Na edição de 2001 do NRC (National Research Council), para calcular a quantidade de Ácidos Graxo (AG) nos alimentos utilizava-se a fórmula AG = EE (extrato etéreo) – 1; os AGs eram agrupados em 3 categorias para estimar a digestibilidade, sendo considerado o valor de 92% para a digestibilidade basal.
Na publicação do NRC (2021), o conceito de EE não é mais utilizado, sendo substituído por AGs. Além disso, os AGs foram agrupados em 11 categorias e tiveram a digestibilidade basal reduzida para 73%.
Diante disso, os 3% de AGs contidos nos alimentos padrões de dietas a base de silagem de milho, milho e soja, por exemplo, tiveram uma queda de cerca de 20 pontos percentuais na digestibilidade. Outro ponto abordado na nova versão, é que os AGs suplementados na dieta são responsáveis pela redução da emissão de metano, onde a inclusão de 1% de AG na dieta corresponde a 5% menos metano emitido no meio ambiente.
Esse conjunto de alterações têm um impacto muito grande na estimativa de Energia Digestível (ED), principalmente quando consideramos a redução da digestibilidade da dieta, e na Energia Metabolizável (EM), considerando que a suplementação de ácidos graxos gera uma redução de metano emitido pelas vacas.
O NRC (2021) traz um modelo matemático simples para digestão dos AGs (Daley et al.,2020), um modelo estático, onde o NRC não considerou que a variação do teor de AG na dieta pode alterar a sua digestibilidade e, consequentemente, o consumo de matéria seca (CMS).
Quanto maior a quantidade de gordura suplementada, menor a digestibilidade da dieta. Da mesma forma, dependendo do tipo de gordura e da inclusão de uma 2ª fonte de gordura, a digestibilidade da dieta pode ser aumentada.
Por isso, ao formular uma dieta para vacas em lactação é muito importante se atentar para não superestimar a energia da dieta. Na Tabela 1, é possível constatar essa influência.
Tabela 1 – Efeito da quantidade de gordura suplementada na digestibilidade do AG suplementado.
De forma geral, observa-se uma redução na digestibilidade aparente dos AGs com maiores concentrações de gordura na dieta. Logo, a fonte de gordura ofertada deve ser levada em consideração, pois o CMS pode ser alterado por diferentes fontes de gordura.
Se a fonte de gordura for um AG insaturado, o CMS pode permanecer o mesmo, mas pode haver queda da gordura do leite e consequente aumento no escore de condição corporal (ECC), por isso o ECC se torna mais relevante, já que nesse novo modelo ele é considerado no cálculo de estimativa de CMS, podendo refletir problemas relacionados a redução de digestibilidade e consequente alterações no CMS relacionadas a gordura.
Já para vacas em final de lactação, o NRC (2021) sugere que estas sejam alimentadas com dietas ricas em fibra e ácido palmítico para manutenção de ECC. Entretanto, a suplementação com gordura para vacas no final de lactação precisa passar por uma avaliação econômica criteriosa, já que possui um preço elevado devendo ser priorizada para uso na suplementação de categorias mais importantes, como vacas em início de lactação e vacas no pico de lactação.
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Autoras
Amanda Sant’Ana - Mestranda em Nutrição de Ruminantes, Departamento de Zootecnia, UFV
Ana Caroline Teles - Mestranda em Nutrição de Ruminantes, Departamento de Zootecnia, UFV
Polyana Pizzi Rotta - Professora Adjunta, Departamento de Zootecnia, UFV
Referências
Daley, V. L., Armentano, L. E., Kononoff, P. J., & Hanigan, M. D. (2020). Modeling fatty acids for dairy cattle: Models to predict total fatty acid concentration and fatty acid digestion of feedstuffs. Journal of Dairy Science, 103(8):6982-6999.
National Research Council. 2021. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 8th rev. ed. ed. National Academic Press, Washington DC.