Com um público recorde, o Dairy Vision 2022 teve início nesta terça-feira, 22/11. Neste primeiro dia de evento, na Expo Dom Pedro, em Campinas/SP, a primeira sessão do evento abordou as transformações estruturais no campo.
Com uma visão ampla, Marcelo Pereira de Carvalho, CEO do MilkPoint Ventures, trouxe as mudanças na produção de leite. De acordo com ele, historicamente, a produção de leite no Brasil é baseada na produção familiar. Ao olhar para o contexto atual, as transformações moldam as novas características no campo. O avanço dos sistemas de produção confinados, especialmente dos compost barn foi citado pelo CEO.
Marcelo pontuou que esse tipo de sistema demanda maior investimento, aumento dos custos variáveis, necessidade de maior desempenho, menor flexibilidade técnica e tem mais susceptibilidade à flutuação de preços e custos.
Por outro lado, também há vantagens, como a previsibilidade técnica, menor risco técnico, maior escalabilidade, maior produtividade potencial, entre outras. “Provavelmente no futuro teremos o fim da estacionalidade — do volume da produção de leite — devido à tendência de leite confinado.”
Do campo para o mercado, para Andres Padilla, Industry Specialist na Rabobank Brasil, atualmente, o mercado internacional de lácteos é mais competitivo, com o continente europeu "colocando" maior quantidade de leite no mercado, além de uma forte concorrência entre EUA e Europa.
Para o futuro, no Mercosul, na visão de Andres, as barreiras de exportação e os problemas logísticos serão uma dificuldade. Para ele, um possível caminho é o aumento do consumo doméstico com embalagens que se ajustem às famílias menores e com maior praticidade são potenciais possibilidades.
“A rentabilidade da Coca-Cola está dedicada aos produtos menores devido à adequação à realidade de famílias menores e embalagens mais práticas. Os lácteos podem seguir a mesma tendência,” exemplificou.
Dos Estados Unidos (EUA), Marin Bozic, Professor da Universidade de Minnesota, relatou que no país existe um movimento de consolidação, na qual parcela de produção, feita por grandes produtores, está aumentando nos EUA.
Em um gráfico apresentado por Bozin, 87% dos produtores nos EUA tem menos de 200 vacas, porém produzem apenas 22% da produção total. Em contraste, os produtores com mais de mil cabeças representam uma menor parcela, mas são responsáveis por mais de 50% da produção de leite americana. Esse perfil de produtores está crescendo." Marin apontou ser possível observar uma evolução no manejo e genética no rebanho do país, ressaltando que “o crescimento populacional cresce mais lentamente do que a produtividade por vaca.”
Além das técnicas de manejo, outro ponto levantado no primeiro painel do Dairy Vision 2022 foi a gestão. Leandro Campos, Gerente Comercial na Engineering e Thiago Pacheco, Gerente de Novos Negócios e Parcerias na Prodap, abordaram a importância da tomada de decisão baseada na análise de dados. Neste cenário, a plataforma SmartMilk possibilita a conexão da fazenda à indústria.
“Estamos falando de uma gestão zootécnica cada vez mais completa. A grande facilidade para saber o que não está indo bem, para acelerar a tomada de decisão na fazenda,” explicou Thiago. “Seria termos em uma tela uma visão completa e descomplicada desde a fazenda até a indústria (...) Hoje nós entendemos que o mundo está caminhando muito por este lado do trabalho de dados,” completou Leandro.
Com o case da Adecoagro, a produção verticalizada também foi abordada. Ernesto Pittaluga, Diretor das Operações de Leite na Adecoagro, disse que ano passado foram processados 357 milhões de litros de leite.
Ernesto ressaltou que a integração vertical não diz respeito somente sobre a produção e a produtividade, mas também ao modo de produção. “Estamos trabalhando com diversas certificações de bem-estar animal.”
No debate, moderado por Valter Galan, do MilkPoint Mercado, com a presença dos palestrantes — exceto de Marin —, o perfil de produção, abordado durante as palestras, retornou ao centro da discussão. Marcelo Carvalho ressaltou que a produção de leite não será apenas em grandes fazendas, destacando que as parcerias e sociedades de vários pequenos produtores pode ser uma tendência.
De forma completar, Padilla reforçou que produzir leite é difícil, requerendo uma mão de obra especializada e uma grande dedicação total. Segundo ele, a tecnologia pode ser uma aliada a longo prazo. Neste sentido, a tecnificação e gestão também foram destacadas por Leandro.
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