O caroço de algodão é um dos subprodutos da agroindústria mais utilizados em sistemas de produção de leite. Suas características nutricionais e preço favorável em boa parte do ano o colocam como um alimento preferencial na formulação de rações.
No entanto o caroço de algodão contém teores significativos de gossipol, um composto fenólico tóxico, especialmente danoso para animais monogástricos. Atua reduzindo a capacidade de transporte de oxigênio do sangue, resultando em respiração mais curta e edema dos pulmões.
Como é de conhecimento geral, o gossipol causa problemas de infertilidade em machos, de forma que seu fornecimento sem critérios pode ser um risco considerável.
No caroço de algodão não processado o gossipol encontra-se principalmente na forma livre. Durante o processamento para produzir o farelo de algodão (FA), o gossipol livre pode se ligar a proteínas, ficando pouco disponível. Nessa forma "ligada", o gossipol oferece poucos riscos aos ruminantes, pois não pode ser absorvido pelo trato digestivo.
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As pesquisas mostram que uma vaca pode ser alimentada com até 24 g de gossipol por dia sem problemas. Em touros o limite máximo é de 30 mg gossipol total por kg de peso vivo. Estes níveis dificilmente serão atingidos, pois o caroço de algodão contém apenas 6g de gossipol por kg. Assim, desde que se utilize o subproduto nos níveis recomendados, o risco do gossipol é pequeno.
Considerando os valores acima, uma vaca leiteira pode receber até 3 kg de caroço de algodão por dia, e um tourinho de 300 Kg poderia ingerir no máximo 9g de gossipol por dia, o que se atinge fornecendo-se 1,5 Kg. Já para touros com mais de 500 Kg o nível máximo de ingestão de gossipol seria de 15g/dia, o que seria atingido com 2,5 Kg de caroço de algodão, valor que já se aproxima do limite de fornecimento diário, em função do óleo.
Existe uma certa preocupação com relação a animais jovens, principalmente se submetidos à mesma dieta de vacas em lactação. Mas nada que justifique uma proibição à utilização do caroço, especialmente na dieta de machos jovens destinados à reprodução. Quanto a touros adultos, mais pesados, os valores se tornam mais folgados e os riscos menores.
Com relação a bezerros, o fornecimento de caroço ou farelo de algodão não é recomendado nos primeiros 3-4 meses de vida, por não estarem com seu rúmen totalmente funcional, o que diminui a capacidade de detoxificação do gossipol.