A Vigor, controlada pelo grupo mexicano Lala, trabalha desde 2019 para desenvolver sua divisão de queijos, uma das quatro dos negócios da companhia. Segundo o plano da empresa para os próximos três anos, o segmento passará a responder por 60% do faturamento ao fim desse período. O novo ciclo do planejamento começa em 2023.
No ano passado, com as vendas de queijos da companhia perto de R$ 1,6 bilhão, a divisão representou 40% da receita. Em entrevista ao Valor Econômico, Luis Gennari, presidente da Vigor, não deu detalhes da receita total da empresa, mas contou alguns dos próximos movimentos relacionados à estratégia.
O plano inclui um aporte de R$ 100 milhões apenas neste ano na área de queijos, destinado às fábricas, ao marketing e capital de giro para manter estoques. Há, ainda, a parceria com produtores mineiros em um projeto que visa incentivar o consumo de queijo artesanal no país.
Gennari assumiu o comando da Vigor em janeiro de 2020. Desde então, a companhia “avançou” de modo geral, avalia, mesmo em meio aos efeitos da pandemia de Covid-19 e do cenário econômico adverso para o consumo de produtos considerados supérfluos, como os iogurtes.
A contribuição para o desempenho que ele considera positivo veio, sobretudo, da divisão de queijos, que avançou média de 20% ao ano. Em 2022 cresceu 30%. As outras três áreas de negócios são lácteos (iogurtes e sobremesas), margarinas e maioneses, e a que atende empresas de todos os tamanhos.
“Tínhamos surfado de forma muito especial o lançamento do grego no mercado de iogurtes [até 2019], o que colocou a companhia em outro patamar no cenário nacional de alimentos. Mas a gente precisava ser Vigor além do [iogurte] grego”, disse.
Desse modo, a busca por protagonismo no mercado brasileiro de queijos começou a ser formatada pouco antes de 2019, quando Gilberto Xandó, hoje na JBS Brasil, ainda comandava a Vigor. Gennari assumiu a presidência da indústria de lácteos em 2020, mas chegou a trabalhar em parceria com Xandó ao longo dos três últimos meses de 2019.
A companhia fez aportes estruturais e em marketing que ajudaram a “dobrar” o negócio de queijos no período entre 2019 e 2022. Segundo ele, a Vigor conseguiu ganhar espaço porque aproveitou a onda da “gourmetização”. Fora o interesse crescente das pessoas por cozinhar, os momentos de aperitivo (mesmo os “happy hour” de forma virtual que ocorreram na pandemia) também ajudaram a impulsionar as marcas Faixa Azul e Vigor.
Ele conta que a empresa está de olho no consumidor que busca diferenciar um pouco o dia a dia — “aquele que põe um pouco de parmesão na salada verde”, exemplifica. As pessoas que têm esse perfil pertencem a uma faixa de poder aquisitivo que não foi tão afetada pelo contexto econômico, mas o gosto por diversificação não é restrito à classe social, comenta.
“A questão sócio-demográfica não é mais suficiente para traçar perfil de consumo. Não olhamos só para ela”, disse. O que a classe social, na realidade, determina, é o ritmo de compras. Em outras palavras: quem tem menor poder aquisitivo também vai comprar um queijo diferente para aperitivo, mas menos vezes.
O desafio dessa indústria — e não apenas da Vigor — acrescenta, é desenvolver a categoria observando esses potenciais. Uma das formas para ampliar vendas é desenvolver as ocasiões de consumo, além de ampliar o portfólio de produtos.
Neste segundo ponto reside uma das estratégias mais recentes da empresa. No ano passado, a Vigor começou a fechar parcerias com pequenos produtores mineiros objetivando incentivar o consumo de queijo artesanal.
Gennari explica que a Vigor disponibiliza, aos produtores, acesso a seus fornecedores, à sua equipe técnica e à capilaridade logística, mas o modelo não é o de sociedade. “Não muda nada na produção deles”, reforça. A ideia da Vigor é ‘assinar embaixo’ de produtos com qualidade reconhecida para incentivar as vendas na categoria. São queijos premiados internacionalmente.
A marca da empresa ao lado da do produtor poderá incentivar a compra por parte daquele consumidor que ficou curioso, mas que teria receio de comprar um queijo que não conhece. Apesar do foco, a Vigor não deixará de lado as outras áreas de negócios.
Há um forte rumor no segmento sobre a intenção de o grupo Lala, controlador do negócio, vender a empresa. “Sabe-se que querem vender, mas não para quem”, disse um empresário com trânsito no setor. Gennari é categórico ao afirmar que está a par do boato, mas a informação não procede. “Não estamos à venda. Não há nenhuma intenção direta”, diz.
Ele afirma ter uma relação próxima com a diretoria do grupo mexicano. “A Vigor é um negócio que eles visualizam como oportunidade para contribuir com o crescimento do grupo”.
As informações são do Valor Econômico.