Quais são os efeitos da adoção de tecnologia na dinâmica dos produtores de leite no Brasil? Em um bate-papo exclusivo com o MilkPoint, André Rozemberg Peixoto Simões, professor do curso de Zootecnia na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), respondeu algumas questões referentes a este tema.
André é zootecnista e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Durante a graduação dedicou maior parte do tempo estudando a pecuária leiteira, inclusive como estagiário do PDPL (Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira). Hoje ele também coordena o Programa Rio de Leite, que promove há mais de 10 anos a capacitação de alunos e transfere tecnologias para produtores de leite no Mato Grosso do Sul, além de promover diversas ações técnicas e científicas.
Em 2017 atuou como pesquisador visitante na Universidade de Cornell nos Estados Unidos, estudando o impacto de políticas públicas e privadas para a cadeia produtiva do leite.
Segundo André, a tecnologia é fundamental para o desenvolvimento de qualquer nação. Não só na área do leite, mas, de todos os setores da economia, que de acordo com ele, só progridem com a inovação tecnológica, o progresso técnico dos métodos e a eficiência dos processos produtivos. “No leite, a indústria sempre está preocupada em lançar novos produtos e diminuir seus custos de produção. O varejo está sempre brigando por margens e também não fica de fora, assim como, o setor de insumos, que constantemente lança novidades que contribuem com o aumento da produção e produtividade no campo. O pecuarista precisa seguir essa tendência e se buscarmos na literatura e nas experiências práticas, as opiniões convergem sobre o assunto, ou seja, a tecnificação é fundamental já que basicamente todos que a adotam – de certa maneira – progridem, tanto financeiramente como tecnicamente”.
André será um dos palestrantes do Interleite Sul 2019, que ocorrerá nos dias 08 e 09 de maio em Chapecó/SC. Sua palestra comporá o painel Economia e Mercado e tem o seguinte título: “Efeitos da adoção de tecnologias na dinâmica dos produtores de leite no Brasil”.
Na sua apresentação, ele pretende destacar que o progresso técnico traz benefícios para quem está usufruindo de determinada tecnologia. “Na minha tese de doutorado desenvolvi um modelo de simulação para tentar entender qual seria o impacto caso a tecnologia fosse adotada mais rapidamente e por diferentes perfis de produtores existentes no Brasil. O que posso garantir é que benefícios serão gerados para aqueles que se tornarem adeptos a uma inovação".
O leite brasileiro é produzido por uma heterogeneidade muito grande de sistemas de produção, convivendo lado a lado, produtores grandes e altamente tecnificados com aqueles pequenos de menor capacidade de investimento e essencialmente dependentes da mão de obra familiar. "Com todo esse contraste, que nos torna diferente de muitos países mais desenvolvidos, o efeito geral do uso de tecnologias sobre as variáveis de mercado não se torna igualmente distribuído entre todos os produtores".
Ainda sobre a sua tese, Simões ressalta que um outro ponto estudado foram os impactos da adoção de tecnologias não só dentro da porteira daqueles que estão as utilizando, mas sim, o quanto isso também impacta nos preços do mercado, na distribuição da produção entre pequenos, médios e grandes e nos setores da indústria e varejo.
“Em linhas gerais, a pesquisa aponta que os simples processos de inovação em um país como o Brasil tende naturalmente a excluir uma parcela dos produtores. Isso reforça a teoria que estamos em um país diverso onde a produção tende a se centralizar nas mãos de grandes produtores e que os mesmos continuarão investindo e crescendo. Neste sentido, precisamos saber, em termos de políticas públicas, o que queremos de cenário futuro para o nosso país”.
André pontuou que a nova política pública vai determinar se é importante mantermos e fomentarmos a grande parcela dos nossos pequenos produtores para que eles tenham acesso à tecnologia e sofram menos nesse processo de transformação, ou se focaremos essencialmente nas grandes produções a fim de sermos mais competitivos no cenário internacional em termos de custos de produção, exportações e assim por diante.
"O movimento de adoção de novas tecnologias não cessará, independentemente da decisão de cada produtor. As tecnologias estão disponíveis e cabe a cada um decidir se entrará nessa ‘onda’ ou não’”, completou.
O pesquisador fez questão de acrescentar que no seu projeto também foi analisada uma situação menos provável, mas, que obteve um resultado interessante.
“Se aumentarmos a adoção tecnológica somente entre os pequenos produtores (e não nos grandes) eles também conseguem deslocar a produção dos maiores. Ou seja, pequenos produtores também têm potencial para suprir o mercado interno e até ganhar um espaço hoje suprido pelos grandes. Não podemos pensar que o pequeno será invariavelmente excluído, existe uma resposta econômica para eles quando os mesmos trabalham com um mínimo de produção que os tornem eficientes".
"Pequenos produtores também têm potencial para suprir o mercado interno e até ganhar um espaço hoje suprido pelos grandes. Não podemos pensar que o pequeno será invariavelmente excluído, existe uma resposta econômica para eles quando os mesmos trabalham com um mínimo de produção que os tornem eficientes"
Finalizando o bate-papo, André destacou que na sua opinião, uma saída para o setor leiteiro envolve duas pontas: tecnologia na produção primária e estímulo de consumo/exportação. “A demanda precisa se deslocar no mesmo passo que a oferta para que assim, tenhamos equilíbrio sem exclusões sociais pelo uso da tecnologia, o que seria indesejável. Digo isso porque a medida que mais e mais produtores aumentam suas produções, por exemplo, por meio de inovações tecnológicas, se a demanda não se alterar, com a maior oferta, a tendência é uma queda nos preços do leite no mercado interno”.
Achou o tema interessante? Então venha participar conosco do Interleite Sul 2019, que está com uma programação para lá de especial! O tema focal do evento é: “Qual será o próximo salto do leite?”
Assuntos como automação, terceirização, parcerias, diferenciação, escala e sistemas de produção que aproveitam ao máximo a propriedade com sustentabilidade serão abordados. O evento ocorrerá nos dias 08 e 09 de maio em Chapecó/SC. Confira a programação completa aqui > https://www.interleite.com.br/sul/
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