Algumas alterações de clima, seja de regime de chuvas ou temperaturas acontecem em função da época do ano. No Brasil temos ao menos duas estações bem definidas, uma com mais e outra com menos calor. Geralmente a de maior calor chove (em algumas regiões do Brasil) e faz condições favoráveis ao crescimento forrageiro. A outra, com menos calor, ou seja, frio, as condições são desfavoráveis para o crescimento forrageiro e por fim, desfavorável a maior produção de leite, por proporcionar momentos mais críticos que interferem diretamente nos animais.
Para a produção de leite necessitamos, de fato, um animal com boa genética, alimento de boa qualidade e o bem-estar animal. Este, por sua vez, lapida os demais por ser um fator muito importante, pois um animal bem alimentado sem condições de ambiente produz menos. Uma vaca que não possui condições favoráveis de ambiente pode produzir até 7 litros de leite a menos por dia, segundo a literatura.
Vamos então a uma história: em certa ocasião, me deparei em uma propriedade com conceito um pouco controverso. Sabem qual? O molhamento, por meio de aspersores, de vacas na pré ordenha. O procedimento era adotado pois o produtor entendia que vaca quando molhada ela perdia calor. Imagine você em uma piscina.
Segundo alguns preceitos meus, quando pensamos em regulação, o princípio do suor é produzir gotículas de água na pele e, quando passa uma corrente de ar (vento), a água que está ali evapora e “rouba” calor da pele do animal. Dessa forma, cria um ciclo de dissipação de calor esfriando o animal. Mas vocês devem estar pensando, é errado molharmos as vacas?
O princípio é simples. Quando molhamos um animal e não criamos uma corrente de vento a água evapora menos ou não evapora, criando assim água quente por sobre os animais, entenderam? Quase uma sauna, para quem conhece. Então se não houver um ventinho, seja por ventiladores ou pelas condições normais a vaca pode se aquecer mais? Infelizmente sim.
Então o que fazer? Como eu diminuo o estresse por calor de animais leiteiros?
No campo faça sombras, tanto naturais por meio de árvores ou artificiais por meio de sombrite (Figura 1). Se possível, cocho e bebedouros em áreas com menos calor (não frio). Vacas e ruminantes em geral não gostam de água fria. Bebedouros devem ficar com água fresca em temperatura ambiente água fria diminui a eficiência da fermentação do alimento no rúmen.
Cochos devem estar se possível, longe do sol intenso. Animais com calor comem menos e consequentemente tomam mais água para se esfriarem. Assim, não ingerem o que precisam e não conseguem atender suas exigências para produzir. Talvez dentro da “barriga da vaca” não tenha alimento e sim água. Portanto molhar alimento em excesso pode ser errado.
Figura 1. Sombreamento natural por meio de árvores e sombrite, respectivamente.
Ao serem conduzidos ao curral optem por manejar os animais em horários mais frescos. Na sala de pré ordenha, utilize ventiladores nebulizadores, ou seja, aqueles que usa o vento associado à névoa de água que solta. Essa água não molhará o animal a ponto de escorrer água e sim umedece-o e, com o vento, diminuir o calor do animal.
Na ordenha, seja o mais rápido possível. Não precisa se apressar e fazer um serviço ruim, mas seja breve, regule sua ordenha e dê ao animal o melhor conforto que puder. Aproveitando: o alimento dentro da ordenha é bom? Eu prefiro não usar esse manejo, ele gera muito calor também. Imagine você almoçando espremido em um restaurante.
Observado diariamente podemos, com certeza, ver alguns impactos negativos do calor. Mas em que o calor afeta, indiretamente? Animais com calor diminuem a produção de leite perdendo. por uma simples falta de sobra, de 1 a 7 litros de leite por vaca/dia considerando animais mais produtivos e de genética apurada. Quanto a reprodução, o estresse de uma forma geral e nesse caso o gerado pelo calor, diminui consideravelmente a prenhes dos animais e consequentemente a reprodução será influenciada, tanto pela diminuição do cio tanto pelo aborto. Sim, animais estressados abortam com maior frequência.
Em muitos casos pessoal, o calor afeta o animal como um todo não só na produção, mas também na qualidade do leite. Muitos casos de produtores entram em contato conosco pelo fato de seu leite está ácido. O primeiro pensamento é em função de contaminações. Depois, notamos que nada mais é que um Leite LINA (Leite Instável Não Ácido) causado pelas concentrações de gordura e proteína do leite influenciadas pela nutrição e pelo calor (estresses).
O calor é premissa para o aumento da produtividade forrageira pois algumas forrageiras tropicais em nosso país gostam de calor, mas se não houver manejo correto pode interferir diretamente na reprodução e produção animal. Sendo assim, olhe para seu animal. Ele, com certeza, lhe dará muitos sinais de erros. Diminuição de leite deve vir em último caso, antes ele irá transmitir sinais como: estarem ofegantes, inquietos, estressados e outros, para você tomar as devidas providências. Pense nisso.
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