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Aflatoxinas em leite e derivados: um risco à saúde?

LABORATÓRIO DE INOVAÇÃO E PESQUISA - CPA/ UFG

EM 20/11/2023

8 MIN DE LEITURA

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O Brasil está entre os maiores produtores de leite do mundo e a cadeia produtiva leiteira tem grande importância, sob vários aspectos no país. Hoje vamos falar das aflatoxinas, que são metabólitos produzidos por fungos do gênero Aspergillus e podem contaminar vários alimentos, expondo animais e humanos a riscos de saúde consideráveis.

As aflatoxinas produzidas por A. flavus e A. parasiticus, ao serem ingeridas por bovinos leiteiros passam reações complexas de modificação estrutural (Benkerroum & Ismail, 2022; Al-Jaal et al., 2019). Dentre estas modificações, a epoxidação, permite a formação de derivados de aflatoxina B1, e a hidroxilação, gera derivados como a aflatoxina M1, que é excretada na urina e no leite (Figura 1). Por ser encontrada em insumos agrícolas no mundo todo, a aflatoxina B1 foi classificada pela Agência Internacional de Pesquisas sobre Câncer (IARC - International Agency for Research on Cancer) no Grupo 1, que é grupo considerado carcinogênico para humanos (Samet et al., 2020). 

A excreção de aflatoxina M1 causa maior preocupação em saúde pública, uma vez que esta pode ser epoxidada posteriormente, formando derivados carcinogênicos (Figura 1).

Figura 1. Mecanismo de absorção e excreção de aflatoxinas.

Micotoxinas:absorção e excreção

Elaborado pelos autores (2023).

Milho e farelo de soja são ingredientes comumente utilizados na fabricação de rações e silagem para bovinos leiteiros, mas a colheita e armazenamento incorretos destes ingredientes, podem fornecer condições ideais para o desenvolvimento de fungos.

A umidade e temperatura de armazenamento são fatores de extrema importância, visto que a atividade de água entre 0,83 e 0,99 e temperatura de 37ºC são ideais para o crescimento de fungos do gênero Aspergillus, e temperaturas entre 25ºC e 30ºC favorecem a produção de micotoxinas. Portanto, colheitas em época de chuva, silos com problemas de goteiras e mal selados , além do próprio clima tropical, contribuem para a produção das aflatoxinas (Magalhães et al., 2021; Motta et al., 2015).  Além disso, colaboradores mal instruídos podem misturar silagem e/ou ração contaminadas com alimentos de boa qualidade, permitindo a dispersão destes contaminantes e o comprometimento de sua segurança para consumo.

Diversos países estabelecem leis que limitam a quantidade máxima de aflatoxina M1 nos produtos destinados a alimentação humana e animal. No Brasil, os Limites Máximos Tolerados (LMT) para produtos lácteos são: 0,5 µg/Kg para leite fluido, 5µg/Kg para leite em pó e 2,5 µg/Kg para queijos, estabelecidos pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2021).

Quanto ao monitoramento, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) tem realizado uma amostragem baseada em análise de risco, por meio do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Animal (PNCRC). Segundo o relatório anual de 2022, 910 amostras foram avaliadas quanto a presença de aflatoxinas no leite, entre os anos de 2010 e 2019, apresentando resultados de 98,34% de conformidade com os limites de referência estabelecidos no país (Brasil, 2022). Contudo, estudos conduzidos por pesquisadores brasileiros, tem demonstrado resultados variáveis quanto à presença de micotoxinas em produtos lácteos.

Em um trabalho desenvolvido em laticínios no nordeste do Estado de São Paulo, teores de aflatoxina M1 abaixo do limite máximo permitido (LPM), foram detectados em amostras de leite cru, leite pasteurizado e queijos, demonstrando que o processo de pasteurização não é suficiente para inativar as aflatoxinas presentes nos derivados lácteos (Gonçalves et al., 2021).

Em outro estudo desenvolvido no estado, foram encontradas 27 amostras contendo aflatoxina M1 em quantidades variando de 0,122 a 0,190 µg/Kg, dentre 57 amostras de queijo avaliadas (Corassin et al. 2022). No sul do país, no estado do Paraná, 42 amostras de produtos lácteos coletadas em supermercados da região de Londrina, foram avaliadas, revelando que 100% das amostras, que incluíram leite pasteurizado, leite UHT e leite em pó possuíam algum teor de aflatoxina M1. Os níveis variaram de 0,01 a 0,81 µg/kg, com média de 0,13 µg/kg. Diferenças foram observadas em amostras de leite em pó (0,61 µg/kg) comparado ao leite pasteurizado (0,02 µg/kg) e UHT (0,04 µg/kg) (Sifuentes dos Santos et al., 2015).

Os métodos de tratamento térmico, comumente envolvidos no processamento de produtos lácteos, não inativam nem são capazes de subtrair a totalidade da aflatoxina M1, o que traz preocupações de saúde pública, uma vez que a ingestão de alimentos contaminados com aflatoxina M1, mesmo  em quantidades abaixo dos limites estabelecidos pela legislação, são associados a  efeitos carcinogênicos (Arruda e Beretta, 2020).

Além disso, a exposição prolongada a aflatoxina M1 desencadeia respostas inflamatórias, e em pessoas com Diabetes Mellitus, foi verificada correlação positiva na evolução da doença com distúrbios metabólicos inerentes (Akash et al., 2021). Gao et al. (2021) demonstraram ainda que tanto a toxicidade da aflatoxina B1, quanto da aflatoxina M1, quando ingeridas em pequenas doses de forma crônica tem potencial de danificar a integridade do tecido epitelial das células intestinais e mães lactantes que ingerem leite e seus derivados contaminados com aflatoxina M1, transferem-na para o leite materno, constituindo uma rota de contaminação importante para bebês.

No intuito de mitigar os resíduos de aflatoxina M1 no leite, propostas de adição de adsorventes, como Saccharomyces cerevisiae, na suplementação na alimentação de animais tem sido apontadas como medidas de prevenção promissoras  (Gonçalves, 2017; Cha et al., 2021). Adicionalmente, as boas práticas agropecuárias na colheita e secagem, incluindo a seleção de grãos resistentes a microrganismos e pragas específicas para o período e região de plantio, associado a realização de testes de quantificação de micotoxinas, podem minimizar o risco de contaminação dos alimentos para os animais e consequentemente, do leite e derivados.

Assim, a sensibilização de toda cadeia produtiva do leite para este problema e o reforço para as ações de prevenção e monitoramento são fundamentais para o fortalecimento do papel positivo que o consumo de leite e derivados desempenha na nutrição e saúde humana.

 

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Autores:

Lanussy Campos da Silva Dantas  (Acadêmica de Medicina Veterinária, EVZ/UFG)

Daniel Lucino Silva dos Santos (Mestrando em Ciência de Alimentos -  FEA/UNICAMP)

Ariane Rolins de Santana  (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento - SEMMAS, Ceres- GO)

Felipe de Melo Feitosa (Acadêmico de Medicina Veterinária e Bolsista no Laboratório de Inovação e Pesquisa LIP/CPA/EVZ/UFG)

Profa. Dra. Valéria Quintana Cavicchioli (Professora e Pesquisadora do Laboratório de Inovação e Pesquisa LIP/CPA/EVZ/UFG)

Profa. Dra. Francine Oliveira Duarte (Professora e Pesquisadora do Laboratório de Inovação e Pesquisa LIP/CPA/ EVZ/UFG)

Profa. Dra. Clarice Gebara Muraro Serrate Cordeiro (Professora e Pesquisadora do Laboratório de Inovação e Pesquisa LIP/CPA/EVZ/UFG)

Profa. Dra. Iolanda Aparecida Nunes (Professora e Pesquisadora do Laboratório de Inovação e Pesquisa LIP/ CPA/EVZ/UFG)


Referências

AKASH, Muhammad Sajid Hamid et al. Biochemical investigation of human exposure to aflatoxin M1 and its association with risk factors of diabetes mellitus. Environmental Science and Pollution Research, v. 28, p. 62907-62918, 2021.

AL-JAAL, Belqes Ahmad et al. Aflatoxin, fumonisin, ochratoxin, zearalenone and deoxynivalenol biomarkers in human biological fluids: A systematic literature review, 2001–2018. Food and chemical toxicology, v. 129, p. 211-228, 2019.

ARRUDA, Adriana Dias; BERETTA, A. L. R. Z. Micotoxinas e seus efeitos à saúde humana: revisão de literatura. RBAC, v. 51, n. 4, p. 286-9, 2019.

BENKERROUM, N.; ISMAIL, A. Human Breast Milk Contamination with Aflatoxins, Impact on Children’s Health, and Possible Control Means: A Review. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 19, n. 24, p. 16792, 2022.

BRASIL. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. INSTRUÇÃO NORMATIVA - IN N° 88, DE 26 DE MARÇO DE 2021. Pág. 225 Disponível em: <https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=31/03/2021&jornal=515&pagina=225&totalArquivos=246> .  Acesso em 20 out. 2023.

BRASIL. Legislação. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano de Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes PNCRC/Animal, 2022. Relação dos planos anuais de amostragem e rela-tórios dos resultados do PNCRC/ANIMAL 2010-2021. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-animal/plano-de-nacional-de-controle-de-residuos-e-contaminantes/plano-de--nacional-de-controle-de-residuos-e-contaminantes>. Acesso em: 21 out. 2023.

CHA, Manqian et al. Adsorbents reduce aflatoxin M1 residue in milk of healthy dairy cow exposed to moderate level aflatoxin B1 in diet and its exposure risk for humans. Toxins, v. 13, n. 9, p. 665, 2021.

CORASSIN, Carlos Humberto et al. Occurrence of Aflatoxin M1 in milk and dairy products traded in São Paulo, Brazil: An update. Dairy, v. 3, n. 4, p. 842-848, 2022.

GAO, Y. et al. Aflatoxin B1 and Aflatoxin M1 Induce Compromised Intestinal Integrity through Clathrin-Mediated Endocytosis. Toxins 2021, 13, 184. 2021.

Gonçalves, B. L., Gonçalves, J. L., Rosim, R. E., Cappato, L. P., Cruz, A. G., Oliveira, C. A. F. & Corassin, C. H. (2017). Effects of different sources of Saccharomyces cerevisiae biomass on milk production, composition and aflatoxin M1 excretion in milk from dairy cows fed aflatoxin B1. Journal of Dairy Science, 100 (7), 5701-08.

GONCALVES, Bruna L. et al. Occurrence of aflatoxin M1 in milk and Minas Frescal cheese manufactured in Brazilian dairy plants. International Journal of Dairy Technology, v. 74, n. 2, p. 431-434, 2021.

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MAGALHÃES, Laura Soares; SOLA, Marília Cristina. Identificação de aflatoxinas no leite e produtos lácteos: Revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 10, n. 8, p. e50510817586-e50510817586, 2021.

MOTTA, Thiago P. et al. Estudo sobre a ocorrência de fungos e aflatoxina B 1 na dieta de bovinos leiteiros em São Paulo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 35, p. 23-28, 2015.

SAMET, Jonathan M. et al. The IARC monographs: updated procedures for modern and transparent evidence synthesis in cancer hazard identification. JNCI: Journal of the National Cancer Institute, v. 112, n. 1, p. 30-37, 2020.

SIFUENTES DOS SANTOS, Joice et al. Aflatoxina M1 em leite pasteurizado e UHT e leite em po comercializados em Londrina, Brasil e exposicao estimada. Archivos Latinoamericanos de Nutrición, v. 65, n. 3, p. 181-185, 2015.

 

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