A Nestlé escolheu um consórcio encabeçado pela empresa de private equity EQT para manter conversações exclusivas com vistas à compra de sua divisão de produtos para a pele, uma operação que poderá envolver nada menos que US$ 10 bilhões, disseram quatro pessoas familiarizadas com o assunto.
A decisão coroou um processo de leilão muito disputado em que a empresa de private equity concorrente KKR e outro consórcio encabeçado pela Advent International e pela Cinven também fizeram ofertas pela divisão, disseram essas fontes. A Unilever e a Colgate-Palmolive estudaram igualmente a possibilidade de fazer ofertas pela divisão consumidor do negócio, que inclui os cremes e loções Cetaphil e os tratamentos antiacne Proactiv.
A Nestlé está vendendo a divisão de produtos para a pele como parte dos esforços de seu principal executivo, Mark Schneider, de racionalizar a maior fabricante de alimentos do mundo a fim de focá-la em suas divisões de crescimento mais acelerado, ou seja, as de café, água, produtos para animais de estimação e ciência nutricional. A empresa, sediada na Suíça, informou em setembro que a divisão estaria "cada vez mais fora do alvo estratégico do grupo", ao prometer estudar a possibilidade de uma venda ou de um desmembramento como unidade independente.
A oferta feita pela sueca EQT, que é respaldada pelo departamento de investimentos soberanos de Abu Dhabi, entre outros, ocorre num momento em que fundos de compras de participações estão ansiosos por aplicar as quantias recorde de capital que têm captado. A EQT, além disso, está explorando uma potencial abertura de capital em Estocolmo, e o negócio com a Nestlé tende a lhe dar visibilidade entre os investidores.
Se bem-sucedida, a compra tende a ser uma das maiores transações na Europa para grupos de private equity neste ano.
Pessoas a par das discussões advertiram que a escolha da EQT pela Nestlé não é garantia do fechamento do negócio e que as negociações ainda podem fracassar. Nestlé, EQT, KKR e Advent preferiram não comentar. A Cinven não pôde ser acessada de imediato para se pronunciar.
O fim do investimento potencial representa uma ruptura com o passado para a Nestlé, que ainda em 2014 se empenhou em captar capital adicional para a divisão de produtos para a pele, sob o comando do antecessor de Schneider e atual presidente do conselho de administração do grupo, Paul Bulcke.
A divisão operava inicialmente sob o nome Galderma, um grupo suíço de dermatologia anteriormente controlado em conjunto pela Nestlé e L'Oreal. A Nestlé assumiu o controle integral em troca de € 2,6 bilhões em suas ações na empresa francesa de cosméticos.
A divisão de produtos para a pele é constituída por duas áreas principais de produtos, a de consumo e a de soluções médicas. Registrou vendas anuais de 2,7 bilhões de francos suíços (US$ 2,7 bilhões) em 2017, de acordo com informes da empresa, o que corresponde a cerca de 3% das vendas anuais da Nestlé. Os produtos de consumo geraram 41% das vendas, enquanto os produtos de preenchimento dérmico, entre cujos usos está a eliminação de rugas, responderam por 35%. Medicamentos vendidos sob prescrição médica para acne, psoríase e rosácea foram responsáveis por 24%.
Desde que assumiu como executivo-chefe, no início de 2017, Schneider realizou uma série de vendas de ativos a fim de se desvencilhar de divisões periféricas ou de crescimento mais lento, entre as quais a Gerber Life Insurance, subsidiária de seguros de vida da marca Gerber, divisão americana de doces e de alimentos infantis da empresa. A Nestlé recentemente anunciou que queria vender sua divisão de frios Hertas, uma vez que os consumidores estão recorrendo cada vez mais a alternativas vegetais à carne.
As ações da Nestlé fecharam com alta de 1,3% ontem, o que eleva sua valorização neste ano para 21,5%, comparativamente à expansão de 13,8% registrada pelo índice MSCI Europe de Produtos Básicos de Consumo.
As informações são do jornal Valor Econômico.