Enquanto as manchetes se concentram nas inundações que assolam o Rio Grande do Sul (RS), é importante lembrar o papel crucial que o estado desempenha em setores essenciais da economia brasileira, como a produção e o consumo de leite e seus derivados. Ao longo dos anos 2000, o Rio Grande do Sul vem disputando o segundo lugar no ranking de produção de leite no Brasil com o Paraná. No entanto, agora, o estado é o terceiro maior produtor de leite do país, com taxas médias de crescimento de 3% no período analisado.
Figura 1. Evolução da produção de leite dos 4 estados maiores produtores do país.
Fonte: CILeite.
Com 15,740 milhões de cabeças de gado e produtividade de 3.771 litros/vaca/ano (segunda maior do Brasil), o Rio Grande do Sul responde sozinho por 11% da produção nacional de leite, ou seja, cerca de 4 bilhões de litros. Com todo esse volume de produção, os gaúchos também se destacam como grandes apreciadores do leite e seus derivados (Tabela 1).
Tabela 1. Ranking de consumo per capita de lácteos no Brasil.
Produtos/ranking |
1o. |
2o. |
3o. |
4o. |
5o. |
Total de lácteos |
SC |
RS |
MG |
SP |
PR |
Creme de leite |
SC |
PR |
DF |
RS |
SP |
Leite condensado |
RS |
SC |
SP |
RJ |
PR |
Leite fluido |
SC |
RS |
SP |
MG |
PR |
Total de queijos |
RJ |
SC |
PE |
SP |
RS |
Iogurte |
RS |
SC |
SP |
MS |
PR |
Leite fermentado |
SC |
PR |
SP |
RS |
RN |
Manteiga |
GO |
AP |
BA |
AC |
SE |
Leite em pó |
AM |
RR |
PI |
PA |
PE |
Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores.
Em termos de consumo per capita de lácteos, os gaúchos estão na segunda posição no ranking, apenas 8% abaixo de Santa Catarina, que é o primeiro colocado. Considerando os principais produtos lácteos consumidos no Brasil, os gaúchos só não se destacam no consumo de creme de leite, manteiga e leite em pó.
No entanto, o Rio Grande do Sul é o maior consumidor per capita de leite condensado e iogurte. O estado consome, em média, 1,17 kg de leite condensado por ano, ou seja, cerca de 530% a mais que o último colocado neste ranking: o Maranhão.
O cenário é similar para iogurte. Em média, cada gaúcho consome 2,48 kg de iogurte por ano, ficando em um nível 5% acima de Santa Catarina (segundo colocado no ranking), 8,7% acima da média brasileira e 623% acima do estado que menos consome iogurte no país: Tocantins.
Além disso, o Rio Grande do Sul está entre os maiores consumidores de leite fluido, queijos e leite fermentado. Assim, sozinho, o estado consome 9% de todos os laticínios do Brasil, refletindo-se em uma das dietas mais ricas em derivados do leite do país. Vale ressaltar que o leite fluido é a base da alimentação diária dos gaúchos, de modo que cada habitante do estado consome, em média, cerca de 100 ml de leite por dia, ou seja, bem acima da média brasileira, que é de cerca de 55 ml/dia. Com isso, o consumo de leite fluido responde por 80% do consumo total de lácteos no estado.
Dentre os queijos, os mais apreciados no Rio Grande do Sul são, nesta ordem: queijo prato, mozzarella e requeijão. Com um total consumido de cerca de 33 mil toneladas de queijos por ano, o estado ingere sozinho 23% de todo o queijo prato do país. No entanto, o queijo minas não agrada muito os gaúchos, sendo o produto lácteo de menor representatividade de consumo no Rio Grande do Sul em relação ao total consumido no Brasil, com apenas 0,69%. Já o parmesão, embora tenha um volume de consumo ligeiramente superior ao do queijo minas no estado, representa 5,5% do total consumido no Brasil.
Assim, é possível perceber que o Rio Grande do Sul se destaca não apenas pelos desafios das enchentes, mas também pela sua robusta produção e significativo consumo de laticínios. Em meio a essa tragédia, é importante destacar a força e a resiliência do setor lácteo gaúcho.
Apesar dos desafios impostos pelas enchentes, como a interrupção da produção em algumas áreas e a dificuldade na logística de transporte, o setor lácteo gaúcho tem capacidade de superação. É importante ressaltar que, além dos impactos diretos nas propriedades rurais e na indústria de laticínios, as inundações também afetam o consumo de lácteos na região. A perda de renda e o deslocamento da população podem levar a uma redução na demanda por produtos lácteos, impactando ainda mais o setor.
Nesse momento de dificuldade, é fundamental a união de esforços para auxiliar os produtores rurais e as empresas do setor lácteo gaúcho. Políticas públicas de apoio, medidas de reconstrução e ações de manutenção da saúde e qualidade da dieta são essenciais para garantir a retomada da produção e a preservação da identidade do Rio Grande do Sul como um dos maiores produtores e consumidores de leite do Brasil.