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Micotoxinas em leite e produtos lácteos

VÁRIOS AUTORES

ADRIANO GOMES DA CRUZ

EM 13/10/2022

5 MIN DE LEITURA

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As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por algumas espécies de fungos pertencentes aos gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium (Izzo et al., 2022). São metabolizados por fungos quando presentes em alimentos, seja por contaminação do solo, contaminação do produto ou durante as etapas de processamento e armazenamento (Campagnollo et al., 2016).

Apesar de um grande número de toxinas identificadas, algumas são mais proeminentes quanto ao risco micotoxicológico, como aflatoxinas (AF), citrinina (CIT), fumonisinas (FUM), ocratoxinas (OT), tricotecenos (por exemplo, desoxinivalenol (DON) e nivalenol (NIV) ), zearalenona (ZEN) (Haque et al., 2020), e algumas micotoxinas emergentes como alternariol (AOH), beauvericin (BEA), enniatinas (Enn), moniliformina (MON) e ácido tenuazônico (Akinyemi et al., 2022 ).

A contaminação do leite por micotoxinas pode ocorrer devido ao consumo de alimentos contaminados pelo animal, que irá metabolizar as micotoxinas e depois secretá-las no leite (Narvaéz et al., 2020), além da contaminação direta, quando fungos se desenvolvem no leite com consequente formação de micotoxinas.

Além disso, sabe-se que a presença de micotoxinas no leite também é influenciada por inúmeros fatores, como espécie animal, variabilidade dos indivíduos, lactação, ordenha, estado de saúde do animal, consumo de ração, nível de contaminação, localização geográfica e estação do ano (Campagnollo et al., 2016), com maior propensão sendo relatada em climas quentes e úmidos (Benkerroum, 2016).

Como o leite e os produtos lácteos passam por diferentes processos desde a sua obtenção até o produto final, os efeitos de cada etapa do processamento podem variar os níveis de micotoxinas presentes nos produtos lácteos (Campagnollo, et al., 2016).

No entanto, a contaminação por micotoxinas em animais e sua passagem para o leite não é apenas um problema de saúde pública, as micotoxinas podem causar baixa produtividade animal e, consequentemente, prejuízos econômicos para os produtores e desabastecimento para a indústria, o que reflete diretamente no consumidor (Bryden, 2012).

O consumo de alimentos contaminados com micotoxinas pode estar relacionado ao câncer de fígado e é uma das questões mais críticas a serem abordadas pelos produtores de alimentos e rações em todo o mundo (Santilli et al., 2015).

As micotoxinas, principalmente as aflatoxinas, apresentam grande resistência aos tratamentos convencionais geralmente aplicados ao processamento de alimentos ou rações, incluindo pasteurização, esterilização e outros tratamentos térmicos, que se tornaram uma preocupação para a indústria e órgãos de saúde pública (Ismail et al., 2018).

A rastreabilidade dos alimentos é um passo importante para garantir a segurança do consumidor. Nesse contexto, o recall se faz necessário, pois elimina produtos alimentícios impróprios para o consumo e promove a investigação das causas das questões que envolvem a segurança alimentar. Sendo assim um sistema que valoriza a qualidade dos alimentos, a defesa e a exigência intrínseca da cadeia de suprimentos (Badia-Melis, Mishra e Ruiz-García, 2015).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabeleceu limites de micotoxinas para alimentos destinados ao consumo humano, cujo limite máximo permitido de aflatoxina M1 para queijo é de 2,5µg .Kg-1 (Anvisa, 2011). Em relação à aflatoxina M1 em leite e outros produtos lácteos, as regulamentações internacionais estipulam um limite máximo de detecção de 1,0 mg/kg (Iqbal et al., 2015).

Alguns estudos têm sido realizados a fim de detectar a presença de micotoxinas em diferentes tipos de leite. Akinyemi et al., (2022) avaliaram a presença de micotoxinas em leite de cabra (n=87), camelo (n=25) e vaca (n=23).

Os autores testaram 36 micotoxinas, sendo 17, sete e quatro micotoxinas detectadas em leite de cabra, camelo e vaca, respectivamente. Izzo et al., (2022), em estudo com 54 amostras de fórmulas infantis, puderam detectar cinco tipos de micotoxinas pelo método de cromatografia líquida de ultra-alta eficiência aliada à análise por espectrometria de massa de alta resolução, o que é considerado um resultado expressivo dado o público-alvo do produto analisado.

Em um estudo com 191 amostras de leite cru na Espanha, Flores-Flores e Gonzalez-Peñas (2018) analisaram a presença de 22 micotoxinas nessas amostras. Nenhuma das amostras apresentou nível superior ao seu nível de detecção (0,05–10,1 µg/L), o que foi um resultado positivo quanto à presença de micotoxinas em amostras de leite na Espanha.

Muitas questões relacionadas à presença de micotoxinas no leite precisam ser mais discutidas, bem como maior compreensão das formas de contaminação e compreensão dos riscos gerados à saúde, além dos prejuízos econômicos para a indústria.

No entanto, vale ressaltar que de maneira geral, o leite e seus derivados são produtos seguros para o consumo, e que apresentam grande importância nutricional para a população (Collard e McCormick, 2021), sendo os casos de presença de micotoxinas decorrentes de falhas pontuais no processo de obtenção do leite.

Além disso, muitas questões relacionadas à presença de micotoxinas no leite precisam ser mais discutidas, bem como maior compreensão das formas de contaminação e compreensão dos riscos gerados à saúde, além dos prejuízos econômicos para a indústria.

 

 

Referências

Akinyemi, M.O., Braun, D.,Windisch, P., Warth, B., Ezekiel, C.N. Assessment of multiple mycotoxins in raw milk of three different animal species in Nigeria . Food Control, v.131, 108258, 2022.

Badia-Melis, R.; Mishra, P.; Ruiz-García, L. Food traceability: New trends and recent advances. A review. Food Control, 57, 393-401, 2015.

Benkerroum, N. Mycotoxins in dairy products: A Review. Internacional Dairy Journal, 62, 63-75, 2016.

BRASIL, Resolução de Diretoria Colegiada no.7, de 18 de fevereiro de 2011. Limites máximos tolerados para micotoxinas em alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 09 mar. 2011.

Bryden, W.L. Micotoxin contamination of the feed supply chain: Implications for animal produtivity and feed security. Animal Feed Science and Technology,173, 134-178, 2012.

Campagnollo, F.B.; Ganev, K.C.; Khaneghah, A.M.; Portela, J.B.; Cruz, A.G.; Granato, D.; Corassin, C.H.; Oliveira, C.A.F.; Sant’ana, A.S. The occurence and effect of unit operations for dairy products processing on the fate of aflatoxin M1: a review. Food Control, 68, 310-329, 2016.

Flores-Flores, Myra Evelyn; González-Peñas, Elena (2017). Short communication: Analysis of mycotoxins in Spanish milk. Journal of Dairy Science, v.101, n.1, p.113-117.

Haque, M.A., Wang, Y., Shen, Z., Li, X., Saleemi, M.K., He, C.J.M. Mycotoxin contamination and control strategy in human, domestic animal and poultry: A review. Microb. Pathog., v.142, 104095, 2020.

International Agency for Research on Cancer IARC monographs on the evaluation of carcinogenic risks to humans: Vol. 109, outdoor air pollution IARC, Lyon, France, 2015.

Iqbal, S.Z.; Jinap, S.; Pirouz, A.A.; Ahmad Faizal, A.R. Aflatoxin M1 in milk and dairy products, occurrence and recent challenges: A review. Trends in Food Science & Technology, v.46 , p.110-119, 2015.

Ismail, A.; Gonçalves, B.L.; Neff, D.V.; Ponzilacqua,B.; Coppa, C.F.S.C.; Hintzsche, H.; Sajid, M.; Cruz,A.G.; Corassin, C.H.; Oliveira, C.A.F. Aflatoxin in foodstuffs: Occourence and recent advances in decontamination. Food Reaseach Internacional, 113, 74-85, 2018.

Izzo, L., Narváez, A., Castaldo, L., Gaspari, A., Rodríguez-Carrasco, Y., Grosso, M., Ritieni, A. Multiclass and multi-residue screening of mycotoxins, pharmacologically active substances, and pesticides in infant milk formulas through ultra-high-performance liquid chromatography coupled with high-resolution mass spectrometry analysis, Journal of Dairy Science, v.105, n.4, p.2948-2962, 2022.

Narváez, A., Rodríguez-Carrasco, Y., Izzo, L., Castaldo, A. Ritieni Target quantification and semi-target screening of undesirable substances in pear juices using ultra-high-performance liquid chromatography-quadrupole orbitrap mass spectrometry, Foods, v.9, p.841, 2020.

Santilli, A.B.N.; Camargo, A.C.; Nunes, R.S.R.; Gloria, E.M.; Machado, P.F.; Cassoli,L.D.; Dias, C.T.S.; Caroli-Domingues, M.A. Aflatoxin M1 in raw milk from different regions of São Paulo state- Brazil. Food Additives & Contaminants: Part B, 8, 207–214, 2015.

RAMON DA SILVA ROCHA

Programa de Pós-Graduação em Hig. Vet. E Proc. Tec. de POA, Faculdade de Veterinária,Universidade Federal Fluminense - UFF, Niterói, RJ e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Departamento de Alimentos, Rio de Janeiro, RJ

MARIA EDUARDA MARQUES SOUTELINO

Programa de Pós-Graduação em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal, Universidade Federal Fluminense (UFF)

ADRIANO GOMES DA CRUZ

Engenheiro Químico, Doutor em Tecnologia de Alimentos (UNICAMP), Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) - Departamento de Alimentos.

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