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A demora no início do tratamento de mastite clínica leve altera a chance de cura da vaca?

POR BRUNNA GRANJA

E MARCOS VEIGA SANTOS

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 15/03/2019

4 MIN DE LEITURA

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A mastite clínica (MC) leve ou moderada manifesta-se por sinais visíveis de inflamação na glândula mamária, como inchaço, vermelhidão, presença de grumos ou coágulos no leite ou outras alterações das caraterísticas do leite e/ou quarto mamário. As vacas com MC trazem elevados prejuízos para o produtor, devido ao descarte de leite com resíduos de antibióticos e os custos de tratamento, redução de produção de leite durante o restante da lactação, redução de fertilidade e descarte prematuro.

Atualmente, a grande maioria das fazendas realiza o tratamento de todos os casos de MC de forma imediata e inespecífica, com antimicrobianos intramamários de amplo espectro, pois no momento da decisão de tratamento estas fazendas não têm acesso à informação sobre a causa da MC.

Esse protocolo de tratamento de todos os casos de MC é responsável por 80% de todos os resíduos de drogas antimicrobianas detectados pelos laticínios. Além disso, outro risco associado ao tratamento inespecífico com antibióticos de amplo espectro é o desenvolvimento de resistência bacteriana aos antimicrobianos, o que gera adicionalmente perdas econômicas associadas a necessidade de mais tratamentos e descarte do leite devido ao período de carência.

Os protocolos de tratamento seletivo, de acordo com o tipo patógeno causador de MC, podem ser uma excelente estratégia para o uso responsável dos antibióticos além de ser economicamente viável, pois pode diminuir o uso desnecessário de antimicrobianos de amplo espectro, assim como dos outros problemas associados a essa prática nas fazendas. Os protocolos seletivos de tratamento de MC, de acordo com o agente causador, somente podem ser realizados se a fazenda implantar um sistema de cultura na fazenda ou outros métodos de diagnóstico laboratorial, quando disponíveis. Esse tipo de protocolo seletivo de tratamento de MC recomenda o uso de antibióticos somente quando há chance de benefício do uso do antibiótico. Além disso, com o diagnóstico do tipo de agente causador é possível definir um protocolo mais recomendado para os patógenos diagnosticados.

Estima-se que cerca de 30% ou mais casos de MC têm resultado de cultura microbiológica negativo, o que não justificaria o uso de antimicrobianos nesses casos. Além disso, observa-se alta chance (cerca de 85%) de cura bacteriológica espontânea, sem o uso de antimicrobianos, para casos de MC leve ou moderada causados por bactérias Gram-negativas como a Escherichia coli. No entanto, um dos principais questionamentos dos protocolos de tratamento seletivo de MC é se a demora em iniciar o tratamento (geralmente 24 hs) causa prejuízo em termos de menor taxa de cura da MC em relação aos protocolos de tratamento de início imediato.

Sendo assim, com o objetivo de avaliar a eficácia de dois protocolos de tratamentos baseados no diagnóstico de cultura na fazenda, foi realizado recentemente um estudo de campo em fazenda de Nova York (EUA), com 3.500 vacas em lactação, sendo avaliados 489 casos de MC. O objetivo deste estudo foi comparar a eficácia de dois protocolos:

a) tratamento convencional (n= 243/489), nos quais foram utilizadas 5 bisnagas de ceftiofur no quarto mamário afetado, uma vez ao dia, por cinco dias;

b) tratamento seletivo (n=246/489), de acordo com resultado da cultura microbiológica: vacas com MC causada por SCN, Streptococcus spp., Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis ou Enterococcus spp., foram tratadas com 2 bisnagas de cefapirina intramamária a cada 12 horas, por um dia.

No protocolo de tratamento seletivo, para as vacas positivas para quaisquer outros patógenos ou com crescimento negativo na cultura microbiológica, não foi atribuído nenhum tratamento. Vacas que apresentaram mais de dois patógenos ou apresentaram mastite em mais de um quarto mamário, foram tratadas com cefapirina em todos os quartos mamários. Um total de 79/246 vacas foram tratadas com cefapirina e 176/246 não foram tratadas.

A hipótese do estudo foi que o uso de protocolos de tratamento seletivo de MC pode não só diminuir o uso de antimicrobianos, mas também reduzir riscos de saúde pública e trazer retornos econômicos para a fazenda. A proporção de casos de MC leves e moderados avaliados no estudo foi de cerca de 68%, sendo assim se todas a vacas fossem tratadas de forma seletiva, cerca de 330 não teriam sido tratados de forma imediata com o uso de antibióticos.

Não houve diferença entre os protocolos em relação ao número de dias para cura clínica da mastite (4,5 dias para protocolo de tratamento seletivo e 4,8 para o protocolo convencional). Da mesma forma, a média da produção de leite após os casos de mastite foi similar entre os dois protocolos de tratamento, com 34, 7 kg de leite para as vacas do protocolo tradicional e 35,4 kg de leite para vacas do tratamento seletivo. Não foi observada diferença entre os protocolos em relação ao risco de descarte das vacas de ambos protocolos em até 60 dias após os tratamentos, o que indica que casos de MC leve e moderada não trazem esse risco.

Os resultados para escore linear de células somáticas não apresentaram diferença (com 4,3 para vacas com tratamento seletivo e 4,2 para vacas com tratamento convencional), sendo assim, é possível observar que em casos de MC leve e moderada, com ou sem tratamento não alteram a contagem de células somáticas. A única diferença significativa encontrada entre os efeitos dos tratamentos foi para o tempo de descarte do leite, sendo que as vacas do tratamento seletivo apresentaram 3 dias menos do que as vacas do tratamento convencional, em razão do maior tempo de descarte de leite pelo uso dos antibióticos do tratamento convencional.

O tratamento seletivo de acordo com o tipo patógeno causador da MC diminuiu os dias de descarte do leite devido ao tratamento, não apresentando diferenças significativas para o número de dias para cura clínica, assim como para produção de leite após o caso de mastite. Assim, com o uso da cultura na fazenda, foi possível a tomada de decisão baseada em diagnóstico mais rápido, gerando retorno econômico e menores risco à saúde pública.

Fonte:  Vasquez et al., Journal do Dairy Science, p.2992–3003, 2017 (https://doi.org/10.3168/jds.2016-11614)

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

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DENIS RESENDE BARBOSA

MINEIROS - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/03/2019

Bom dia,
Sou um produtor em mineiros Goiás!
Não tenho laboratório na fazenda!
E observo grumos, através do teste da caneca!
Quando for uma mastite clínica leve ou moderada na ordenha da manhã, posso esperar a ordenha da tarde, para novamente observa se irá sair grumos, naquele peito, para depois começar o tratamento?
E a mastite clínica forte, com inchaço do ubere, posso também esperar uma ordenha para começar o tratamento? Talvez faria só um anti-flamatorio?
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 29/03/2019

Prezado Denis, eu somente indicaria aguardar 24 a 36 horas para iniciar o tratamento se a fazenda possui o laboratório na fazenda, pois caso contrário, não se pode tomar a decisão de deixar de tratar a vaca. Quando a fazenda não tem a possibilidade de fazer a cultura na fazenda, o mais recomendável é iniciar o tratamento da mastite clínica de forma imediata, de acordo com o tipo de sintoma e gravidade do caso clínico, atenciosamente, Marcos Veiga
ADRIEDSON GONÇALVES

EM 16/03/2019

Bom dia fui numa palestra do senhor Márcio Veiga e gostei muito,tenho um pequeno rebanho de 800 litros dia a ccs aqui é até baixa em 200 e pouco, não tenho laboratório tenho alguns casos de mastite será que compensa um laboratório?
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 29/03/2019

Prezado Adrielson, a avaliação se compensa ou não implantar um laboratório depende do número de casos clínicos que a fazenda tem por mês e do tipo de agente causador mais prevalente. Conheço fazendas de 50 a 60 vacas que já usam a cultura na fazenda e que têm tido benefício do uso. No seu caso, que a CCS é baixa é provável que os principais agentes causadores de mastite são de origem ambiental, o que teria sim vantagens de usar a cultura na fazenda. Na minha opinião, quando a fazenda tem mais do que 4-5 casos por mês a cultura na fazenda pode ser interessante. Além disso, a cultura na fazenda também serve para avaliação da mastite subclínica, o que poderia ser outro uso. Atenciosamente, Marcos Veiga
DIANDRA

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/03/2019

Professor Marcos Veiga, boa noite.
Houve cura clínica, mas como fica a questão da cura bacteriológica nos dois protocolos ? Não há risco dessa infeção se tornar crônica?
Obrigada !
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 16/03/2019

Diandra, realmente não foi avaliada a cura microbiológica, possivelmente porque o estudo foi feito em condições de campo. No entanto, foi acompanhada a CCS e o risco de descarte e não houve diferença entre os tratamentos, indicando que não houve aumento do número de infecções crônicas. De forma geral, a mastite causada por bactérias Gram-negativas tem baixo risco de se tornarem crônicas. Atenciosamente, Marcos Veiga
BRUNO VICENTINI

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 15/03/2019

Muito bom o artigo!
MARIUS CORNÉLIS BRONKHORST

ARAPOTI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/03/2019

Bom dia
No trânsito vale , na dúvida não ultrapasse .
Na mastite vale , na dúvida trate .
Temos que usar métodos para evitar a mastite , que são ordem , higiene , ordenha correta com equipamentos corretos , e ordenha dores responsáveis com motivação.
Quem não investe em melhorias pagará o custos de outra forma , e mastite É uma felad
MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 15/03/2019

Obrigado pelo comentário, Marius, concordo totalmente, Marcos Veiga

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