respectivamente e, o leite de vaca ainda se destacou com um aumento de 59,3% nesse mesmo período (PATIÑO, 2009).

Entretanto, é importante reconhecer a importância do aumento de produção de leites não bovinos, mercado que permite variedade na indústria de laticínios e consequentemente aumento de inovação tecnológica com descoberta de novos produtos. Esse aumento de produção também permite o fortalecimento do manejo de produtores subsistentes que trabalham em pequenas propriedades.

Se o consumidor não se sente bem depois de tomar leite o primeiro passo é procurar o serviço médico e fazer um diagnóstico para reconhecer se tem alergia ao leite. Se for diagnosticada intolerância à lactose, o leite sem lactose é a melhor escolha. Outros leites devem ser evitados, mesmo o leite A2 de vacas, ou os leites de cabra, ovelha e búfala pois, esses leites contêm lactose. Só em casos específicos é possível haver sensibilidade ou intolerância apenas à proteína A1, nesse caso os leites de composição A2 são boas opções.
 

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Referências Bibliográficas

BARBOSA, M. G. et al. Leites A1 e A2: revisão sobre seus potenciais efeitos no trato digestório. Segurança Alimentar e Nutricional, v. 26, p. e019004-e019004, 2019.

DOS SANTOS, B. O.; DE LIMA, L. F. Galactosemia, intolerância à lactose e alergia à proteína do leite: compreensão dos mecanismos fisiopatológicos na primeira infância e suas respectivas prescrições nutricionais. Temas em Educação e Saúde, p. 500-512, 2020.

FAO. Food and Agriculture Organization. Gateway to dairy production and products. Disponível em: <https://www.fao.org/dairy-production-products/production/dairy-animals/en/> Acesso em: 12 jan. 2023.

FERREIRA, R. G. et al. Leite hipoalergênico zero lactose de búfala, cabra e ovelha. Research, Society and Development, v. 11, n. 7, p. e54211729958-e54211729958, 2022.

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VERDUCI, E.; D’ELIOS, S.; CERRATO, L.; COMBERIATI, P.; CALVANI, M.; PALAZZO, S.; MARTELLI, A.; LANDI, M.; TRIKAMJEE, T.; PERONI, DG. Cow’s Milk Substitutes for Children: Nutritional Aspects of Milk from Different Mammalian Species, Special Formula and Plant-Based Beverages. Nutrients. v. 11, n.8, p.1739, 2019.

LIBOVIS - UFRRJ

A Liga de Bovinos, LiBovis, é um grupo de estudos constituído por alunos de graduação em Medicina Veterinária e áreas afins da UFRRJ. Tem como objetivos estudar, compreender e defender os interesses da bovinocultura contribuindo para sua valorização.

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