O conhecimento dos fatores que determinam a qualidade da água, ligados às necessidades dos animais para produção e saúde, permitem avaliar o recurso hídrico para fins produtivos.
Os critérios geralmente levados em consideração para a determinação da qualidade da água potável são suas características físico-químicas e organolépticas, presença de compostos tóxicos, excesso de minerais e presença de bactérias patogênicas (NRC, 2001).
Na pecuária bovina a qualidade da água, assim como a quantidade, pode afetar o consumo de ração e a saúde animal, uma vez que a má qualidade da água normalmente resultará na redução do consumo de água e ração.
Ao avaliar a qualidade da água para o gado, considere se o desempenho do gado será afetado; se a água poderia servir como portadora de doenças; e se a aceitabilidade ou segurança dos produtos animais podem colocar em risco a saúde humana. (Landefeld, 2003).
Na produção avícola, a água deve ser considerada um importante fator de produção, assim como instalações, genética, nutrição e saúde. Ao realizar uma análise em uma granja, muitas vezes importância de conhecer a fundo todas as variáveis relacionadas à qualidade da água é negligenciada ou subestimada. Avaliar a qualidade da água permite conhecer o seu valor nutricional e a sua utilidade como veículo terapêutico. (Bertsch, 2019)
A quantidade de materiais presentes na água que podem ser consumidos pelos suínos sem danos depende: da quantidade dos mesmos materiais nas rações; a necessidade diária de água dos suínos; o período em que os suínos recebem água; a idade e condição dos suínos e a presença de materiais interativos tanto na ração quanto na água. Materiais como o sal podem ser consumidos em níveis elevados se os suínos estiverem acostumados a esses materiais. Os problemas geralmente ocorrem quando as fontes de água são trocadas repentinamente. (OMAFRA. 2020)
O objetivo da produção animal, seja qual for a espécie, é produzir a maior quantidade, no menor tempo e com a melhor qualidade e segurança aliada a mínimos impactos ambientais. Para isso os investimentos em genética, nutrição e ambiência são considerados o tripé dos bons resultados. Mas pouco ou nenhum investimento realmente é empreendido para se conhecer a água.
Surpreende notar que o investimento necessário para se obter uma boa água esteja muito aquém daqueles já realizados em nutrição, por exemplo, mas que sejam ignorados. É um grande paradoxo que produtores e empresas invistam tanto em nutrição, por exemplo, e ignorem os prejuízos ou lucros que poderiam ter, se apenas conhecessem melhor sua água, e invariavelmente não alcançam todo potencial nutricional, sem saber que é a água que pode estar, ironicamente, levando seus resultados.
Muitas pesquisas e trabalhos publicados, que podem ser facilmente encontrados na internet como os já citados nesse texto, mencionam estudos realizados por nutricionistas que alertam sobre a necessidade de conhecer melhor a água utilizada e advertem sobre a falta de investimento neste tema.
O descaso com a água não ocorre apenas no Brasil, mas aqui, infelizmente, faltam estudos sobre o tema, não há disciplinas específicas sobre o assunto nos cursos ligados ao setor de produção animal e não há incentivo a pesquisas aprofundadas que avaliem o impacto da qualidade nas diferentes espécies animais.
A cultura da abundância hídrica associada ao fato e ser um recurso gratuito gerou ao longo dos anos um total descuido com o principal insumo necessário para se alcançar os resultados esperados na produção animal.
Entretanto, a abundância e a gratuidade podem estar acabando. Regiões tipicamente ricas em chuvas estão sofrendo enorme escassez. As bacias hidrográficas destas áreas estão ficando sobrecarregadas apontando a necessidade de melhor gestão para evitar exaustão o que levará, inevitavelmente, a valorar o recurso hídrico, ou seja, um dia a conta vai chegar e a produção animal terá que pagar pela água utilizada.
Mas, retomando os efeitos a qualidade da água na performance e qualidade os produtos na produção animal, seguem efeitos dos três contaminantes mais comumente encontrados nas águas da produção animal no Brasil.
- Sólidos Totais Disponíveis: em níveis elevados são os contaminantes mais encontrados nas águas, responsáveis por causar efeitos nocivos – como diarreia – em gados, aves e suínos. Os problemas para o gado começam acima e 3000 mg/L podendo lavar a morte se acima de 7000 mg/L. Para aves o ideal é que o STD esteja abaixo de 1000 mg/L, sendo que acima e 3000 mg/L causa diarreia severa e aumenta mortalidade. Para suínos deve ser menor que 3000 mg/L.
- Sulfato: forma sais com cálcio e sódio além de causar deficiência de cobre, zinco, ferro e magnésio. A água contendo 1000 mg/l de sulfatos pode causar diarreia em suínos jovens. Para aves o recomendado é menor que 200 mg/L, acima disso causa diarreia. Para o gado é recomendado menor de 500 mg/L para bezerros e menor que 1000 mg/L para adultos o excesso causa taxas de crescimento baixa, infertilidade, baixa imunidade, deficiência de vitamina B1 e pode causar a morte.
- Nitrato e Nitrito: No metabolismo o nitrato é convertido na forma tóxica nitrito que se unem à hemoglobina para formar metahemoglobina, reduzindo assim a capacidade de assimilação o oxigênio pelo sangue, cianose.
Para o gado é segura abaixo de 10 mg/L, deve ser balanceado na dieta se estiver entre 10-20 mg/L e torna-se inseguro acima de 20 mg/L, podendo levar a morte se acima de 40 mg/L. Para aves o ideal é abaixo de 10 mg/L pois acima desse limite pode causar ossos fracos, problemas de fertilidade ou até a morte. São bem tolerados pelos suínos, uma vez que suínos não têm a capacidade de converter nitratos na forma tóxica de nitrito. Suínos (incluindo recém-desmamados) podem tolerar 1320 mg/L nitratos e 165 mg/L nitritos sem perda de saúde, e sem afetar a taxa de crescimento ou desempenho reprodutivo. Como tanto a ração quanto a água podem conter nitratos e nitritos, ambas as fontes devem ser consideradas ao investigar um possível envenenamento.
Há muitos outros contaminantes com potencial de causar prejuízos ou mesmo serem benéficos para a produção animal como sódio, ferro, zinco, selênio, chumbo, cloreto, cobre, alcalinidade e outros, sendo que muitos destes elementos podem ser desejados na dieta animal, mas o que vai diferenciar o veneno do nutriente oferecido pode ser apenas a dose.
Ainda temos que considerar as contaminações por pesticidas e agrotóxicos de uso regional além a contaminação bacteriana que não será abordado, mas devem ser analisados na água e consumo.
A realização de uma simples análise da água poderia elucidar muitos pontos dos resultados de uma produção que não responde como o esperado. Produtores tem ganhos reduzidos, empresas captam produtos em menor quantidade e qualidade e fornecedores de insumos veterinários, nutricionais, genética e equipamentos se esforçam para alcançar os resultados prometidos, enquanto a água pode estar lentamente minando todos estes esforços.
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Biografias
NRC. (2001). Nutrient Requirements of Dairy Cattle: Seventh Revised Edition, 2001. In Subcommittee on Dairy Cattle Nutrition, Committee on Animal Nutrition, National Research Council (7th ed., Vol. 1, Issue 1). National Academy of Sciences. https://www.nap.edu/catalog/9825/nutrient-requirements-of-dairy-cattle-seventh-revised-edition-2001
Landefeld, M. (2003). Water Effects on Livestock Performance. https://ohioline.osu.edu/factsheet/ANR-13
Bertsch, G. (2019). Water quality in poultry production. Veterinaria Digital. https://www.veterinariadigital.com/en/articulos/water-quality-in-poultry-production
OMAFRA. (2020). Water Quality and Pig Performance. 1–20. https://www.omafra.gov.on.ca/english/crops/facts/00-067.htm
Patience, J. F. (2012). The importance of water in pork production. Animal Frontiers, 2(2), 28–35. https://doi.org/10.2527/af.2012-0037