Influência da integração pecuária floresta na produção de leite

O Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo, ficando atrás apenas da Índia e Estados Unidos (FAO, 2020). Em nível nacional, o leite está entre os seis produtos de maior importância na agropecuária, sendo essencial no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda (EMBRAPA, 2016). Assim, para ser produzido dentro dos padrões de qualidade, deve-se considerar a raça, a sanidade e o ambiente em que os animais se encontram.

Entretanto, quando um destes pilares é desequilibrado, ocorrem alterações na produtividade dos animais.

Variações na temperatura ambiente e umidade do ar, faz o animal ativar seu sistema termorregulatório na tentativa de manter o bom funcionamento do organismo. Como este mecanismo demanda gasto energético, a produção, composição de leite e a reprodução são prejudicados. O sinal mais comum de estresse térmico por calor é o aumento da frequência respiratória para promover perda de calor por meio da evaporação.

Em sistemas intensivos como compost barn e free stall, ventiladores e aspersores estão entre as estratégias para amenizar o estresse por calor e a queda da produtividade animal. Já em sistemas a pasto, utiliza-se comumente o sombreamento artificial por meio de sombrites ou por árvores. Uma alternativa é a integração pecuária floresta (IPF), que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais na mesma área de forma sustentável.

O sombreamento proporcionado no sistema IPF diminui a temperatura do ar e a radiação solar, influenciando o hábito de pastejo frente às alterações climáticas. Assim, o animal consome mais alimento e, energia antes gasta para equilibrar a própria temperatura, agora é direcionada para a produção de leite.

Além disso, a qualidade do pasto no sistema IPF é melhor com maior nível de proteína, pois tem uma maior ciclagem de nutrientes. E como o animal passa 30% a mais do seu tempo ruminando, os nutrientes do pasto ficam mais disponíveis, favorecendo o aumento da produção de leite.

Em estudo realizado pela Embrapa, vacas leiteiras em sistema ILPF aumentaram 19% à produção de leite individual em dias mais quentes e 5% na média anual comparado ao sistema em pleno sol. Os animais também ruminaram mais tempo, demonstrando uma situação de conforto térmico (Embrapa, 2018).

Ainda de acordo com a Embrapa (2021), a produção leiteira das fêmeas Gir e Girolando cresceu 22% e 24%, respectivamente, em piquetes sombreados em comparação à produção em manejo tradicional. O sombreamento também proporcionou melhora na qualidade do leite, aumentando em 6% a quantidade de extrato seco desengordurado e, consequentemente na quantidade de sólidos.

Nos sistemas ILPF, é possível optar por árvores de ciclos longos como o eucalipto, mogno africano e o paricá, por terem um rápido crescimento, caule alto e reto com folhas persistentes, utilizados na comercialização da madeira. Outras espécies como a canafístula com uma copa ampla e globosa; baru uma espécie nativa do cerrado e cedro-rosa um arbusto de tronco reto e copa alta também são adequadas.

Recomenda-se o plantio das mudas com espaçamento entre plantas de 2-4 metros no primeiro, segundo e terceiro desbaste. Já o espaçamento entre as fileiras deve ser acima de 30 metros para controlar o sombreamento no pasto. Caso contrário, serão necessários mais desbastes. A distribuição das árvores no plantio deve ser realizada preferencialmente no sentido Leste-Oeste com curva de nível para evitar erosão no solo. Sendo necessário uma adubação com nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), realizada no dia do plantio ou até 5 dias após o mesmo, aplicando as doses do adubo ao lado da muda. Além disso, é recomendado fazer o controle de pragas como formigas e cupins na área, antes do plantio com inseticidas a base de Fipronil, reduzindo perdas nas mudas logo no inicio do desenvolvimento.

Assim, os sistemas integrados revelam ter potencial suficiente para amenizar os efeitos negativos do estresse por calor, principalmente em regiões de clima tropical, auxiliando no desempenho dos animais de produção e na lucratividade do produtor. Contudo, o fornecimento de sombra requer planejamento de acordo com o tipo de sistema, raça leiteira, manejo e disponibilidade de recursos financeiros.

Autores
Larissa de Souza Reis¹, Thaisa Campos Marques¹, Karen Martins Leão¹.
¹Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde
 

Referências

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