GDT: preços internacionais dos lácteos seguem caindo, favorecendo importações

Nesta semana foi realizado o 314º evento do leilão Global Dairy Trade (16/08), e o cenário baixista observado ao longo dos últimos eventos prevaleceu. Dados econômicos chineses, associados a política de controle sanitário no país, contribuíram para impactar negativamente nos preços praticados no mercado internacional de lácteos. O trecentésimo décimo quarto evento da plataforma GDT apresentou recuo de -3,71% na média de seus preços, que fecharam em US$ 3.768 /tonelada.

Gráfico 1. Preço médio leilão GDT x GDT Price Index.

Fonte: elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Nesta quinzena, ocorreu um aumento no volume negociado. Foram negociadas 30.326 toneladas de lácteos, volume 10,28% maior em relação ao último leilão. O comportamento no volume negociado foi diferente dos últimos anos, quando ocorreram recuos para o período. Mesmo com elevação no volume vendido, este evento apresentou o segundo menor volume negociado da série histórica para a segunda quinzena de agosto, ficando atrás apenas do ano passado.

Gráfico 2. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.

Fonte: elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Dentre as variações dos preços dos derivados, observaram-se os seguintes movimentos: leite em pó desnatado (0,0%, fechando em US$ 3.524 /tonelada), queijos (+4,31%, fechando em US$ 5.005 /tonelada), manteiga (+0,19%, fechando em US$ 5.204 /tonelada). Em uma correção de mercado, os queijos passaram por um expressivo aumento nos preços, e retornaram à casa acima dos US$ 5.000 /tonelada.

Os preços médios do leite em pó integral seguiram caindo, e registraram um recuo significativo, variando aproximadamente -3,58%, passando de US$ 3.544 /tonelada para US$ 3.417 /tonelada. Os valores registrados são os menores desde janeiro de 2021.

Confira na Tabela 1 o preço médio dos derivados após a finalização do evento e a variação em relação ao evento anterior.

Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 16/08/2022.

Fonte: elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Um dos fatores que contribuíram para este cenário baixista, foram os entraves econômicos enfrentados pela China. O país é o principal importador de lácteos do mundo, e mudanças estruturais de produção, associados a problemas econômicos (reflexos da política de controle sanitário), vem trazendo incertezas quanto a demanda do país asiático.

Após apresentar o pior desempenho da economia chinesa para o 2º trimestre desde que a série de dados começou, em 1992, a China reduziu os juros, em uma tentativa de amenizar os efeitos negativos ocasionados pelo baixo ritmo de crescimento, e a crise que o setor imobiliário do país vem enfrentando. Pela primeira vez desde janeiro deste ano, nesta segunda-feira (15/08), o Banco Popular da China reduziu a principal taxa pela qual fornece liquidez de curto prazo aos bancos, de 2,1% para 2%, além de cortar a taxa de sua linha de crédito de um ano de 2,85% para 2,75%. Especialistas apontam que a redução é mínima, e pode apresentar impacto insignificativo em sua tentativa de sanar os entraves enfrentados pelos diferentes setores. Desta forma, os mercados de ações chineses caíram, surtindo um efeito contrário ao esperado.

Os dados econômicos de julho seguiram negativos para o gigante asiático, sendo piores que o esperado. As vendas no varejo sofreram uma retração no ritmo de crescimento. Julho cresceu 2,7% em relação ao ano passado, enquanto junho, 3,1%. A produção industrial também passou pelo mesmo comportamento. Completando o cenário pessimista tem-se a crise no setor imobiliário, que representa até 30% do PIB chinês. Segundo a S&P Global, o rombo no financiamento de imóveis pode chegar a US$ 145 bilhões (aproximadamente R$ 733 bilhões), com o investimento imobiliário das incorporadoras retraindo 6,4% nos primeiros sete meses deste ano.

Mesmo em meio a estes dados alarmantes, a China mantém a sua política de controle sanitário em vigor, e o país vive um ciclo de endurecimento e relaxamento das medidas restritivas. Uma estimativa apontou, algumas semanas atrás, que aproximadamente 260 milhões de pessoas estavam sob efeito de lockdown, e 20% da população sofria algum tipo de restrição. Na semana passada, novos lockdowns foram impostos em regiões no oeste do país, como o Tibete e Xinjiang, além do centro industrial e exportador de Yiwu.

Estas incertezas ocasionadas pela continuação da política sanitária de controle a covid-19, associados aos dados econômicos negativos, impulsionaram o cenário baixista que vem prevalecendo para os preços internacionais dos derivados lácteos.

Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral no GDT e na Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), ambas as projeções seguem com cenário estável para os próximos quatro meses. Em meio às incertezas geradas pelo mercado extremamente volátil, as projeções do GDT mantêm os preços futuros na casa dos US$ 3.400 /tonelada. Para a NZX Futures, o cenário é um pouco mais otimista, porém semelhante, com os preços variando ao redor dos US$ 3.480 /tonelada.

Gráfico 4. Contratos futuros de leite em pó integral.

Fonte: GDT X NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2022.

E como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?

Para entendermos o impacto das negociações do evento GDT no mercado nacional, podemos considerar o câmbio desta segunda-feira (15/08/2022) — R$ 5,09 — e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 3.417 /tonelada), para chegarmos ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,08 /litro.

Esse valor está bem abaixo, se comparado com o leite pago ao produtor no mês de julho — fechado na média de R$ 3,19/litro (CEPEA/ESALQ) — e também inferior, se comparado ao preço do leite spot da primeira quinzena de agosto (R$ 3,38/litro – média Brasil).

Mesmo em meio ao recuo dos preços dos derivados lácteos no mercado interno, frente a demanda desestabilizada, o recuo dos preços internacionais, somado ao fortalecimento do real frente ao dólar, vem contribuindo para manter o cenário vigente, ou seja, as importações seguem ganhando força, e as exportações, desestimuladas. Desta forma, por hora, a tendência é de elevação nas importações e uma janela de exportações ainda fechada.

Um ponto de atenção é a disponibilidade do Mercosul. Grande parte da produção (pelo menos a curto prazo) de países como a Argentina e o Uruguai já está comercializada, em sua maioria com o próprio Brasil. As novas negociações tendem a chegar a partir do início de outubro.