Ela foi implementada com muito sucesso na Milchhof Johanning, fazenda situada na cidade de Rehden, Alemanha, na qual faço estágio. A instalacão do robô da marca Sac-Insentec (marca holandesa) custou em torno de 120.000 euros. Antes da tomada de decisão entre técnico e fazendeiro, muitas variáveis devem ser levadas em consideração para que haja um bom funcionamento do sistema: produção e composição do leite, quantidade de animais a serem ordenhados, frequência de ordenha, estrutura disponível do galpão, mastite, potencial genético do rebanho, retorno financeiro e principalmente, bem-estar animal.
Em grau de importância, eu considero o aspecto do bem-estar primordial na hora de decidir ou não pelo investimento da robótica. As vacas se apresentam ao robô para a ordenha de forma voluntária, basicamente por dois motivos: alívio do desconforto causado pelo acúmulo de leite na cisterna do teto - o qual cessa após a ordenha - e pelo fornecimento de alimentação concentrada altamente palatável, composto de centeio, trigo e milho.
Cada animal recebe a quantidade necessária de acordo com a fase da lactação e nível de produção. Uma vaca produzindo 30 litros/dia, aos 170 dias de lactação, recebe em média 3,1 quilos, enquanto uma vaca produzindo 42 litros, aos 80 dias, consome cerca de 7,0 quilos. Dentre os pontos positivos que a ordenha automatizada traz, sem dúvidas o conforto do rebanho é o principal, haja vista que os animais são os reais produtores do leite que bebemos, portanto nada mais justo que propiciar aos mesmos o mínimo de estresse possível, deixando a cargo das vacas, a decisão do momento ideal para serem ordenhadas.
O funcionamento do robô e suas respectivas funções podem ser regulados e programados, basta ao produtor organização e disciplina para atualizar números diariamente (histórico de vida, inseminações, partos, prenhez, início e final da lactação, estado sanitário, tratamentos realizados e cios). Caberá ao programa organizar os dados e elaborar planilhas, tabelas e gráficos.
O robô é uma ótima ferramenta, mas ela não funciona sozinha, um funcionário capacitado deve ser responsável pela gestão da máquina e do sistema em geral. Lavagem do local da ordenha, buscar e encaminhar os animais que não foram ordenhados voluntariamente (10% dos animais diariamente), troca das teteiras de latex a cada 20 dias, manutenção, reabastecimento dos desinfetantes do pré e pós dipping, são práticas imprenscidíveis para a harmonia do conjunto.
Basicamente, o robô possui um braço mecânico que realiza todas as atividades do processo de ordenha. Inclui-se entrada e saída dos animais, fornecimento de concentrado, limpeza do úbere e tetos, colocação e retirada de teteiras, registro de produção, fornecimento de gráficos e realização do pós dipping.
Outra ferramenta que auxilia técnicos e produtores é o índice de detecção de mastite, o qual funciona como um valor formado por quatro parâmetros: condutividade do leite, presença de sangue, intervalo entre ordenhas e fluxo de leite. Todos os fatores estão relacionados com a possibilidade de alguma infecção e inflamação na glândula mamária.
A localização dos tetos pelo braço mecânico se faz em duas abordagens, bruta e fina. A abordagem bruta tem como objetivo determinar a posição aproximada do úbere de maneira rápida e eficiente (vídeo no fim desta matéria); enquanto a fina busca determinar a posição do teto com precisão suficiente para guiar o braço do robô até haver a conexão do copo (vídeo no fim desta matéria).
Para instalar o sistema, não existe uma receita de bolo, tudo dependerá da estrutura pré-existente, adequando a mesma a nova realidade. Vale lembrar que até rebanhos a pasto também podem ser ordenhados por robôs. Na Milchhof Johanning, o sistema robótico localiza-se na menor extremidade do galpão de alojamento, formando duas áreas de quatro metros quadrado em torno das porteiras de acesso ao box da ordenha. Essa área funciona como um local de espera, onde as vacas formam fila por hierarquia para serem ordenhadas. As vacas mais velhas geralmente são as dominadoras, apresentando maior número de visitas ao box do que vacas de primeira cria, mas não comprometendo o número de ordenhas das subordidanadas.
O conjunto suporta 120 vacas em lactacão, possui dois boxes, possibilitando duas retiradas de leite simultâneas. A duração de cada ordenha gira em torno de 7 minutos, a média de ordenhas/vaca/dia é 2,8, cada indivíduo visita o robô em média 5 vezes a cada 24 horas e o intervalo médio entre ordenhas é de 9 horas.
Outros fatores que estão intimamente relacionados à introdção da nova tecnologia na fazenda, são:
-características do leite;
-contagem de células somáticas;
-reprodução.
As características do produto são levemente alteradas pela ordenha robótica. O aumento no número de ordenhas (2 para 3), causa uma leve diminuição no teor de gordura e proteína, e também, aumento dos ácidos graxos livres no leite, que se explica devido a maior mobilização de tecido adiposo corporal, o qual pode se agravar em casos severos de balanço energético negativo. Mas por outro lado, há um importante incremento na produção leiteira, chegando a aumentar 15% a quantidade de litros de leite no tanque.
No início da implantação do programa, haverá um incremento no índice da contagem de células somáticas , pois o aumento da frequência de ordenhas causa um prolongamento no período de abertura dos esfíncteres dos tetos, favorecendo a entrada e instalação de patógenos, mas com o passar do tempo e atrelado a um bom manejo sanitário, incluindo teste do fundo da caneca preta, Califórnia Mastite Teste (CMT), isolamento bacteriano e antibiograma, os números tendem a se estabilizar e o sistema entrar em equilíbrio".
Ainda sobre a reprodução, os resultados podem ser alterados apenas se as vacas estiverem em balanço energético negativo, do contrário, a atividade reprodutiva segue normalmente. É de suma importância adequar a qualidade da silagem fornecida a nova realidade, explorando assim o máximo do potencial genético animal, atrelado ao potencial tecnológico do robô.
A ordenha robótica veio para ficar, os benefícios que ela proporciona, tanto aos animais, quanto ao produtor, são diversos. Para analisarmos o custo benefício do investimento, cinco principais pilares devem ser levados em consideração: bem-estar animal, retorno financeiro, diminuição da mão de obra e aumento da produtividade. Se todos eles estiverem em equilíbrio, o sistema prosperará e os resultados serão extremamente animadores.
Milchhof Johanning: conheça a fazenda alemã que vem inovando para sobreviver à crise europeia
Assista o vídeo da ordenha robótica: