As tragédias provocadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul carregam, além dos impactos financeiros, um abalo emocional. Dos seus 497 municípios, 425 relatam algum problema relacionado às recentes chuvas. Segundo o último boletim da Defesa Civil, de 08/05, os desastres, até o momento, impactaram 1,476 milhão de pessoas.
Os efeitos são claramente notáveis para todos, e o agronegócio, principal setor econômico do Rio Grande do Sul, deverá sentir os impactos das enchentes históricas. A Confederação Nacional de Municípios (CNM) estima, até o momento, um prejuízo de mais de R$500 milhões só para o agronegócio, sendo R$423 milhões relacionados à agricultura e R$83 milhões à pecuária.
Crédito: REUTERS/Diego Vara
Os impactos são sentidos também na pecuária leiteira. Com estradas e rodovias bloqueadas ou interrompidas, a captação do leite e circulação de insumos tem sido uma preocupação dos produtores locais.
No início da semana, as estimativas da Gadolando e do Sindilat-RS indicavam que, naquele momento, cerca de 40% do leite não estava sendo entregue devido a propriedades alagadas e isoladas, impossibilitando o recolhimento do produto. Diante da situação extrema, a Câmara dos Deputados aprovou na segunda-feira (6) projeto de decreto legislativo (PDL) reconhecendo estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul até 31 de dezembro de 2024, frente a isso, uma operação emergencial para a captação do leite foi decretada e determinou um acordo que permite a todo produtor de leite do estado a entrega de sua produção à indústria que conseguir acessar primeiro a propriedade, evitando assim o desperdício do produto.
Fonte/crédito: Reprodução das redes sociais.
Hoje (9/5), o Diário Oficial da União publicou uma portaria que autoriza que a coleta de leite seja feita diretamente nas propriedades rurais dos municípios afetados pela situação de calamidade pela empresa sedeada mais próxima desses locais, inclusive de Santa Catarina, sem a necessidade de cadastro prévio dos produtores no Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIGSIF).
A publicação também autoriza a coleta de leite de produtores inscritos no cadastro dos Serviços de Inspeção Municipais (SIM) e dos Serviços de Inspeção Estaduais (SIE) bem como de novos produtores, sem a realização prévia das análises em laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite (RBQL).
O diretor de relações institucionais da APIL (Associação das Pequenas e Médias Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul, ), Wlademir Pedro Dall’Bosco, informou ao MilkPoint que o setor enfrenta uma situação delicada. “Estamos tendo perdas muito significativas. Já temos estimativa de que o RS não vá atingir mais os 11 milhões de litros/dia. Vai haver uma queda grande na produção anual de leite no estado”.
Dall’Bosco ressaltou que os danos vão além do financeiro e do momento atual. “Parte dos produtores vão sair da atividade, é um processo natural que será antecipado. Os filhos, noras e esposas querem sair da onde estão, isso vai intensificar a dificuldade da mão-de-obra e gerar problemas para a sucessão. Produtores perderam casa, vaca, galpão, maquinário. E onde está localizada a propriedade, não vale o investimento de se reestruturar. Os produtores não vão querer fazer investimentos para reestruturar numa área mais alta, não tem nem dinheiro para isso”, destaca. Segundo ele, o que está se desenhando é que o RS deve perder 10% da produção de leite (anual), comparado a 2023.
Outro profissional do setor, relatou ao MilkPoint que entre os dias 1 e 5 de maio, 15% do volume diário não foi captado devido às dificuldades locais, principalmente pelo bloqueio de estradas, destacando que estão tentando contornar a situação por desvios, que aumentam em 400 km a logística e impactam o custo.
A falta de energia elétrica e água também são preocupação de toda a cadeia produtiva. A escassez de alimentos para o rebanho e as dificuldades de acesso repercutem na redução da produção e descarte do leite. Segundo informações captadas pelo MilkPoint Mercado, algumas indústrias nas regiões afetadas estão paradas por falta de energia, e, devido ao acesso precário, enfrentam dificuldades para a compra de combustível para geradores.
O Rio Grande do Sul também é altamente competitivo na produção de grãos, como milho e soja, principais constituintes de rações. De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Sul é a região com as atividades de campo mais atrasadas. A colheita do milho 1ª safra está praticamente paralisada, mas 83% da área já foi colhida, enquanto que para a soja ainda faltam colher 25% da área.
Imagens cedida pela Jaqueline Ceretta, produtora de leite de Ijuí-RS .
As chuvas em excesso retardam ainda mais a colheita e, além das perdas, têm gerado preocupações sobre a qualidade das lavouras. Diversas áreas de pastagens também foram destruídas pelas enchentes, o que impactará ainda mais a já escassa alimentação dos rebanhos, gerando um aumento nos custos de produção que será sentido nos próximos meses.
Como fica o preço do leite?
A produção de leite no Rio Grande do Sul tende a se elevar, sazonalmente, nos meses de abril a julho. Nesse período, normalmente, há um aumento da oferta devido às pastagens de inverno.
Considerando o cenário atual do estado, devemos ter uma redução da produção do leite em maio, que tende a causar um comportamento de alta do preço ao produtor. Segundo o MilkPoint Mercado o aumento do custo e dificuldades logísticas para a chegada de combustíveis e ração, e até mesmo diminuição no número de ordenhas por dia, devem afetar a oferta, fortalecendo a perspectiva de alta.
É importante ressaltar que uma tragédia dessas proporções, não permite uma estimativa assertiva quanto que se espera para frente, visto que nem todos os prejuízos foram calculados e que ainda há previsão para mais chuvas para os próximos dias na região.
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A equipe do MilkPoint se solidariza com as vítimas do ocorrido e estamos em campanha para ajudar a produção de leite no Rio Grande do Sul, saiba como ajudar aqui.