O projeto de pastejo rotacionado, com tamanho e taxa de lotação dos piquetes, é uma das principais dúvidas dos produtores de leite. Vamos tentar esclarecer esta dúvida aqui, mas antes precisamos contar uma história:
"Em certo dia um vizinho que gostava de copiar o outro vendo o seu vizinho preparando a terra resolveu fazer o mesmo. Quando o primeiro plantava o outro ia e copiava. Depois, o capim nasceu e o primeiro foi e dividiu a área em piquetes utilizando um fio de arame somente e, por fim, quando o primeiro soltou seus animais na área, o outro fez igualzinho. Mas, por um inconveniente tremendo, pegou fogo na área do primeiro vizinho e, por surpresa, o segundo ateou fogo na sua também!"
Engraçado, porém trágico quando se trata de manejo ideal do capim. O objetivo não é copiar e sim adequar a cada realidade, às características de cada área e de cada manejo. Quando pensamos em pastagem, obviamente o manejo deve ser específico para cada propriedade. Contudo, alguns princípios básicos, que são passados nos centros de pesquisas e universidades, podem ser implantados pelos produtores.
O que é pastejo rotacionado?
Nos sistemas de produção intensiva, o sistema de pastejo com lotação rotacionada é o mais indicado, por garantir maior uniformidade e eficiência de pastejo. Basicamente, trata-se de dividir a área em piquetes de acordo com a forrageira utilizada (número de dias de descanso) e dos dias de ocupação (tempo que os animais permanecem no piquete).
Como dividir os piquetes no pastejo rotacionado?
O número de piquetes será em função do período de descanso (PD) (Tabela 1), que varia de acordo com a espécie forrageira utilizada e do período de ocupação (PO). Pode ser obtido pela equação: número de piquetes = (PD/PO) + 1.
O período de ocupação deve ter a menor duração possível, podendo variar de 1 a 8 dias garantindo, assim, melhor rebrota das plantas e facilitando o controle da lotação da pastagem.
Tabela 1. Principais Gramíneas forrageiras tropicais com seus respectivos períodos de descanso (dias).
Como descrito, o período de ocupação está mais relacionado com a espécie e o objetivo. Certamente, períodos de ocupação de um dia são o ideal, pois a forrageira, ao ser consumida (pastejada), já começaria a rebrotar.
Desta forma, se o animal voltar a pastejá-la, irá com certeza prejudicar sua rebrota, prejudicando o pastejo do ciclo posterior – chamamos de ciclo de pastejo o tempo no qual o animal demora para voltar a pastejar o mesmo piquete, dentro do sistema de piquetes os quais ele se encontra.
Ainda, manter um dia de ocupação faz com que o animal que está pastejando (principalmente o gado de leite) se alimente de uma forragem de mesmo valor nutricional. Explicando de outra forma: se o animal permanecer mais dias no mesmo piquete, um dia ele comerá somente folha (de maior qualidade, maior proteína) e no outro poderá comer, além da folha, o colmo da forragem (que tem menor valor proteico). Para gado de corte, isto não é primordial, podendo utilizar mais que um dia de ocupação.
Quantos piquetes por hectare no pastejo rotacionado?
Sendo assim, considerando um hectare a ser dividido e, portanto rotacionado, se efetuarmos uma breve conta com 27 dias de descanso e um dia de ocupação, teremos 28 piquetes. Considerando 10.000 m2 teremos piquetes de aproximadamente 350 m2. Também teremos que ter corredores de acesso e por isso os piquetes seriam pouco menores que isto.
Quantas animais por hectare no pastejo rotacionado?
Esta é uma conta simples a ser realizada. Primeiramente, qual produtividade do capim utilizado em função do manejo? Para isso devemos medir a produtividade do capim por área. Devem-se obter a cada área algumas coletas de material e estimar a lotação.
Para isso, devemos coletar o capim rente ao solo com uma moldura de área conhecida. Podemos utilizar um metro quadrado, ou seja, uma moldura feita de cano, ferro ou até mesmo de bambu (Figura 1) de dimensões 1x0,5m (meio metro quadrado) ou ainda 1x1 m (1 metro quadrado).
Feito isto, cortamos toda forragem rente ao solo em pelo menos uns 3 a 5 pontos na área e depois pesamos e multiplicamos este peso por 0,20 (20% é o teor de matéria seca do capim no ponto ótimo de corte). Logicamente que, em cada caso, este teor de matéria seca irá ser diferente, mas com a utilização de 20% já teremos uma grande aproximação da realidade. Existem metodologias especificas e simples para fazer isso.
Feito isto, teremos uma produtividade de massa seca pela área coletada. Multiplique esta produção por 0,7 ou 70% (valor que usamos para desconsiderarmos as perdas (30%) e altura de resíduo do capim) e teremos a produtividade média pela área coletada. Assim, extrapolamos para a área toda multiplicando o peso médio de um metro quadrado pelo tamanho do piquete e assim temos a produtividade do piquete (massa seca por dia).
Para vermos a lotação, consideramos que uma vaca de leite come por volta de 2,5 a 4% do peso vivo (de corte ao redor de 1,8%) em massa seca por dia. Ou seja, um animal de 500 kg x 3% comerá 15 kg de massa seca por dia.
Sendo assim, se o meu piquete produz por dia 150 kg de massa seca, temos uma lotação de 10 animais. Caso nós utilizemos mais dias de ocupação, fica evidente que teremos que dividir a produção daquele piquete pelos dias de ocupação e assim ajustar a lotação.
Para tanto, se aumentarmos o número de dias de ocupação, se lembrarmos bem, iremos diminuir o número de piquetes e portanto aumentar a área de cada piquete, segundo a fórmula anterior.
Figura 1. Foto ilustrativa da coleta de forragem dentro de moldura de área conhecida (Foto: Paulo Roberto de Lima Meirelles, 2006).
Logicamente tudo é variável a cada caso, mas com certeza desta forma iremos calcular a lotação utilizada. Ainda, (segundo nosso exemplo) se dividimos um hectare por 28 piquetes e um dia de ocupação, teremos que a cada dia, comerá 10 animais sendo rotacionado nos piquetes, ou ainda estes dez animais, irão comer um piquete por dia e quando eles voltarem no primeiro piquete, consideraremos um ciclo de pastejo ou ainda lotação de 10 animais por hectare, em um rotacionado de 1 hectare com 28 piquetes com um dia de ocupação. Somente como exemplo, em uma área de 2 hectares, divididos em 28 piquetes do dobro de tamanho, teremos 20 animais em dois hectares com a lotação de 10 animais por hectare e assim por diante.
Obviamente que este ajuste não é viável ser realizado diariamente, mas com certeza poderemos fazê-lo, (no mínimo) uma vez por ciclo de pastejo, pois consideramos que ao longo do ano a produtividade do capim varia e devemos ajustar a lotação para que não falte comida aos animais. Também, devo ressaltar que ao longo do tempo nossos olhos vão ficando calibrados e conseguiremos aumentar ou diminuir a lotação apenas visualmente (diariamente). Em resumo, faltou comida retiramos animais e sobrou comida adicionamos animais.
Também temos casos inversos em que o produtor tem área sobrando e por isso quer rotacionar uma área qualquer para 20 animais. A conta seria o inverso, pois desta forma faremos a conta sobre a lotação, considerando a lotação média por área, dividindo então esta área por determinados número de piquetes e assim em diante.
Mas, então, qual o tamanho ideal de rotacionado? Devo separar novilhas e vacas, animais a serem abatidos ou afins em outro rotacionado?
A resposta mais simples que comento com as pessoas é que o rotacionado varia de acordo com sua propriedade, sua área, número de animais, ou ainda, o que mais gosto de dizer é que para gado de leite, está relacionado com a média do número de animais por lote (se possível utilizar um rotacionado por lote) e ainda para animais de corte, está inteiramente relacionado com o quanto de animais cabem no seu curral ao mesmo tempo para serem manejados. Enfim, quanto menor for o rotacionado melhor e mais intensivo será o manejo e, portanto, melhor poderá ser, mas já vi o contrário acontecer. Sobre categorias animais, se puder separe por idade, por lotes e ainda principalmente, sem sombra de dúvidas, por espécie.