Startup desenvolve produto para controle biológico de carrapatos

O carrapato do boi é um dos mais importantes parasitas de bovinos, causando significativas perdas de produção, estimadas em US$ 3,24 bilhões de dólares anuais, no Brasil (GRISI et al., 2014).  A forma mais comum de combate é por meio de agentes químicos, que podem deixar resíduos em produtos de origem animal e ser tóxicos para animais e seres humanos. Além disso, tem sido observada uma crescente aquisição de resistência por parte dos carrapatos aos princípios ativos utilizados, sendo necessário o desenvolvimento de formas alternativas de controle.

Foi neste contexto que surgiu, em 2015, a Decoy Smart Control, startup especializada em controle de pragas. Segundo Túlio Nunes, sócio fundador, o objetivo foi de “oferecer uma forma eficaz e limpa para combater o carrapato do boi”. Para isso, a empresa desenvolveu um produto baseado em controle biológico, estratégia muito utilizada na agricultura brasileira. “Nós somos a primeira empresa a levar o controle biológico para o contexto da saúde animal. Essa era uma lacuna do mercado, até então”, disse Túlio.

O controle biológico tem como princípio relações pré-existentes na natureza, podendo ser utilizado nos mais diversos contextos, como no combate de pragas da agricultura e pecuária em grandes propriedades comerciais ou, até mesmo, de pragas urbanas nas casas das pessoas. É uma forma sustentável de lidar com o problema, pois dispensa o uso de agentes químicos agressivos ao meio ambiente e que podem contaminar o solo e a água (LABARTHE, 1994; SAMISH; GINSBERG; GLAZER, 2004).

O produto da Decoy utiliza um tipo de fungo, inimigo biológico natural dos carrapatos, que é reproduzido em larga escala em laboratório. Quando distribuído em grande quantidade sobre o ambiente acometido, entra em contato com o carrapato do boi, penetra seu corpo e prolifera-se, levando a morte do parasita em alguns dias.

Dois produtos foram desenvolvidos pela empresa utilizando essa tecnologia, um para ser aplicado no rebanho e outro na pastagem, onde ficam 95% dos carrapatos de uma propriedade. “Desse modo, com a utilização combinada dos dois produtos, a Decoy propõe um tratamento estratégico do carrapato, reduzindo, assim, a infestação total da propriedade e produzindo melhores resultados para os produtores”, explicou Túlio. Além disso, o produto não deixa resíduos no leite e pode ser utilizado em todo o rebanho, inclusive em vacas prenhes e bezerras.

Orelha de um animal infestado (A) e após a aplicação do produto (B).

Comparativo do pré e pós tratamento com sete dias de intervalo.

Pelo fato de reduzir o uso de químicos, a estratégia de controle tem forte apelo para produtores de leite orgânico. Porém, segundo Túlio, também tem despertado o interesse de produtores tradicionais, visto que as substâncias químicas têm perdido cada vez mais a eficácia no controle do carrapato.

Carrapato seco

Sabendo que esta praga é de extrema importância para a pecuária leiteira, a Decoy resolveu atuar diretamente no setor e estabeleceu um programa de parcerias com pecuaristas. “Nós disponibilizamos a tecnologia de controle biológico de carrapatos aos produtores pelo período de 12 meses. Em contrapartida, eles fornecem informações sobre os resultados do tratamento e uma ajuda de custo para o desenvolvimento das pesquisas. Atualmente, esse programa conta com mais de 40 propriedades parceiras em diferentes regiões do Brasil, com resultados excelentes”, contou o sócio fundador. Confira o depoimento de um produtor, aqui:

Para finalizar, Túlio apontou os próximos passos da empresa. “Visamos a expansão do programa de parcerias com os pecuaristas e a finalização do registro do produto junto ao Mapa. Além disso, estamos focados no desenvolvimento de tecnologias de combate a outras pragas, como o carrapato do cachorro, o cascudinho das granjas e o ácaro da abelha. O potencial que o controle biológico oferece é enorme e o nosso objetivo é tornar essa ferramenta uma realidade para a saúde animal”.

Referências bibliográficas

GRISI, L. et al. Reassessment of the potential economic impact of cattle parasites in Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 23, n. 2, p. 150-156, 2014.

LABARTHE, N. V. Biological control of tick populations: review and reflections. Cadernos de Saúde Pública, v. 10, n. 1, p. 47-52, 1994.

SAMISH, M.; GINSBERG, H.; GLAZER, I. Biological control of ticks. Cambridge University Press, v. 129, n. S1, p. S389-S403, 2004.