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Sempre que falamos sobre o papel do Brasil no mercado internacional de lácteos, destacamos nosso país como um importador. Neste texto, nossa intenção é explicar o impacto da adoção deste papel pelo Brasil para o produtor de leite. Como isso impacta no campo?
Sendo um país importador, obviamente, o Brasil importa mais derivados lácteos do que exporta. No ano de 2021, por exemplo, importamos cerca de 1 bilhão e 24 milhões de litros em equivalente leite, enquanto exportamos 143 milhões de litros.
Entre os principais responsáveis por trazer leite estrangeiro ao nosso país, estão os países do Mercosul, que é o bloco econômico formado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Em 2021, 55% dos produtos lácteos que chegaram ao Brasil foram importados da Argentina, 34% do Uruguai e 3% do Paraguai. Portanto, esses países representaram aproximadamente 90% de nossas compras externas de lácteos.
Dentre os produtos importados, destacam-se o leite em pó integral, que em 2021 representou 38% do total de produtos lácteos importados, o leite em pó desnatado, com 15%, os queijos, com 12%, e o soro de leite, com 11%.
Quando se trata de exportação, nosso país não tem destaque, enviando apenas cerca de 1% de toda a sua produção para o exterior. Alguns dos fatores que contribuem para essa realidade são os altos custos de produção, que inviabilizam preços competitivos, e a necessidade de se adequar às especificações exigidas.
De modo geral, o que determina a intensidade do fluxo das importações — assim como das exportações — é a competitividade do preço da mercadoria. Ou seja, quando o produto está mais caro no mercado interno do que no exterior, importamos mais desse produto.
Um dos fatores que determina a composição dos preços internacionais é a oferta e demanda de leite global. Além de ser consequência da interação entre demanda e oferta, o preço também pode ser influenciado pela taxa de câmbio, de modo que, quanto mais valorizada a moeda nacional estiver, mais atrativo será importar. Por outro lado, quanto mais desvalorizada a moeda estiver menos estimuladas as importações se tornam, pois passamos a precisar de mais quantidade da moeda para adquirir a mesma quantidade de um produto.
Na prática, como isso afeta o preço do leite pago ao produtor?
Quando as importações estão desestimuladas, “entra” menos leite no país, e, com isso, a disponibilidade é impactada, e a procura pelo leite no campo aumenta, podendo elevar seus preços.
Da mesma forma, quando as exportações estão favoráveis, “sai” mais leite, ocorrendo o mesmo princípio. A dinâmica inversa também ocorre. Portanto, quando as importações estão favoráveis, a procura por leite no campo tende a diminuir, bem como quando as exportações estão desestimuladas, impactando nos preços negativamente.
O momento atual
Entre os últimos meses de 2021 e o início de 2022, o Brasil observou um momento de patamares elevados para o dólar e também para os preços internacionais. A balança comercial respondeu, com as importações diminuindo e alguma janela para as exportações se abrindo. Os últimos movimentos do mercado, entretanto, alteraram esta dinâmica.
Os preços internacionais vêm caindo nas edições mais recentes do leilão GDT, e o real vem se valorizando frente ao dólar. Esta movimentação está acontecendo em conjunto com a elevação dos preços internos, o que favorece movimentos para importação e retrai as exportações (algo já observado nos resultados da Balança Comercial de março).
As importações, ao menos nos próximos meses, não devem crescer com tanta força, entretanto. Como citado anteriormente, nossos principais parceiros comerciais estão no Mercosul, e estes países enfrentam escassez de disponibilidade no momento.
Dessa forma, estar atento e conhecer as movimentações do mercado interacional é um indicativo da oferta de leite no Brasil, e consequentemente, da possível dinâmica de preços praticados no campo.
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