Utilizado como principal referência na nutrição animal para formulação de dietas, o NRC (National Research Council), agora denominado NASEM (National Academy of Sciences, Engineering and Medicine) passou por atualizações na área de bovinocultura de leite, na qual não sofria modificações desde sua última versão, do ano de 2001.
Abordando parâmetros, em sua maioria, de vacas da raça Holandesa, com algumas considerações para a raça Jersey, as novas equações conferem maior acurácia de dados referentes às exigências nutricionais dos animais para nutrientes como matéria seca, fibra, proteína e gordura.
O principal enfoque na exigência de proteína de vacas leiteiras agora se dá para aminoácidos específicos, importantes para funções como sinalização intracelular de respostas ao estresse, sendo metionina, lisina, histidina, isoleucina e leucina os principais deles.
Inicialmente, ao formular uma dieta, tomava-se como padrão a ideia de proteína bruta (PB) como um todo. Ao longo do tempo, dividiu-se a PB do alimento em proteína verdadeira, que é a parte de proteína disponível ao animal, compostos nitrogenados não proteicos, conhecidos como NNP e a fração de proteína ligada a frações indigestíveis do alimento, denominadas de PIDA (NRC, 2001).
Sendo a proteína formada por cadeias de aminoácidos, a nova atualização do NASEM aprofunda na porção da proteína verdadeira e os aminoácidos que, de fato, serão absorvidos e utilizados pelo organismo animal.
Ao chegar no rúmen, partes da molécula de proteína são degradadas pelos microrganismos da flora ruminal, denominadas proteína degradável no rúmen (PDR). A PDR, juntamente com os compostos nitrogenados, formará a proteína microbiana (Pmic), que chegará ao intestino delgado e será absorvida. A proteína não degradada no rúmen (PNDR) escapa dos compartimentos gástricos sem degradação e será aproveitada no intestino do animal. Porém, nem toda PNDR será absorvida, sendo uma parte perdida pelas fezes, o que acarreta perdas de nutrientes e, consequentemente, prejuízos.
Ainda, para que um nutriente seja absorvido, é necessário que ele seja digestível. Desta forma, é necessário que o nutricionista adicione a digestibilidade do alimento no cálculo da dieta, para que não haja balanço negativo de nutrientes (Berchielli et al., 2011).
Com maior banco de dados e estudos mais recentes, novos valores médios de PDR e PNDR estão disponíveis para os alimentos, e suas digestibilidades foram adicionados à biblioteca do NASEM.
Assim, o aproveitamento da proteína do alimento pelo animal se dá pela absorção da porção PNDR e da Pmic, denominados de proteína metabolizável (PM), disponível ao organismo para funções como ganho de peso, gestação e produção de proteína do leite. Tanto a degradação de PDR e reciclagem de nitrogênio no rúmen quanto a absorção de PNDR no intestino devem suprir as exigências do animal para a síntese de PM.
Apesar de ainda distante para uso no Brasil, uma vez que mais estudos sobre a potencial produção de PM de dietas com alimentos brasileiros sejam necessários, as novas equações do NASEM 2021 calculam as exigências de PM do animal para formular a dieta, não recomendando mais que se baseie na PB dos alimentos nas formulações. Como a PDR e PNDR possuem papeis diferentes no organismo animal, é fundamental caracterizar os alimentos que serão utilizados na dieta quanto aos níveis desses componentes garantindo o melhor aproveitamento da proteína ingerida e evitando o excesso desses compostos.
Além de aminoácidos, a degradação de proteína resulta em compostos nitrogenados, principalmente a amônia (NH3), utilizada pelos microrganismos ruminais como energia para incorporação na Pmic. Quando em excesso, os nutrientes podem ser excretados na forma de fezes ou urina ou, então, podem passar a serem utilizados como fonte energética, e não mais proteica, pelo metabolismo (Schwab e Broderick, 2017).
Dois grandes problemas devem ser evidenciados: o prejuízo econômico - para além da simples excreção e perda de nutrientes que seriam viáveis ao organismo – como o direcionamento de compostos proteicos para fins energéticos, uma vez que os alimentos que são fontes de proteína são os mais onerosos da dieta.
Além disso, a perda de nitrogênio para o meio ambiente pelas fezes e urina pode ocasionar problemas ambientais, pois o nitrogênio excretado em excesso é um potente poluente ambiental e prejudicial à saúde animal e de humanos (Wang et al., 2018).
As atualizações do NASEM visam a nutrição de precisão, tema bastante discutido nos últimos anos por profissionais da área. Estratégias dietéticas como a diminuição da PDR e o aumento da PNDR podem alterar a rota de excreção de nitrogênio, com os objetivos principais de melhorar a eficiência do sistema produtivo e reduzir custos e prejuízos, mas, indiretamente, contribuir para a preservação ambiental.
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Autores
Letícia Guerra Piuzana - Estudante Pós-Graduação Zootecnia UFV
Tássia Barrera de Paula e Silva - Estudante Pós-Graduação Zootecnia UFV
Polyana Pizzi Rotta - Professora Departamento de Zootecnia UFV
Referências
BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. 2011. Nutrição de ruminantes. 2ª ed. Jaboticabal: Funep. 616 p.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC), 2001. Nutrient Requirements of Dairy Cattle, 7th revised edition. National Academic Science, Washington, DC, USA.
NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, ENGINEERING AND MEDICINE (NASEM), 2021. Nutrient Requirements of Dairy Cattle, 8th revised edition. National Academic Science, Washington, DC, USA.
Schwab C.G, Broderick G. A. 2017. A 100-Year Review: Protein and amino acid nutrition in dairy cows. Journal of Dairy Science 100:10094-10112.
Wang, Y., Li, X., Yang, J., Tian, Z., Sun, Q., Xue, W., Dong, H. 2018. Mitigating greenhouse gas and ammonia emissions from beef cattle feedlot production: a system meta-analysis. Environmental Science & Technology 52:11232-11242.