Por Kennya B. Siqueira e Davi Chaves
A Embrapa Gado de Leite/Centro de Inteligência do Leite realizou, entre os dias 23 de abril e 03 de maio, uma pesquisa por meio das redes sociais para acompanhar o comportamento do consumidor brasileiro de leite e derivados durante a pandemia do novo coronavírus. Participaram da pesquisa 5.105 consumidores distribuídos em todo o território brasileiro que responderam sobre o consumo de 13 produtos lácteos.
Neste estudo foi considerado o consumo domiciliar, ou seja, os produtos adquiridos pelo consumidor no autosserviço (supermercados, padarias, mercearias, etc) para consumo na sua residência. Com isso, a pesquisa não considerou a alimentação fora do lar (bares, restaurantes, hotéis, etc), categoria que apresentou as maiores quedas de consumo durante a quarentena.
A pesquisa mostrou que a grande maioria dos consumidores que participaram da pesquisa mantiveram seus hábitos de consumo durante a pandemia, consumindo a mesma quantidade de produto que consumiam anteriormente. Ao contrário do ocorrido com a maioria dos derivados do leite, para dois derivados do leite ligados à indulgência (sorvete e doce de leite), houve uma porcentagem maior de consumidores que afirmou ter diminuído o consumo domiciliar desse produto (Tabela 1).
O sorvete, por ser alimento sazonal, geralmente tem seu consumo reduzido nesta época do ano no Brasil. Já, o doce de leite parece estar perdendo espaço para sobremesas preparadas em casa, o que fortaleceu as vendas de leite condensado, outro derivado do leite que também é considerado um produto indulgente.
Tabela 1. Porcentagem de variação no consumo de lácteos durante a pandemia, segundo os participantes da pesquisa. Fonte: resultados da pesquisa.
Dentre os fatores analisados na pesquisa que mostrou relação com o consumo de lácteos está a renda. Análises estatísticas evidenciaram que a renda de até um salário mínimo (SM) está associada com a redução do consumo para todos os derivados do leite analisados na pesquisa (Tabela 2).
Tabela 2. Média da porcentagem que a mudança no consumo representa por classe de rendimento, contando todos os produtos. Fonte: resultados da pesquisa.
Já a localização também revelou algumas informações importantes com relação à variação de consumo de lácteos durante a pandemia. O estado de Goiás, por exemplo, está associado com o aumento de consumo de leite pasteurizado (Figura 1). Já Acre e Ceará estão associados com o aumento do consumo de sorvete no período de quarentena, enquanto Pernambuco está associado à redução no consumo de leite fermentado.
Figura 1. Teste de independência entre as variáveis e as variações no consumo durante a pandemia e o estado. Fonte: Resultados da pesquisa. Obs: o teste de independência ilustra a associação entre duas variáveis. Nesse teste estatístico, os círculos azuis representam associações positivas e quanto mais forte for o azul, maior é a associação.
Apesar dessa pesquisa ter sido realizada com o intuito de medir o comportamento do consumo de lácteos nas residências brasileiras apenas no período de isolamento social da população, ela forneceu importantes informações e insights sobre este mercado. As informações referentes à renda, por exemplo, são muito importantes para os produtos mais populares, dirigidos para as classes de renda mais baixa e que, geralmente usam a estratégia de diferenciação de preço, pois os resultados indicam que estes podem ter maior retração na demanda.
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