O ácido linoleico conjugado (CLA) é um grupo de lipídios poliinsaturados que possuem várias ligações duplas na sua molécula. Ele é encontrado naturalmente em produtos lácteos e carnes de animais ruminantes, como vacas e ovelhas. Esse tipo de gordura é conhecido por trazer muitos benefícios para a saúde. O CLA pode ajudar a prevenir o câncer, combater doenças do coração, melhorar o controle do diabetes e reduzir inflamações no corpo. Além disso, ele pode ser um aliado no combate à obesidade e na regulação do sistema imunológico. Por todas essas propriedades, o CLA é considerado um nutriente funcional importante para a saúde humana.
Entre os produtos lácteos, o queijo se destaca pela presença de compostos benéficos à saúde, como os ácidos graxos e o próprio CLA. No entanto, a quantidade de CLA presente no queijo geralmente é menor do que o necessário para exercer um impacto significativo na dieta das pessoas. Para que os efeitos benéficos do CLA sejam alcançados, é estimado que um indivíduo de 70 kg deve ingerir cerca de 3 gramas de CLA por dia. No entanto, atingir essa quantidade apenas com o consumo de queijo pode ser difícil, pois a concentração de CLA no queijo está abaixo do nível mínimo necessário. Portanto, outras fontes de CLA ou suplementos podem ser necessários para se obter os benefícios desejados.
O CLA é encontrado naturalmente em alimentos derivados de ruminantes porque ele é formado durante a biohidrogenação das gorduras na dieta desses animais. Esse processo ocorre no rúmen, graças à ação de enzimas produzidas por bactérias anaeróbias, principalmente a Butyrivibrio fibrisolvens. Além disso, o CLA também é sintetizado na glândula mamária dos ruminantes pela enzima Δ-9 dessaturase.
A qualidade e a concentração de CLA nos produtos lácteos são influenciadas por vários fatores. A seleção genética do rebanho e uma dieta rica e balanceada para os animais são cruciais para a produção de derivados lácteos com altos níveis de CLA.
Além disso, outras estratégias estão sendo exploradas para aumentar a concentração de CLA nos produtos lácteos. Entre elas, a inclusão de microrganismos específicos na dieta dos ruminantes e no processo de fabricação dos produtos. Essas abordagens visam melhorar ainda mais a qualidade nutricional dos alimentos derivados de ruminantes, tornando-os mais benéficos para a saúde humana.
Fonte: autores.
Recentemente, vários estudos mostraram que algumas bactérias láticas (LAB), como Limosilactobacillus reuteri, Lactiplantibacillus plantarum, Lactococcus lactis ssp. cremoris e cepas de bifidobactérias, podem converter eficientemente o ácido linoleico (LA) em CLA. Essas bactérias são encontradas em alimentos como leite, kefir, queijos, kombucha e outros produtos fermentados.
A conversão do LA em CLA ocorre devido à atividade da enzima linoleato isomerase presente nessas bactérias. Esse processo melhora o perfil lipídico dos produtos fermentados, aumentando a quantidade de CLA e, consequentemente, os possíveis efeitos benéficos para a saúde. Portanto, a inclusão de alimentos fermentados na dieta pode ser uma estratégia eficaz para aumentar a ingestão de CLA, aproveitando os benefícios proporcionados por essas bactérias láticas.
Apesar do potencial promissor, a pesquisa sobre a conversão de ácido linoleico em CLA por bactérias láticas ainda é limitada. Estudos recentes destacam queijos coalho, petit-suisse e queijo caprino como os principais veículos para a introdução de Lactobacillus acidophillus e Lactobacillus plantarum. Esses são os microrganismos mais estudados para o enriquecimento de derivados lácteos com CLA.
Essas pesquisas focam tanto na viabilidade dos probióticos quanto no desenvolvimento de características sensoriais dos produtos. Isso significa que, além de aumentar a concentração de CLA, os cientistas também estão preocupados em manter ou melhorar o sabor, a textura e o aroma dos queijos e outros produtos lácteos. A combinação desses fatores é essencial para garantir que os produtos enriquecidos sejam não apenas saudáveis, mas também agradáveis ao paladar dos consumidores.
Adaptado de: Fernandes et al. (2022).
A biossíntese bacteriana de CLA é uma abordagem atraente para a produção comercial devido à sua alta seletividade de isômeros e ao processo de purificação conveniente. Isso é particularmente vantajoso para a criação de alimentos funcionais com boa capacidade antioxidante. Assim, a adição de culturas bacterianas iniciadoras, capazes de gerar compostos bioativos, é de grande interesse para o desenvolvimento de queijos e outros derivados lácteos.
Essa estratégia permite o enriquecimento natural dos produtos com compostos bioativos, oferecendo novas possibilidades para a elaboração de produtos lácteos funcionais. A inclusão de culturas bacterianas específicas pode não apenas melhorar o perfil nutricional dos alimentos, mas também manter ou até aprimorar suas características sensoriais. Dessa forma, é possível desenvolver produtos lácteos que não apenas atendem às demandas de saúde dos consumidores, mas também são saborosos e agradáveis de consumir.
Agradecimentos:
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Processo n. 303074.2021.3) pelo auxílio na realização desta pesquisa.
Referências:
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Autores: Bruna Samara dos Santos Rekowsky1, Matheus da Silva do Nascimento1, José Givanildo da Silva1, Marion Pereira da Costa1
1 Laboratório de Inspeção e Tecnologia de Leite e Derivados – LaITLácteos – Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade Federal da Bahia.