Por Alda Lúcia Gomes Monteiro1, César Henrique E. C. Poli2 e Aníbal de Moraes3
As pastagens constituem a base natural da alimentação dos animais ruminantes, sendo considerada a forma de alimentação de menor custo. Os ovinos, sendo ruminantes, possuem elevada capacidade de aproveitar alimentos fibrosos. Por isso, recomenda-se que a maior parte de sua dieta seja constituída de alimentos volumosos, inclusive pelo menor custo.
É importante destacar que para a formação de áreas de pastagens de qualquer espécie é fundamental a realização de análise de solo da área para o conhecimento da fertilidade do solo. A partir daí, far-se-ão os cálculos de adubação de formação e de manutenção das pastagens. Para a execução e interpretação da análise, um engenheiro agrônomo deverá ser consultado.
Hábito de pastejo
Os ovinos revelam uma capacidade de pastejar um pouco mais próximo ao solo comparado aos bovinos, sendo este comportamento ligado principalmente à sua estrutura buco-maxilar de preensão de alimento. Dessa forma, em razão dos lábios superiores fendidos e móveis, o animal apresenta maior capacidade de preensão da forragem em relação aos bovinos, pois podem utilizar os lábios, os dentes e a língua, o que lhes confere alto poder de seleção no pastejo.
Os ovinos são muito seletivos do ponto de vista nutricional, e a rejeição por materiais altos ocorre não devido à altura por si só, mas sim em função da preferência pelo extrato inferior das plantas por razões nutricionais (onde se localizam folhas novas e brotos). Apresentam comportamento de pastejo em lotes, dificilmente sendo avistados animais isolados. Cita-se que o ovino deslanado apresenta comportamento um pouco diverso, explorando mais o pasto e caminhando mais na busca e seleção do alimento.
Em relação ao tempo de pastejo, para os ovinos observa-se entre 8 (Favoretto, 1990) até 13 horas por dia (Carvalho et al., 2001), sendo que uma parte importante do tempo de pastejo ocorre nas quatro horas que antecedem ao pôr do sol. Assim, o recolhimento dos animais para o aprisco à noite para evitar o ataque dos predadores deve respeitar esse horário de maior pastejo.
Espécies forrageiras
As plantas forrageiras têm sua quantidade e qualidade dependentes da produção de matéria seca, distribuição e desenvolvimento vertical das diferentes partes da planta (estrutura da pastagem), densidade da vegetação, relação folha:caule, arranjo e acessibilidade das folhas e facilidade de preensão e remoção dos componentes das folhas.
De acordo com Carvalho et al. (2002), a premissa básica do manejo da pastagem começa pela escolha de forrageiras de qualidade, passando à otimização do consumo individual dos animais, ao mesmo tempo em que otimiza a interceptação da radiação solar através de um grande número de folhas na pastagem, devido à grande importância da qualidade das folhas para a nutrição dos ovinos. A seguir, apresenta-se um quadro com as principais características de algumas plantas forrageiras utilizadas por ovinos, na região Sul e Sudeste do Brasil.
Tabela 1. Características das espécies forrageiras mais comuns para utilização com ovinos
* Estão incluídos nesse grupo os diversos híbridos selecionados a partir da espécie de Cynodon dactylon: Coat cross-1, Tifton-85, Tifton-68, Florakirk, Florona etc.
Obviamente existem outras espécies forrageiras que podem ser indicadas para utilização, sempre respeitando as condições de solo e clima da região, e principalmente observando as exigências dos animais quanto à sua disponibilidade.
Pastagens manejadas com excesso de lotação apresentam elevada infestação de plantas indesejáveis, pois não conseguem repor seu crescimento (rebrota) no mesmo ritmo em que suas folhas são retiradas pelos ovinos e também pode resultar em elevada ocorrência de verminoses.
Sistemas de manejo contínuo e rotacionado
As pastagens podem ser utilizadas através de sistemas de manejo contínuo ou rotacionado. O primeiro refere-se ao sistema em que os animais permanecem longos períodos de pastejo em uma única área. Neste sistema, deve-se observar a carga animal com bastante cuidado, observando sempre o ajuste da carga conforme a disponibilidade de pasto, para que a oferta de forragem não fique abaixo da recomendação por categoria (chamado manejo contínuo com lotação animal variável).
O sistema rotativo ou rotacionado estabelece um número de dias de ocupação e de descanso, conforme o ciclo vegetativo da forrageira, de forma que os animais utilizem os piquetes por período curto, promovendo um período de descanso para a rebrota das plantas. Normalmente o número de dias de ocupação está ao redor de 1 até 5 dias. Destacam-se as seguintes características dos sistemas de manejo contínuo e rotativo (ou rotacionado) (Poli, 2003):
Sistema rotacionado
- maior controle do consumo
- pastejo mais uniforme na área
- a manipulação da produção e da oferta de forragem é mais fácil
- maior custo em função das divisões em cercas
- mais material morto e colmos, principalmente com espécies tropicais, que têm maior taxa de crescimento
Sistema contínuo
- consumo a vontade (maior oportunidade de seleção)
- formação de áreas de sub e superpastejo (áreas rejeitadas)
- a manipulação da produção e da oferta de forragem é mais difícil
-menor custo
Quanto ao manejo de pastagens em sistema rotacionado, as espécies de pastagens comumente utilizadas devem ficar em descanso por período que as permitam alcançar novamente as metas de disponibilidade ou cobertura de forragem exigidas pela categoria animal em questão.
Para controlar essa cobertura, pode-se utilizar a adubação nitrogenada no caso de escassez de forragem, ou fornecer forragem conservada (feno ou silagem) aos animais. Para controlar o excedente pode-se efetuar o diferimento de determinadas áreas, o corte para aproveitamento do excedente como forragem conservada, ou ainda o uso de outras espécies animais da propriedade.
Bibliografia consultada
CARVALHO, P.C.F. de; POLI, C.H.E.C. et al. Manejo de pastagens para ovinos: uma abordagem contemporânea de um antigo desafio. In: Simpósio Paranaense de Ovinocultura, 9, Anais...Ponta Grossa, PR. 2001. p. 79-102.
CARVALHO, P.C.F. de; POLI, C. H. E. C. et al.. Normas racionais de manejo de pastagens para ovinos em sistema exclusivo e integrado com bovinos. In: Simpósio Paulista de Ovinocultura, 6, Anais...Botucatu, SP. 2002. p. 21-50.
CARVALHO, P.C.F. de; RIBEIRO FILHO, H.M.N. et al. Importância da estrutura da pastagem na ingestão e seleção de dietas pelo animal em pastejo. In: Mattos, W.R.S. et al. (ed.). A produção animal na visão dos brasileiros. Piracicaba: FEALQ. 2001. p. 853-871.
FAVORETTO, V. Pastagens para ovinos. In: Produção de ovinos. Anais...Jaboticabal: FUNEP, 1990. p.65-80.
POLI, C.H.E.C. Comunicação pessoal, 2003.
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1Profa. Dra. Área Ovinocultura e Caprinocultura- Departamento de Zootecnia- UFPR
2Prof. Dr. Área Ovinocultura e Caprinocultura - Departamento de Zootecnia- UFRGS
3Prof. Dr. Área Forragicultura e Pastagens - Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo - UFPR