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Laminite bovina: um perigo silencioso

VÁRIOS AUTORES

FAMÍLIA DO LEITE

EM 25/06/2020

11 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 20/04/2023

Os problemas de casco, reprodutivos e a mastite estão entre as principais afecções encontradas na produção de leite, sendo também uma das predominantes razões de descarte de animais.

As afeções podais são responsáveis por quase a totalidade das claudicações na espécie bovina, sendo esta a manifestação clínica que representa dor e desconforto. Esse tipo de enfermidade apresenta grande impacto econômico na pecuária leiteira, causando enormes prejuízos, além de afetar o bem-estar do indivíduo e do rebanho.

Nesse cenário, a Laminite é uma das mais importantes causas de claudicação nos bovinos, pois diversas outras lesões estão associadas a ela.

 

O que causa laminite em bovinos?

A laminite em bovinos é uma afecção de origem multifatorial, com a combinação de diversos fatores de risco, tendo como coeficientes principais a nutrição e a ambiência. Uma vez que a produção de leite é a principal atividade econômica em diversos sistemas, é fundamental que o produtor se atente para a laminite bovina e outras enfermidades podais.

O sistema de confinamento surgiu com a necessidade de intensificar a produção de leite e aumentar a lucratividade. Entretanto, expandir o rebanho requer maior eficiência no manejo, pois, caso isso não seja feito, aumentará significativamente os problemas locomotores das vacas leiteiras. A lucratividade e eficiência estão intimamente ligadas ao uso de tecnologias. Prova disso é que entre 2014 e 2018 a produção de leite no Brasil retraiu 0,8% enquanto a produtividade aumentou 4,9 vezes.

Para intensificar a produção, o melhoramento genético também precisou ser acentuado. Porém, a seleção de animais para ter bons cascos e membros não está no mesmo patamar da seleção para aumento da produção de leite. Isso se deve também ao fato de que a herdabilidade para pernas e pés é baixa.

Com isso, os animais não têm membros suficientemente capazes de suportar seu peso corporal e não estão adaptados, muitas vezes, à superfície do confinamento. Então, melhorar o ambiente gera benefícios mais rápidos e efetivos.

 

Estrutura do casco de bovinos

O casco precisa ser de qualidade para proteger tanto contra fatores mecânicos, quanto contra agentes químicos e bactérias aos quais esse animal é exposto. Contudo, ao contrário do que o senso comum acredita, um casco de qualidade não tem que ser um casco "duro". É preciso que ele seja flexível em algumas partes e rígido em outras.

O casco é composto de aminoácidos, água, macro e microminerais e gordura e pode ser dividido em duas camadas. A epiderme é a camada mais superficial, composta por queratina e é avascular. Por não possuir vascularização própria ela é alimentada pela derme, por meio do processo de difusão. Já a derme, ou córium, é a parte “viva” do casco, sendo altamente vascularizada (Figura 1).

Outra estrutura importante quando se fala de casco bovino é o coxim digital (Figura 2). Ele é formado por tecido adiposo e a sua principal função é absorver os impactos causados pelo solo nos ossos da pata. Com isso, percebe-se que o casco é uma estrutura complexa, dependendo de diversos fatores para ser saudável e, quando o mesmo não se encontra nas condições necessárias, as consequências podem ser grandes.

estrutura do casco bovinos

Fonte: Eventos celulares e bioquímicos responsáveis pela formação e qualidade da epiderme queratinizada do estojo córneo do casco de bovinos. Lischer et. al. 2002

 

Prejuízos econômicos causado por problemas de casco

Os prejuízos econômicos causados por animais com afecções podais, Laminite e doenças associadas são enormes, porque afetam o desempenho reprodutivo do animal, fazendo com que ele não manifeste cio, diminuindo a taxa de prenhez e aumentando o intervalo entre partos. Além disso, há gastos com tratamento (serviços profissionais e medicamentos), sendo necessário descartar o leite – dependendo do tratamento utilizado –, além de poder acarretar em descarte precoce de animais com perda de carcaça.

Além do mais, animais doentes perdem peso corporal, pois reduzem consideravelmente a ingestão de alimentos devido à dificuldade de locomoção. Uma vez que o animal se alimenta menos, a produção de leite também cai. Por fim, o baixo peso corporal, aliado à dor pode levar à imunossupressão e, com isso, ao aparecimento de doenças importantes como a mastite. 

Laminite ou Pododermatite Asséptica Difusa é um distúrbio na microcirculação digital que resulta em isquemia e degeneração das lâminas dérmicas presentes na derme. Isso faz com que o sangue e nutrientes não cheguem à epiderme e, com isso, o processo de queratinização se torna deficiente, resultando em um casco mais fraco e susceptível a doenças.

 

Influência da nutrição na ocorrência da laminite bovina

O objetivo da nutrição em vacas leiteiras é fornecer ao animal todos os nutrientes necessários para que ele expresse o seu potencial genético. Entretanto, se esta não for feita da forma adequada torna-se um fator de risco importante para a ocorrência da Laminite.

As situações mais comuns que podem desencadear essa doença, relacionadas à nutrição, são o baixo fornecimento de alimento volumoso em quantidade e qualidade em relação ao fornecimento de concentrado, grãos muito moídos ou partículas de fibra muito pequenas.

Durante a fermentação normal do rúmen são produzidos ácidos graxos voláteis (AGV), principal fonte de nutriente, que são absorvidos para o sangue. Animais que consomem muito concentrado altamente fermentável e pouco volumoso têm menor estímulo para mastigação, produzem menos saliva e com isso menos tamponante.

Ocorre, então, a fermentação ruminal excessiva, com produção de AGV que excede a capacidade de absorção e tamponamento. Essa situação leva a queda do pH ruminal, grande produção de ácidos láticos pelos lactobacilos e Streptococcus bovis e faz com que o animal desenvolva acidose ruminal.

A acidose, quadro que acontece quando o pH ruminal fica abaixo de 5,6 por mais de 3 horas ou abaixo de 5,8 por mais de 5 a 6 horas, leva à destruição de bactérias gram-negativas e à liberação de endotoxinas na circulação. A presença de endotoxinas estimula a liberação de diversos mediadores inflamatórios que vão causar alterações na circulação vascular periférica, o que afeta diretamente a derme laminar.

Com isso, a perfusão de nutrientes fica comprometida, há isquemia e hipóxia nas células da camada queratogênica e inibição da síntese normal do casco, tendo como resultado a degeneração laminar. Apesar da forte correlação entre acidose ruminal e Laminite é importante salientar que as duas enfermidades podem existir independentemente uma da outra.

 

Ambiente e laminite bovina

As condições ambientais proporcionadas pelo sistema de confinamento também são importantes fatores de risco para a ocorrência da Laminite. O piso dos sistemas de confinamento, como o Free Stall, é feito de concreto e pode causar grande impacto no casco.

A superlotação faz com que não tenha cama para todos os animais. Com isso, as vacas menos dominantes tendem a ficar mais tempo em pé e isso é extremamente maléfico para o casco. Outros fatores que fazem as vacas não deitarem são camas ruins ou de dimensionamento inadequado para o seu tamanho.

Falta de boas condições de higiene fazem com que o casco fique em contato constante com umidade e fezes. A umidade pode favorecer o amolecimento do casco e o piso de concreto pode causar microlesões no mesmo. Umidade, microlesões e as bactérias presentes nas fezes propiciam condições perfeitas para a entrada de patógenos no casco.

 

Como ocorre a laminite?

A Laminite bovina pode se apresentar de três formas: aguda, crônica e subclínica. A forma aguda não é muito comum nessa espécie, ao contrário do que acontece com a equina. Os sinais da inflamação da derme podem ser facilmente percebidos: dor no local, perda de função, pois o animal tem dificuldade ou não consegue apoiar o membro acometido, veias e artérias locais ingurgitadas, membro avermelhado e quente.

A Laminite crônica está associada a quadros sucessivos de Laminite aguda e subclínica, nos quais os fatores predisponentes a essa afecção não foram eliminados. O animal não apresenta sinais sistêmicos, mas ocorre deformação dos dígitos. Os cascos crescem anormais, com a sola amolecida, pinças cruzadas, com irregularidades nas paredes, entre outras.

A Laminite subclínica é a que mais afeta as vacas leiteiras. Ela é caracterizada por sua evolução lenta que só se torna aparente com o tempo. Isso faz com que técnicos e produtores a identifiquem apenas quando o animal começa a manifestar lesões podais secundárias à degeneração das lâminas, como hemorragia e úlcera de sola, sola dupla, erosão de talões, doença da linha branca, deformação dos dígitos, fissuras e rachaduras.

 

Como tratar a laminite em bovinos?

O tratamento da Laminite vai depender da forma na qual ela se apresenta. Porém, quanto mais precoce for o diagnóstico da lesão de casco, maior será a taxa de sucesso do tratamento e menor será a probabilidade do animal se tornar crônico nessa afecção.

A Laminite aguda é uma emergência, sendo necessário o tratamento do distúrbio digestivo e a correção do desequilíbrio ácido-básico causado pela dieta. Também é preciso hidratar o animal, e combater a toxemia. Para realizar o controle da dor é indicado o uso de analgésicos e anti-inflamatórios, sempre buscando e seguindo as orientações do médico veterinário responsável da fazenda.

Na Laminite crônica, a recuperação do animal é demorada e incerta. Quando se tem animais nessa situação onde existe deformação dos dígitos é importante fazer o planejamento para descarte dos mesmos.

Já o tratamento da Laminite subclínica, consiste no casqueamento e tratamento das lesões podais associadas a essa enfermidade. Entretanto, é fundamental corrigir os fatores de risco que podem estar associados para evitar que essa afecção seja recorrente e evolua para um quadro crônico.

 

Como evitar a laminite em bovinos?

Prevenir essa enfermidade é fundamental uma vez que as consequências decorrentes da mesma são maléficas tanto no âmbito econômico quanto no bem-estar do animal. Monitorar o escore de locomoção (Figura 3) do rebanho é uma ótima medida.

Esse escore é feito com o animal em movimento, podendo ser na saída da ordenha, e se baseia no arqueamento do dorso, movimento da cabeça durante o andar, amplitude das passadas e se o animal apoia os quatro membros com a mesma intensidade enquanto anda. O escore de locomoção é uma forma de identificar os problemas podais precocemente, mas, por ser subjetivo, requer um profissional treinado e crítico.

escore de locomoção vacas leiteiras
Figura 3. Escore de locomoção de 1 a 4

Além disso, é necessário eliminar ou minimizar os fatores de risco, adotando boas condições de higiene como pistas limpas, evitando a superlotação, adequando as camas para o porte do seu rebanho, se atentando à seleção genética para pernas e pés. É preciso também estar sempre atento à nutrição do rebanho, evitando casos recorrentes de acidose ruminal.

O casqueamento preventivo também é importante, mas é preciso avaliar o melhor momento para realizá-lo a fim de não prejudicar o desempenho do animal. Isso se baseia em estudos que apontam aumento no tempo gasto deitado, em animais que não tinham altos graus de claudicação. Estudo recente mostrou que o uso de Flunixim meglumina, na dose de 2,2 mg/kg, no momento do casqueamento, com o objetivo de reduzir o tempo deitado, o escore de locomoção e aumentar a produção de leite não apresentou efeitos benéficos esperados.

Os efeitos esperados se fundamentavam em evidências, da medicina humana e veterinária, de que o fornecimento de analgesia preventiva antes de uma intervenção possivelmente dolorosa, como a cirurgia, diminui a dor durante e após a intervenção.

O uso do pedilúvio é outra ferramenta importante na prevenção dos problemas podais, especialmente os de origem infecciosa e tem como objetivo desinfetar o casco e endurecê-lo. Ele deve ser colocado na saída da ordenha, precisa ser coberto e precedido de lava-pés. É importante que ele seja longo e estreito para garantir bom número de passadas na solução. Diversos produtos podem ser utilizados e, por isso, devem ser escolhidos em conjunto com o técnico da fazenda.

O uso adequado da fibra na dieta também é uma interessante forma de prevenção. A partícula precisa ter o tamanho adequado para que seja efetiva (fibra efetiva), estimulando a mastigação e com isso a produção de saliva, que é um importante tamponante.

Deve-se então fazer uso da peneira Penn State para avaliação física da dieta, pois com ela é possível observar uma possível inadequação da mesma e realizar a correção incluindo uma fonte de fibra longa. Além disso, o uso de tamponantes na dieta, como bicarbonato de sódio, óxido de magnésio e outros aditivos são essenciais para vacas de alta produção.

 

Considerações finais

A Laminite bovina é uma importante afecção do sistema locomotor de vacas leiteiras, sendo um problema enfrentado frequentemente nas propriedades. Os prejuízos causados por essa enfermidade são enormes e suas consequências são extremamente prejudiciais para o rebanho e para a propriedade.

Infelizmente, muitas fazendas não possuem um programa de prevenção para as doenças podais e que esteja integrado com os outros setores da fazenda. O diagnóstico precoce e a prevenção são fundamentais para garantir bem-estar ao indivíduo para que assim, juntamente com outros fatores, esse animal consiga atingir sua máxima produtividade e contribua para a lucratividade da fazenda.

Fontes: Chapel N. M. et al. (2020) The effects of flunixin meglumine and hoof trimming on lying behavior, locomotion, and milk production in lame and nonlame lactating dairy cows. J. Dairy Sci. 103:5422–5430; Facury E. J. F. et al. (2019) Inovações em saúde dos cascos. VII Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite. 155-177; Nicoletti J. L. M. (2004) Manual de podologia bovina. 1.ed. Barueri, SP: Manole;

POLYANA PIZZI ROTTA

Professora de Produção e Nutrição de Bovinos de Leite da UFV e coordenadora do Programa Família do Leite

LETÍCIA GUERRA PIUZANA

Graduanda em Medicina Veterinária e membro do Programa Família do Leite

BERNARDO MAGALHÃES MARTINS

Zootecnista da UFV e técnico do Programa Família do Leite

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JUNIOR MACHADO

MARECHAL CÂNDIDO RONDON - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/04/2023

Geralmente com quanto tempo uma acidose ruminal irá apresentar sintomas de laminite nos animais?
LETÍCIA GUERRA PIUZANA

VIÇOSA - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 11/05/2023

Olá, Júnio Machado. O tempo para aparecimento da laminite em decorrência de acidose ruminal dependerá de alguns fatores. Quanto mais grave for o caso de acidose, ou seja, quanto menor for o pH do rúmen e maior for a produção de ácidos graxos voláteis em excesso e ácido lático mais rápido será o aparecimento de quadros de laminite.
A título de exemplo, um estudo realizado por Souza, R. S., 2017, avaliou o uso de anti-inflamatório em animais com laminite causada por acidose ruminal. Nesse trabalho, a indução da acidose ruminal e laminite se deu pelo fornecimento de oligofrutose em alta concentração, carboidrato que pode ser encontrado em gramíneas temperadas. Como resultado, os animais começaram a apresentar quadros de laminite nas primeiras 24h após o fornecimento da dose principal da indução.
VANDERLEI MASETTO

CONCÓRDIA - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/06/2020

Boa essa publicação

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