A produção de leite a pasto é uma prática muito comum e realidade da maioria das fazendas brasileiras, principalmente de agricultura familiar. Neste artigo, trazemos alguns pontos para maximizar a eficiência deste sistema.
Desde antigamente, em meados à domesticação dos animais, busca-se o aprimoramento das técnicas de criação. Nas últimas décadas são consideráveis os avanços no campo da nutrição e alimentação de ruminantes.
Novas técnicas de alimentação e manejo foram propostas para minimizar os prejuízos e aumentar a renda dos diversos setores e sistemas produtivos. A maior produção em menor preço é a meta a ser seguida.
Em consequência disso, vários comentários foram feitos, vários textos publicados e muitas tecnologias implantadas. Dentro deste contexto, definem-se os diversos sistemas utilizados, bem como normas e/ou receitas a serem empregadas foram se estabelecendo a fim de se obter sucesso.
Para tanto, cabe ressaltar que principalmente na bovinocultura de leite, não há necessidade de complicar aquilo que é muito simples. Ainda, sobre o mesmo ponto de vista, a vaca de leite não precisa de luxo e sim de premissas básicas e eficientes para se construir um sistema simples e consolidado.
Para que aumente a eficiência do sistema, torna-se fundamental uma base alimentar consolidada, pois já diziam nossos avôs "crianças bem alimentadas não ficam doentes". Em se tratando de gado de leite, como na maioria dos sistemas de produção animal, a alimentação significa a maior parte dos custos da produção e o uso de um alimento barato e de fácil oferecimento é fundamental para o sucesso.
Em se tratando de produção de leite em pasto, em que a forragem é diretamente pastejada pelo animal, a diminuição dos custos torna-se consequência. A oferta de alimento no momento certo (ponto ótimo de manejo da forragem) e em quantidade certa permite uma dieta volumosa adequada para que as vacas possam produzir até 12 litros de leite por dia (Deresz e Matos, 1996), desde que este tenha potencial genético.
Assim, um sistema com pastagem bem consolidada, de baixo custo de implantação em comparação aos demais sistemas de produção de leite, confere segurança e versatilidade para o sistema frente aos altos preços de insumos e baixo preço do leite, que a cada dia, decepciona os produtores rurais, vertiginosamente.
Considerando como base o pasto (volumoso de verão), é de fundamental importância que se utilize um sistema mais produtivo possível (altas taxas de lotação) com um capim que seja também produtivo.
Assim, dentre estes sistemas, aconselha-se o uso do pastejo rotacionado, que nada mais é que uma área subdividida em piquetes (como por meio de cerca elétrica), que tem como finalidade fornecer ao animal um capim no seu ponto ótimo e após o pastejo dos animais.
Este capim será adubado (no verão) e passará por um período de descanso, que varia para cada capim, a fim de proporcionar sua recuperação rápida e eficiente, para novamente ser pastejado no próximo ciclo de pastejo.
Este sistema, originalmente, foi desenvolvido para beneficiar o capim, respeitando seu crescimento, porém, também permitiu aumentar as taxas de lotação, conseguindo-se até 15 UA/ha, ou 15 animais adultos de 450 kg de peso vivo.
Como dito anteriormente, a adubação de verão, feita após a saída dos animais do piquete pode ser feira por meio da adubação mineral (ureia e/ou sulfato de amônio - como fontes de N-, e cloreto de potássio - fonte de K) e também adubação orgânica como a cama de frango (Benedetti et al., 2009).
Um sistema tão simples, que em pequenas propriedades, a adubação pode ser feita no fim da tarde, com um balde ou recipiente, de forma rápida e rotineira, distribuída manualmente no pasto.
No inverno, o uso da cana de açúcar substitui a silagem ou feno, alimentos mais caros (Tabela 1) utilizados nos sistemas de confinamento. O fato de que os animais sairiam do pasto e passariam a comer no cocho, poderia ser um agravante no aumento do preço dos custos de produção.
Porém, a cana é hoje o volumoso mais barato depois do pasto e que embora proporcione baixas produções de leite por animal por dia (4-6 litros) é atrativa por ser barata e de fácil manejo, principalmente para pequenos produtores que não possuem maquinários (trator, colhedora de forragem) para fazer silagem e que a quantidade de animais arraçoados é pequena e pode ser tratada diariamente por meio do corte da cana.
Como o animal é tratado no cocho na época seca, muitos podem considerar um custo exuberante com a aquisição de cochos. Esse é outro aspecto interessante presente nas pequenas propriedades produtoras de leite, pois em cada uma o conhecimento de novas formas de reciclagem de utensílios é verificado (Figura 1).
A reutilização de tambores, banheiras antigas, entre outros, se enquadra muito bem nos diversos sistemas de produção de leite a pasto, seja ele com vacas de alta, média ou baixa genética. Para um consumo efetivo de água pelos animais, não há necessidade de que os cochos e bebedouros sejam de material nobre, mas que estejam limpos e bem posicionados (fácil acesso).
Grande parte da composição do leite é água. Portanto, água de qualidade é aquela potável que deve existir em quantidade suficiente para atender o consumo dos animais e ao mesmo tempo esteja livres de micróbios, matéria orgânica e outros contaminantes. Portanto, limpeza constante de bebedouros é fundamental para a produção.
Figura 1. Aproveitamento de tambor de plástico e banheira antiga para cochos e bebedouros.
Não só para a água de bebida dos animais, mas também para atender os aspectos de higiene ao trabalho diário de limpeza e higienização dos animais, dos equipamentos e das instalações. Não há necessidade que os animais pisem sobre "flocos de espuma", mas que este piso esteja limpo, mesmo que seja de acabamento grosseiro, mas que atenda as expectativas de higiene e bem-estar animal.
Ainda, uma sombra de qualidade para os animais não é aquela exclusivamente de telhados de barracões, mas sim aquela que seja suficiente e de qualidade e que o animal não precise disputá-la com máquinas e implementos.
Em resumo, leite de qualidade é aquele produzido por vacas sadias, bem alimentadas e em bem-estar, que conserva as qualidades nutritivas ao longo de todas as etapas de sua obtenção sem riscos para saúde humana quando consumido.
Quanto à suplementação das vacas ao longo do ano, estas não precisam de rações que contenham produtos milagrosos que, a um passo de mágica, farão com que os animais de uma hora pra outra, aumentem sua produção.
Uma ração bem formulada, mesmo que seja à base de milho e soja (proteico e energético), com a opção de acrescentar um mineral ou este sendo fornecido à vontade no cocho, atende a todos os requisitos de uma vaca que produz leite em pasto.
No entanto, aconselha-se que um animal comendo pasto mais concentrado seja de média produção, utilizando-se animais de até 30 litros de leite por dia, uma vez que animais com produções maiores, com certeza deverão comer um alimento de maior qualidade para que este desempenhe seu potencial, dentre os quais, podemos destacar a silagem de milho associada ao concentrado.
O uso de subprodutos da agroindústria como parte desta suplementação, tem se tornado prática comum, com resultados positivos para o sistema. Preços atrativos reduzindo o preço da ração utilizada é uma das principais causas da utilização.
No entanto, cabe ressaltar que a variabilidade da qualidade nestes subprodutos pode ser considerável no momento de sua utilização, pois, em alguns casos, sua padronização não é seguida a risca. Outro aspecto importante é a disponibilidade inconstante ao longo do ano, prejudicando demasiadamente a utilização diária e compra destes alimentos.
No entanto, uma compra estratégica e antecipada poderá ainda mais, baratear os custos e salvar o sistema em determinados períodos. É como dizem, "uma boa compra vale mais que uma boa venda".
Para fechar um sistema simples e objetivo, o armazenamento do leite produzido deve ser levado a sério, mesmo que os preços para se produzir leite em pasto sejam menores, em comparação à produção de leite com vacas confinadas.
Embora as lucratividades, segundo a literatura, sejam por volta de 20 a 30% sem considerarmos mão de obra, a obrigação é que o leite seja entregue ao caminhão que vem até a fazenda ou levado até um tanque comunitário, para que este chegue de forma intacta ao laticínio ou ao seu destino onde será processado.
Para tanto, mesmo que pequenos produtores não tenham condições de adquirir um tanque de expansão (resfriador) para armazenamento do seu leite, com certeza, a união destes produtores poderá resolver estes problemas facilmente com a redução do custo deste tanque.
Assim, para produzir com lucratividade e simplicidade não precisamos mais inventar sistemas. Com certeza temos um sistema que demanda poucos investimentos inicias e, além de tudo, está adequado para o clima e os recursos que nós, brasileiros, temos em nosso país.
Para tanto, todo e qualquer sistema requer orientação técnica e acompanhamento por meio de planilhas de custos para que tenhamos eficiência dos fatores de produção, que embora simples, requerem atenção.
Assim e somente assim conseguiremos que nossas propriedades rurais se tornem empresas eficientes e lucrativas. Para finalizar, o Brasil é um país que podemos produzir leite com nossas vacas criadas 100% em pasto.
Literatura citada
BENEDETTI, M.P.; FUGIWARA, A.T.; FACTORI, M.A.; COSTA, C.; MEIRELLES, P.R.L. Adubação com cama de frango em pastagem. Águas de Lindóia. Anais... Águas de Lindóia. ZOOTEC. 2009. CD Rom.
CEPEA/ESALQ-USP Metodologia do índice de preços dos insumos utilizados na produção pecuária Brasileira. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
DERESZ, F.; MATOS, L. L. Influência do período de descanso da pastagem de capim elefante na produção de leite de vacas mestiças Holandês x Zebu. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 33, 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBZ, 1996. v.3, p.166-167.