Principalmente a partir do mês de abril de 2023, foi sendo observada uma importante queda nos preços físicos e futuros do milho e da soja no Brasil, e o principal motivo por trás dessa desvalorização é a oferta dos grãos.
Apesar da safra atual de 2022/23 ainda estar com a colheita em andamento, as projeções indicam que a produção total deverá registrar uma safra recorde.
No último levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), realizado no mês de maio, a projeção da safra 2022/23 se encontra com um resultado 11,0% acima da safra 2021/22 para a produção do milho e 23,3% acima para a produção de soja, como podem ser observados nos gráficos 1 e 2.
Gráfico 1. Produção de soja na safra 2021/22 e as projeções da CONAB para safra 2022/23.
Fonte: CONAB. Elaboração: MilkPoint Mercado.
Gráfico 2. Produção de milho na safra 2021/22 e as projeções da CONAB para safra 2022/23.
Fonte: CONAB. Elaboração: MilkPoint Mercado.
Com esse forte aumento, mesmo com diversos fatores internacionais interferindo negativamente na oferta e demanda global - como as exportações ucranianas e o acordo do Mar Negro e a demanda Chinesa (maior país consumidor atualmente) - dentro do Brasil essa expectativa de oferta recorde segue tendo um peso maior, pressionando assim os preços dos grãos e seus derivados.
Em contrapartida, também existem outros fatores que estão auxiliando nesta queda de preços observada, como a oferta de grãos dos EUA, que, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), também segue projeções de aumento, e mais recentemente a confirmação dos casos de Gripe Aviária no Brasil e a prorrogação do acordo do Mar Negro, que continuará permitindo que ocorram exportações de grãos da Ucrania pelos próximos dois meses.
Sobre a Gripe Aviária, apesar de não ter sido confirmado nenhum caso em aves comerciais, já foi gerada uma grande tensão nesse mercado que, por ter uma importância muito grande na demanda de grãos, trouxe maior volatilidade para os preços praticados e contratos futuros de milho e soja.
Além disso, há uma importante questão interna que também auxilia nesta pressão de baixa nos preços: o armazenamento desses grãos. Mesmo em desvalorização, a negociação por parte dos vendedores está ocorrendo, visto que não há armazenamento suficiente para tudo que está sendo produzido, colocando a necessidade de comercialização de boa parte do que está sendo colhido.
Como citado anteriormente, a colheita ainda não está finalizada, portanto para o curto e médio prazo não há indícios de que esses preços terão razões para voltarem a passar por valorizações, mas já está sendo possível observar que nos últimos dias a queda nos preços tem se tornado mais sutil, com alguns preços já apresentando até mesmo alguma estabilidade, sendo esta uma demonstração de que, em um cenário de normalidade, os preços podem estar próximos do limite inferior de negociações para esta safra.
Como os preços de milho e soja impactam a produção de leite?
A alimentação do rebanho é uma das principais despesas na produção de leite, sendo o concentrado – composto principalmente por soja e milho - o item mais caro.
A pesquisa do Cepea, realizada em abril, revelou uma queda de 1,3% no Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira em todo o Brasil. Essa retração nos custos foi impulsionada principalmente pela diminuição nos preços dos concentrados, que sofreram uma queda significativa de 2,38% em relação a março.
Essa redução nos custos está diretamente relacionada à retração dos preços dos grãos, visto sua importância dentro da pecuária leiteira.
Como já mencionado no texto, a colheita de ambas as culturas ainda está em andamento, o que indica não haver motivos para crer que o custo de produção relacionado aos grãos passará por valorizações no curto prazo. Portanto, este período segue sendo de melhores oportunidades de compras e diminuição dos custos de produção. Mas, é importante ficar atento aos próximos desdobramentos da safra e movimentações das commodities.