Como fazer e fornecer uma boa silagem? |
Atualizado em 21/12/2020
Silagem é um tipo de alimento muito comum nas fazendas leiteiras, devido à facilidade para colheita e baixa perda de nutrientes durante a estocagem. Contudo, muitas são as dúvidas sobre como fazer e fornecer esse alimento.
O processo de ensilagem é uma fermentação anaeróbica dos açúcares solúveis em água e sua conversão em ácido lático, abaixamento do pH a ponto que iniba a fermentação microbiana. Entretanto, deve ser lembrado que uma silagem nunca está estática, ou seja, é um alimento potencialmente dinâmico que pode piorar drasticamente em qualidade em certas circunstancias, como na adição de oxigênio.
O objetivo deste texto é fornecer informações práticas para gestão da qualidade da silagem e fornecimento aos animais visando determinar e avaliar potenciais problemas de saúde em vacas leiteiras.
Por que avaliar a qualidade dos alimentos ensilados?
Embora as silagens sejam os alimentos mais comuns nas fazendas leiteiras, são elas também os alimentos mais variáveis na alimentação dos animais. Como resultado, elas são geralmente fonte de problemas advindos da alimentação. Então, alguns parâmetros para determinação da qualidade devem ser observados.
O que avaliar na silagem:
Uma caracterização significativa da qualidade da silagem pode ser conseguida por meio do olfato, visão e tato, sugerindo a necessidade de mais produtos químicos ou caracterização física do alimento. Os passos são os seguintes:
Coloração
Pode indicar potenciais problemas de fermentação. Silagens com excessivo ácido lático poderá ter uma coloração amarelada, enquanto aquelas com alto ácido butírico poderá ter tom esverdeado.
Silagens marrons e pretas normalmente indicam danos por aquecimento e umidade. Essas silagens têm alto potencial para aparecimento de mofos e não devem ser oferecida aos animais. Coloração branca também indica crescimento de mofos.
Odor
Pode também ser utilizada para avaliação do padrão de fermentação da massa ensilada. Silagem normal tem fraco odor devido ao ácido lático. Caso a produção de ácido acético seja alta, então a silagem pode ter um cheiro de vinagre. Alto etanol proveniente da fermentação de levedura provoca cheiro de álcool na silagem.
Fermentação clostrídica resulta em cheiro de manteiga rancificada. Fermentação propiônica resulta em cheiro forte e adocicado ao paladar. Danos por aquecimento pode causar caramelização ou cheiro de tabaco. Silagens mofadas têm cheiro de podre.
Lembre-se que o cheiro é importante para evitar redução do consumo dos animais.
Esta análise deve ser realizada em laboratórios de análises comerciais, podendo ser analisados os seguintes parâmetros.
Umidade
A determinação da quantidade de água é importante para conhecimento da matéria seca e, portanto, para o balanceamento da dieta. Este teste é simples e pode ser feito de forma artesanal na própria fazenda, utilizando um microondas.
Proteína bruta
O fornecimento de proteína é o que mais onera a alimentação. Assim, a quantificação correta do teor proteico da forragem é importante para o conhecimento da quantidade de proteína suplementar que deverá ser provida proveniente de concentrados, que são mais onerosos que as forragens.
Proteína solúvel
É a medida de quanta proteína é potencialmente utilizada no rúmen para a produção de proteína microbiana. O excesso de proteína será metabolizada pelo fígado e excretada na urina, encarecendo o custo da alimentação. Silagens mal manejadas têm mais de 60% da proteína na forma solúvel, o que não é bom. O ideal é que a fração solúvel permaneça entre 40 e 60% da proteína bruta total.
Nitrogênio amoniacal
Esta fração corresponde ao nitrogênio não proteico (NNP) da fração solúvel. O objetivo é minimizar o NNP e com ele as aminas, que podem reduzir o consumo dos animais. Bom seria manter essa fração entre 8 e 10% da proteína bruta total.
Fibra em Detergente Neutro (FDN)
Quantifica a quantidade de parede celular é inversamente proporcional ao consumo de matéria seca. Alta fração FDN tem baixo potencial de consumo, que pode ser minimizado pelo processamento do alimento por meio de uma picagem bem feita.
Perfil da fermentação
Essa é a importante análise química. Visa quantificar cada importante ácido graxo volátil produzido durante o processo fermentativo. Normalmente o ácido lático é o predominante, perfazendo cerca de 60% do total dos AGV da silagem. Excessiva quantidade de acético, propiônico ou butírico, assim como etanol, indica fermentação de baixa qualidade.
pH
É uma medida de acidez. Silagens de alta umidade são instáveis quanto ao pH. Silagem de boa qualidade está associada com baixo pH, variando entre 3,8 e 4,2 para silagem de milho e entre 4,0 e 4,8 para silagem de gramíneas.
Temperatura
É uma medida da quantidade de calor produzida, que pode ser facilmente mensurada com a ajuda de um termômetro. Depois de estabilizado o processo fermentativo, a temperatura deverá ser próxima da ambiente. Temperatura acima da temperatura ambiente sugere respiração oxidativa realizada por mofos e outros fungos. Temperatura acima de 49ºC sugere potencial para danos por calor. Boas silagens não esquentam quando no cocho à disposição dos animais.
Tamanho de partícula
A fibra é de fundamental importância na dieta de ruminantes para manter as funções do rúmen e a atividade de ruminação. Partículas muito pequenas podem causar problemas metabólicos, como acidose ruminal, mas por outro lado, tamanho de partícula muito grande reduz o consumo e o desempenho dos animais. No Brasil, com os implementos disponíveis, o objetivo é reduzir ao máximo o tamanho de partícula.
Durante minha vida profissional, muitas vezes eu não me senti confortável para formular dietas a produtores de leite, por razões diversas. Mas com a experiência adquirida, hoje acredito que posso envolver o produtor como um agente monitorador, ou pelo menos essas é a melhor coisa a ser feita, ao meu entender.
Alimentos de qualidade e estratégias de alimentação têm uma percentagem importantíssima na redução dos problemas advindos da alimentação nas fazendas. Um extensionista e um produtor devem trabalhar juntos.
Ambos devem entender que a qualidade dos alimentos e o diagnóstico dos componentes críticos é determinante para o sucesso da produção de leite. Muitas vezes produtores e extensionistas praticamente "declaram guerra" quando da formulação de uma dieta ou implementação de uma estratégia de alimentação.
Muitos dos conceitos aqui apresentados podem ser usados não somente para diagnosticar problemas, mas também para ajudar os produtores no processo de fazer melhores silagens. O monitoramento deverá começar com o primeiro corte!
Sempre que possível preferir silos trincheiras. Observe o contorno, as bordas e a superfície do silo. O silo deve ter bordas lisas e retas para minimizar o contato com oxigênio. Silos irregulares e com face desigual tem maior área de superfície exposta ao oxigênio e, portanto, maior chance de atividade microbiana indesejável, e pior será a qualidade da silagem.
Leia mais sobre produção de silagens na coluna do Prof. Thiago Bernardes.
JUNIO CESAR MARTINEZ
Doutor em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ), Pós-Doutor pela UNESP e Universidade da California-EUA. Professor da UNEMAT.
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JORGE SERÓDIO NETOEM 07/06/2018
Junio Cesar Martinez tira uma dúvida pra mim, se fosse numa propriedade o produtor falar pra mim que ponto a silagem tem que estar pra mim dar tanto na produção na de leite e carne fica o meu e-mail: jorgeserdioneto@yahoo.com.br , sobre a pesquisa sobre a silagem achei interessante acho quem da matéria em faculdade sugiro que comentem mais aos alunos, silagem hoje está crescendo tanto na bovinocultura de corte e leite e diversos outros tipos de criações como ovinos, caprinos e outras criações a diversas, sobre esse artigo achei muito interessante sugiro quer ler esse artigo deveria ser salvo e sempre lendo como melhorar a qualidade da silagem
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LUCAS LEALEM 28/02/2017
Qual Manejo Correto para aumentar o Leite das Vacas Jerseys, Estamos Com uma Criação de Vacas Jerseys Na região do Norte do Tocantins, Maioria das Vacas São de Primeira Lactação, Primeira Cria, Maioria Caiu Mais de 27 % da Produção diária, Estávamos com a produção de mais de 300 litros de leite por dia, com 40 vacas, hj estamos com a média de 205 litros por dia no máximo.
Ordenhamos 2 vzs no dia. Manhã Iniciamos 5 hrs A Tarde 17 hrs |
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SILVIA HELENA MARCHETTIBAURU - SÃO PAULO EM 07/07/2014
boa noite li sua matéria sobre silagem e queria saber como devo amarzenar a silagem de milho pois tenho criação de cabritos da raça boeer e estou em duvida de dar esta silagem de milho,gostaria de saber se posso deixar dentro de saco fechados no barração,e se ele estraga ,e se tem algum produto quimico pra colocar na silagem,para conservar ,pois tenho receio de ela estragar então gostaria que me falasse o devo fazer,e se posso tratar os cabritos com esse trato de silagem...
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TIAGO TENORIOBATALHA - ALAGOAS - PRODUÇÃO DE LEITE EM 22/02/2014
Parabéns pelo site Junior adorei!!! Dr Junior sobre a silagem de milho após ser moída, pode-se acrescentar algum produto no seu processo de fermentação, algum tipo de sais, vitaminas, sei lá... algo nesse sentido, pra vaca de leite. Obrigado, e mais uma vez, parabéns pelo site. Grande abraço!!
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VASCO PRAÇA FILHOPARACATU - MINAS GERAIS - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 09/10/2013
Estou com capim elefante irrigado e adubado com 60 dias apos corte e com mais ou menos 1,70 cm de altura,quero fazer a silagem mas sem pré murchamento.Dr Junior tem alguma sugestão ? Com certeza tem muita umidade,mas prefiro colher direto com a jf 90 do que correr risco de acidente com meus funcionários jogando na boca da ensiladeira e sem falar na demora e custo.
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CAIO GOMESIPERÓ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE EM 04/02/2013
Olá meu amigo, primeiramente parabéns pelo artigo.
Existe algum tipo de material que não dite, mas dê nortes, como fórmulas, sobre balanceamento total de dietas? Queria por o meu manejo em cheque para avaliar a possível necessidade de mudança de estratégia. Hoje trabalho com uma Raçao pronta, por nao possuir estrutura ainda para produzir a minha própria. A Raçao é da Capal, Cooperativa do Sul do Parana. Caracteristicas: Umidade: 13 % Proteina Bruta: 18% Extrato Etéreo: 2% Mat Mineral: 10% FDA: 10% Calcio: 1,6% Fósforo: 0,50% NDT: 68% NNP Eq Prot: 2,5% Até hoje utilizei pastagem de tifton rotacionada durante o verão e Silagem de Cana no inverno. A raçao é complementada com Milho moido, para elevar o teor de energia (que é 69%). A partir desse mês que vem, oferecerei silagem de milho para as vacas de melhor produção (de 20 L pra cima) e farei consorciamento na pastagem com aveia preta e azevem. Tenho média de 18 litros hoje. O que o Sr. diria sobre essa mudança que aplicarei? Há ressalvas no balanceamento? Quais? Grato, Caio Gomes |
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JUNIO CESAR MARTINEZTANGARÁ DA SERRA - MATO GROSSO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 13/09/2012
Prezado Felcio,
Acredito que encontrara problemas para ensilar capim com cevada, devido ao alto teor de umidade de ambos. Caso consiga acertar a umidade, o NDT ficará bom, entretanto tenho dúvidas com relação à PB. |
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FELCIO MANOEL ARAUJOCARIACICA - ESPÍRITO SANTO - ESTUDANTE EM 07/09/2012
Professor Junior ,eu queria saber do sr.se a silagem de capim elefante com cevada,é,uma fonte de¨PB e NDT,para alcançar um bom resultado,em relaçao a produtividade?obrigado pela atençao DEUS o abençoe grandemente!
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JUNIO CESAR MARTINEZTANGARÁ DA SERRA - MATO GROSSO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 05/09/2012
Prezado Paulo Andrade,
A silagem de milheto não difere grandemente da silagem de milho. Não sei o motivo de sua surpresa com o resultado da análise bromatológica da silagem de milheto, mas ela pode ser utilizada na alimentação de vacas leiteiras sem restrição. |
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RIVALDO DA SILVABURITIRAMA - BAHIA - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE EM 05/09/2012
me ajude!!!!!!!mostrando uma tabela por peso ou idade...como vaca,garrote,novilha,bezerro.....na quantidade de capim elefante já na silagem e tenho milho.quantos quilos pra misturar com o capim elefante todos dias.obrigado desde já!!! me ajude pra não colocar pouco ou muito.aqui não temos apoio de ninguém.......me ajude!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!todos estão soltos os gados.me ajude!!!!!!!!!!!!!
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RIVALDO DA SILVABURITIRAMA - BAHIA - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE EM 05/09/2012
SENHOR JUNIO,ESTOU COM UMA SILAGEM DE CAPIM ELEFANTE E QUERIA SABER QUANTO EU DEVO DÁ PARA O GADO POR PESO OU IDADE.E TENHO MILHO,VÁRIOS SACOS... QUANTO COLOCO TRITURADO COM O CAPIM ELEFANTE OU SÓ O CAPIM ELEFANTE BASTA.TODOS ESTÃO SOLTOS,QUERO SÓ SALVAR MEU GADO NESTA SECA GRANDE DA BAHIA.
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PAULO ANDRADESÃO PAULO - SÃO PAULO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 05/09/2012
Prezado Junio,
Gostaria de saber se você tem alguma experiencia com silagem de milheto para vacas em lactação, mesmo que seja para as de lote de menor produção. Mandei fazer uma analise dessa silagem e me surpreendi com os resultados e gostaria de saber o seu uso na pratica. Obrigado |
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ALICIO NUNES DOMINGUESCUIABÁ - MATO GROSSO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 04/09/2012
É com satisfação que lí atentamente o artigo e as respostas aos questionamentos de pessoas de várias partes do Brasil. Parabéns Junio, você demonstra conhecimento e segurança nas respostas. Os professores da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UFMT tem orgulho de ter tido você como aluno. Você não desperdiçou as oportunidades que surgiram durante sua caminhada. PARABÉNS.
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JUNIO CESAR MARTINEZTANGARÁ DA SERRA - MATO GROSSO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 29/08/2012
Prezado Bruno.
Silagem é recomendado para animais de alto mérito genético (confinamento) e como estratégia alimentar para a estação seca do ano para animais inclusive mantidos em pastagens. Embora existam outras estratégias, a silagem é bem interessante. Pastejo rotacionado é um sistema intensivo para exploração de animais mantidos em pastejo. |
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BRUNO DOS SANTOS ODDORIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE EM 27/08/2012
Caro Junio;
Estou inicio na atividade leiteira agora e na minha regiao, RJ; ouve-se falar muito em pastejo rotacionado; porem pelo que ando lendo e pesquisando as regioes que sao realmente produtoras de leite, MG, PR, SP; tem como base de manejo alimentar a silagem; O senhor poderia expor alguma opiniao sobre quais sao as virtudes e os defeitos de cada uma; grato; Bruno Santos |
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