As informações divulgadas pelo Censo Agropecuário 2017 mostraram que o número de propriedades que produzem leite de vaca caiu 13%, comparado ao número divulgado em 2006 (1,2% de queda ao ano). Como mostramos no texto “Quantos produtores de leite queremos ter no Brasil?”, este ritmo de desaparecimento das propriedades leiteiras é menor do que o observado em países com produção mais consolidada e com índices de produtividade mais elevados, nos quais a taxa média de supressão gira em torno de 4,2% ao ano.
Neste novo artigo a respeito do tema, analisamos a queda do número de fazendas leiteiras por estrato de produção entre os Censos do IBGE de 2006 e 2017. Os dados do levantamento de 2017 indicam que apenas 2% das propriedades do país produzem mais de 500 litros diários, cenário ligeiramente melhor que em 2006, quando o número não chegava a 1%. Enquanto isso, 71,2% das propriedades do país possuem uma produção menor que 50 litros/dia, valor 23% inferior a 2006, como mostra o gráfico 1.
Gráfico 1. Estratificação da produção leiteira brasileira e sua representatividade no total de propriedades e de leite produzido, em 2006 e 2017
Fonte: Censo Agropecuário 2006 & Censo Agropecuário 2017, elaborado por MilkPoint Mercado.
Em números totais, o estrato de estabelecimentos com produção menor que 50 litros/dia perdeu mais de 242 mil produtores ao longo destes 11 anos, o que representa uma taxa de desaparecimento de 2,3% ao ano (maior que os 1,2% da média nacional, mas ainda menor do que os 4,2% dos outros países produtores). Assim como mais de 14 mil estabelecimentos passaram a ter uma produção superior a 500 litros/dia, um aumento de 9,3%/ano no número dessas propriedades.
Apesar da representação de propriedades maiores (500 litros ou mais) ainda ser irrisória quando comparada ao total, elas respondem por quase um terço de todo o leite produzido no país, volume 130% superior ao total produzido pelas quase 834 mil propriedades com produção menor que 50 L/dia.
Ainda que, ao longo destes 11 anos, o cenário tenha convergido para uma diminuição do número de pequenos produtores e um crescimento de propriedades mais produtivas e eficientes, o ritmo dessa mudança e o panorama visto hoje no Brasil é abaixo do que a realidade encontrada em outros mercados.
Países com atividade leiteira com maior produtividade conseguem ter um rendimento maior por vaca e produzir mais leite, utilizando menos área e menos animais. De acordo com Observatorio de la Cadena Láctea Argentina, a Argentina apresentou no ano de 2018 uma produtividade diária de 2.442 Litros/propriedade, 34,7 vezes maior que a média brasileira de 70,4 litros/propriedade/dia (de acordo com o IBGE). O gráfico 2 apresenta os estratos de produção na Argentina, e como a atividade leiteira no país é mais concentrada em grandes propriedades do que no Brasil.
Gráfico 2. Estratificação da produção leiteira argentina e sua representatividade no total de propriedades e de leite produzido
Fonte: OCLA, elaborado por MilkPoint Mercado.
A principal vantagem produtiva, presente nestes países com elevado rendimento diário, como a Argentina, é a forte presença de estabelecimentos com grande volume de produção, sendo a atividade leiteira bastante associada a ganhos por escala de produção. A diluição de custos fixos, aumento da eficiência de mão-de-obra e outros itens indicam um melhor resultado em custos das fazendas de maior volume.
Assim, apesar de estarmos convergindo para um cenário de crescimento do número e, principalmente, do volume produzido em grandes propriedades (os top 100 crescem a taxa de 10% ao ano!), este ritmo de mudança ainda é lento, o que ainda pode representar limitantes futuros a competitividade da nossa cadeia produtiva.