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Leite na Austrália: como é a formação de preço e o que podemos aprender?

VÁRIOS AUTORES

LEITE NO MUNDO

EM 27/09/2023

6 MIN DE LEITURA

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Produzir leite no Brasil é um desafio, sem dúvida. Importações, falta de garantias, falta de visão de futuro, inexistência de ferramentas de proteção de preço, entre outros; são itens recorrentes e que testam a resiliência de uma atividade que exige investimentos a longo prazo e muito cuidado nas decisões.

O mercado brasileiro é desafiador e único: poucos países têm as características que temos aqui. Uma possível exceção é a Austrália: não possui regulamentação de preço ou subsídios, há concorrência entre as indústrias e as cooperativas, que muitas vezes agem como uma camada de proteção aos produtores onde captam o grosso do leite, não dominam a captação.  Será que podemos aprender algo com o funcionamento do mercado australiano?

O que podemos aprender com a formação de preços na Austrália?  

Scott Briggs, profundo conhecedor do mercado australiano contribuiu grandemente para essa matéria. Scott é diretor na National Milk em Melbourne, Austrália e estará no evento Dairy Vision 2023 promovido pela MilkPoint Ventures, nos dias 7 e 8 de novembro. Ele conta ainda com um currículo vasto de atuação em diversas empresas ligadas a indústria láctea mundial.

A Austrália, país com 26 milhões de habitantes, tem o quinto IDH (índice de Desenvolvimento Humano) do mundo, consome 233 litros de leite-equivalente por pessoa ao ano, conta com 1,3 milhão de vacas em 4.420 fazendas, que produzem mais de 8 bilhões de litros anualmente, dos quais 36% são exportados. O clima tem desafios como a produção de volumoso e o conforto, pois a maior parte do território é extremamente seco e quente, à semelhança de parte da região nordeste brasileira.

As dificuldades climáticas são um aspecto importante para explicar o declínio na produção australiana, quando se analisa um período mais longo.

Gráfico 1. Produção Anual de leite na Austrália (milhões de litros)

Produção Anual de leite na Austrália Fonte: Dairy Australia – elaborado pelo MilkPoint Mercado

 

Mapa da Austrália
Fonte: Google maps

Produção de leite na Austrália

A maioria do leite é produzido ao sul do país (região de Victoria e Tasmânia) em sistema de pastejo, embora nos últimos 10 anos tenha havido um crescimento importante do uso de trigo, silagem de milho e canola, entre outros, gerando aumento da produtividade, uma tendência mundial de menos vacas e mais leite, também experienciada no Brasil.

Gráfico 2. Quantidade de precipitação em mm/dia

Quantidade de precipitação em mm/dia
Fonte: Dados mundiais.com

O clima é desértico em boa parte do ano como se pode ver no gráfico 2, com precipitação total no ano menor que 600mm, o que sugere que a irrigação seja na maior parte das fazendas.

Em relação ao negócio leite, segundo relatório do Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics (ABARES), as fazendas têm faturamento médio anual de AUS$ 361.000 (aproximadamente 241.000 dólares americanos). Nas maiores fazendas do país a renda anual é de AUS$ 1,17 milhão (780.000 dólares americanos) com rentabilidade ao redor de 7%. Estas grandes fazendas respondem por praticamente metade do leite produzido na Austrália. Como referência, as piores fazendas neste levantamento contam com -0,9% de rentabilidade.

É importante ressalvar que, apesar de certa heterogeneidade, a produção é  bem mais concentrada e uniforme do que no Brasil o que implica inclusive na organização e na coordenação da cadeia.

Como o produtor vende o leite na Austrália

Scott nos conta que a grande maioria dos produtores faz contrato com apenas um comprador a cada ano - geralmente em junho/julho- quando o preço é fixado, podendo ser mais baixo na safra e mais alto na entressafra. Há também contratos para até 3 anos. A precificação é geralmente por gordura e proteína e não por volume. Existe ainda um bônus ou desconto em relação a qualidade, lealdade (anos de fornecimento ao mesmo comprador) e tamanho do produtor, entre outros quesitos. Leite excedente na entressafra também pode ser bonificado.

Briggs, explica que o valor em contrato anual não pode cair, salvo em situações muito excepcionais, pois há um Código de Conduta que entrou em vigor há cerca de 3 anos, após a quebra da cooperativa Murray Goulburn (entenda um pouco do que aconteceu em Australian Food News).

A vantagem é que o produtor já sabe o preço para o próximo ano e pode investir na produção com mais certeza. A desvantagem é que se produtos como queijo, manteiga ou leite em pó perderem valor por alguma razão, a indústria pode enfrentar dificuldades (e até quebrar) e isso deixa o produtor mais vulnerável.

O sistema de contratos a preços definidos gera previsibilidade e reduz a volatilidade, mas não garante preços mais altos, na média. O gráfico 3 compara os preços em dólares por litro de leite no Brasil e na Austrália. Na média dos últimos 8 anos, o preço brasileiro ficou 8,3% maior: US$ 0,37 contra US$ 0,34 na Austrália.

Gráfico 3. Preço do leite pago ao produtor (USD/litro)

Preço do leite pago ao produtor
Fonte: Banco Central do Brasil, CEPEA, Macro Trends, Milk Value Portal.

Em geral, há de 20 a 30 empresas comprando leite em cada região produtora e cada uma pode customizar sua política de preços. Scott se posiciona dizendo que garantir um preço mínimo interessante é a melhor forma de atrair a captação. O produtor não pode quebrar o contrato ao longo do ano, podendo inclusive ser processado por isso, sendo essa uma diferença grande dos contratos brasileiros, que dificilmente acabarão numa disputa judicial. Vale lembrar que a tolerância para índices de CCS por exemplo são bem diferentes do Brasil, ficando em torno de 250.000 cel/ml como limite usual.

Scott relata que, historicamente, a Austrália experienciou uma importante inflação de produtos lácteos, porém a demanda não caiu proporcionalmente. Os varejistas vêm usando estratégias comerciais mais agressivas para incentivar as vendas. O consumidor é relativamente consciente sobre o que consome e prefere apoiar produtos “MADE IN AUSTRALIA”. A indústria se utiliza muito desse apelo da produção local com a massa consumidora. A indústria tem entidades como a Dairy Australia, que procura atuar em várias áreas relevantes para o futuro da atividade.

A Austrália se posiciona como um mercado livre, então é possível importar da Nova Zelândia (país bem próximo) e dos Estados Unidos, porém há algumas barreiras como importação de queijos europeus que são grandemente taxados. Hoje cerca de 2% do leite australiano vem de fora.

Um último ponto é que na Austrália há uma taxação sobre a produção denominada Levy system que capta um percentual não apenas de produtores de leite, mas de vários tipos de atividades com a intenção de investir em pesquisas e levantamento de dados importantes para os setores de produção primária, além de marketing, biosseguridade e outros. Todos são obrigados a participar dessa contribuição.

Finalmente, Scott ressalta que é muito importante desenvolver outras regiões e não confiar totalmente no consumo interno de um país. De forma geral, é possível notar que o sistema australiano tem seus prós e contras, seus desafios e oportunidades que podem servir de alerta e ideias para o desenvolvimento da pecuária brasileira.
 

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Referências bibliográficas:

Relatórios da indústria de laticínios australiana em foco.

Sobre taxas e o sistema de taxas - Governo Australiano.

Beber leite – categoria chave para laticínios australianos, Dairy Global.

Murray Goulburn, o que deu errado? - Australian Food News

 

 

HAYLA FERNANDES

Descrição: Médica veterinária pela UFG, mestre em sustentabilidade e pecuária e consultora técnica. Proprietária do perfil @vaca_feliz_oficial no Instagram. Contato: (62) 99949-5588.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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