Luis Fernando Laranja da Fonseca e Daniela Rodrigues Alves
A rentabilidade da atividade de produção leiteira, como todas as atividades econômicas, é determinada pela receita, obtida da venda de leite, descontando-se os custos e despesas decorrentes do processo de produção.
A receita é determinada pela quantidade negociada, ou seja, volume de leite produzido que é vendido pelo produtor, e o preço obtido pelo leite no momento de venda.
Assim, temos que: (volume X preço ) - custo de produção = LUCRO .
Ao falarmos de volume de produção, parece ser unânime entre os especialistas no mercado leiteiro que o aumento do volume é essencial para aqueles que querem sobreviver à competição, à estreita margem de lucro e às oscilações de mercado.
Os custos de produção, por sua vez, têm sido bastante discutidos ultimamente entre os que procuram definir qual o melhor sistema de produção que se encaixa às condições brasileiras, para que o produtor possa obter os maiores índices de produtividade e reduzir ao máximo as despesas de sua produção, obtendo assim as maiores margens de rentabilidade.
No entanto, devemos lembrar que mesmo investindo no aumento de volume e reduzindo ao máximo os custos de produção, o produtor ainda se encontra a mercê do preço oferecido pelo leite.
Uma das maneiras de se obter um maior preço pelo leite vendido vem sendo adotada por diversos produtores que buscam através da melhor qualidade do produto e garantia de um volume fixo de entrega, receber um preço diferenciado dos demais produtores. Porém, mesmo utilizando-se destas estratégias, ainda estão sujeitos aos fatores externos que determinam a variação dos preços, como as oscilações do mercado econômico e a sazonalidade da produção e do consumo, bastante conhecida como a lei da oferta e da procura. Isto torna esta variável aparentemente impossível de ser controlada, e portanto, determinante do sucesso ou insucesso econômico dos produtores.
Para contornar esta situação, os produtores de leite dos Estados Unidos encontraram no mercado futuro e no mercado de opções, uma saída para minimizar o risco da variação de preços pagos ao leite por eles produzidos.
A instabilidade dos preços pagos aos produtores de leite nos Estados Unidos tem sido bastante preocupante, especialmente neste momento em que o setor leiteiro americano começa a enfrentar uma nova fase. O suporte federal aos preços de leite têm diminuído com planos de que sejam eliminados até o final do ano 2000. Os produtores encontram-se diante de um mercado em que os preços pagos pelo leite sobem e descem de maneira imprevisível, o que leva à incerteza os lucros da produção.
O mercado futuro e o mercado de opções promovem proteção contra os riscos da variação e da imprevisibilidade dos preços. Através de estratégias como estas, é possível assegurar um preço para o produto no futuro, permitindo aos participantes que se defendam contra as variações, estabilizando suas margens de lucro e podendo, portanto de maneira mais segura, planejar negociações e até mesmo novos investimentos.
É interessante ressaltar que a variação dos preços de leite não é prejudicial somente aos produtores de leite, mas é, sem dúvida alguma, danosa a todos os envolvidos na compra ou venda de leite e derivados, como cooperativas e indústrias de produtos lácteos. Estes, portanto, acabaram utilizando as mesmas estratégias dos produtores, para se protegerem contra o risco de preços desfavoráveis, fixando o preço do leite a ser negociado no futuro.
A "commodity" leite e o cálculo de seu preço
O mercado de laticínios americano se caracteriza por possuir um grande número de produtores e processadores de leite, o que assegura a este produto grande competitividade e volume de negociações. Porém, é a volatilidade dos preços que torna essencial a busca de estratégias para tentar controlar o risco de uma queda ou aumento inesperados de preço.
O preço do leite nos Estados Unidos possui a peculiaridade de sofrer ao mesmo tempo influências do mercado, mas ter como base um valor determinado pelo governo, definido mensalmente pelo Departamento de Agricultura. Ao contrário da idéia geral que existe sobre mercado de leite nos EUA, o preço pago ao produtor acaba sendo regulado pelo governo (ver artigos anteriores da secção "conjuntura láctea").
Basicamente o preço do leite é composto por:
1- BFP : Preço Básico. Definido pelo governo todo dia 5 de cada mês, calculado através fórmulas específicas que consideram o preço pago pelo leite B (leite industrial) recebido pelas indústrias de Minnesota e Wisconsin, com ajustes baseados no preço de produtos lácteos de determinadas regiões do país, sofrendo, portanto, influências do mercado.
2- Os differentials : diferenciais de preço. Pago para as diferentes classes de leite (Classe I: destinado à produção de leite fluido; Classe II: destinado a produtos como sorvete, iogurte, creme e requeijão; Classe III: destinado à produção de queijos, manteiga, leite em pó e condensado), com valores definidos para cada região do país em função da demanda e oferta regional de leite.
Devemos lembrar que ainda existem pagamentos de bônus pela qualidade do leite, porém estes, assim como os diferenciais, representam a menor parte do preço. O BFP é, portanto, o maior determinante de preços nas fazendas, cooperativas e laticínios, sendo utilizado por cerca de 90% das indústrias de laticínios norte americanas.
O mercado futuro do leite fluído e do BFP
A partir de 1997 a Chicago Mercantile Exchange e a Coffee, Sugar & Cocoa Exchange lançaram os primeiros contratos futuros de BFP. Desde então essa estratégia para comercialização do leite vem sendo adotada gradualmente por um número cada vez maior de produtores.
Apesar da lenta adoção dessa estratégia por parte dos produtores americanos, estima-se que em alguns anos grande parte do leite produzido nos EUA será comercializado nas bolsas de mercadorias e futuros.
O próprio governo americano vem estimulando esse tipo de comercialização. Recentemente o Departamento de Agricultura americano definiu um plano em que pretende selecionar 5% dos produtores americanos e arcar com os custos iniciais da aplicação no mercado futuro de leite, a fim de estimular a adoção dessa prática em todo país.
Parte da refratariedade dos produtores americanos a essa nova ferramenta comercial vem sendo atribuída a aparente complexidade do processo, que exige um conhecimento mínimo sobre o mecanismo de funcionamento da bolsa de mercadorias e futuros.
Numa operação a futuro, duas partes realizam a compra e venda de determinada quantidade de um bem, por um preço determinado por elas. Os participantes desta transação negociam a compra ou venda de contratos futuros, ou seja, mercadorias com qualidade e quantidade padronizadas, onde a única variável que deve ser negociada é o preço.
No mercado futuro, as duas partes - comprador e vendedor - negociam o preço e o número de contratos da mercadoria padronizada. Na verdade, compradores e vendedores não se encontram frente a frente, mas utilizam-se de corretores para realizarem as suas transações. O cliente dá uma ordem ao seu corretor, especificando as características do negócio (quantidade, condições de preço, etc.); o corretor, através de seu representante no recinto de negociação (um operador), executa a ordem no pregão e confirma a realização da operação ao cliente.
Existem dois tipos de participantes no mercado futuro: os Hedgers e os Especuladores.
A função básica de qualquer mercado futuro é servir aos hedgers. São eles que buscam através da compra ou venda a futuro, eliminar o risco de perdas decorrentes das variações de preços das commodities com que trabalham. Podem ser divididos, basicamente, em hedger de venda ou hedger de compra. Os primeiros buscam defesa contra a possível queda nos preços do produto que pretendem vender no futuro. Desta forma, vendem a futuro, fixando um preço de venda para a data determinada. Estes são, portanto, os vendedores de leite, produtores de leite cru.
De forma contrária, os hedgers de compra tentam defender-se contra as altas nos preços das commodities pelas quais têm interesse de compra. São os compradores de leite, cooperativas, indústrias de leite fluido e derivados.
Já os especuladores buscam ganhos financeiros através das transações de compra e venda dos contratos e são tanto pessoas físicas quanto instituições que se utilizam deste mercado como forma de investimento financeiro.
(continua na semana que vem).