A rotina de deslocamento de vacas mais velhas pela sala de ordenha normalmente é tranquila, mas, quando o assunto são as novilhas que se aventuram na sua primeira experiência na sala de ordenha, a história pode ser outra.
“Treinar as novilhas para se familiarizarem com a sala de ordenha antes de chegarem lá não é apenas importante do ponto de vista da segurança e do bem-estar animal, mas também há uma grande importância pela produção de leite”, disse Amber Adams-Progar, especialista em manejo leiteiro e professora associada da Washington State University. “Qualquer estresse em uma vaca ou novilha de primeira lactação acaba afetando a produção de leite. Queremos evitar isso se pudermos.”
O cortisol, um hormônio relacionado ao estresse, afeta o processo fisiológico que começa no cérebro. Assim como em humanos, quando as concentrações de cortisol aumentam acontece um feedback negativo perante a ocitocina, o que afeta a liberação do leite e o volume de produção.
As fêmeas estressadas não são capazes de relaxar imediatamente e carregam níveis mais altos de cortisol em seu corpo por longos períodos de tempo.
Opções de treinamento
Adams-Progar descreve várias opções de treinamento antes que ocorra uma experiência inicial na sala de ordenha.
Primeiro, ela diz que um método usado pelo Dr. Don Höglund, veterinário, especialista em comportamento animal e treinador, emprega portões e cercas portáteis em uma situação de curral aberto. Essa estratégia, seja em um galpão dry-lot ou em estilo livre acostuma as novilhas ao movimento de fila única através de conjuntos de painéis posicionados de forma estreita.
O objetivo é que elas se acostumem a ambientes diferentes dos que enfrentam em suas rotinas normais e isso as ajude a entender que podem se mover com sucesso e segurança nessas novas situações.
Em segundo lugar, uma tática que pode ser empregada é levá-las à sala de ordenha como teste. Nesse caso, são simuladas condições reais, como limpeza dos úberes e acoplamento dos ordenhadores. “Quanto mais perto os aproximarmos do processo de ordenha real, melhor estaremos. O que estamos fazendo é ensiná-las a lembrar: 'Já estive aqui antes, este não é um ambiente novo, os manipuladores não são novos porque já os encontrei.'”
Uma terceira opção é misturar novilhas com vacas maduras, pois são criaturas naturalmente sociais que preferem se mover em grupo. Adams-Progar explica que essa abordagem pode funcionar, mas alerta que o rebanho é composto por uma hierarquia social com animais dominantes e subordinados. Ao misturar novilhas, as fêmeas mais dominantes podem se tornar agressivas com elas, fazendo com que a experiência seja um evento negativo. “Você não quer dar um tiro no pé”, disse ela. “Vacas maduras podem mostrar a elas onde entrar e sair, mas precisamos ter certeza de que elas também não estão assediando e intimidando. Não queremos que elas associem a ordenha a algo ruim.”
Diferenças genéticas e de design de infraestrutura
Adams-Progar disse que o aspecto mais importante durante o treinamento é mantê-las juntas, permitindo-lhes o conforto da interação familiar.
Ela não acredita que as variações na sala influenciariam o sucesso do treinamento dos animais, embora os sistemas rotativos permitam que os animais se vejam durante esses eventos.
As ordenhas robóticas também fornecem consistência, o que pode ser útil, pois as novilhas serão tratadas exatamente da mesma maneira a cada passagem pela sala de ordenha, enquanto as ordenhas humanas diferem nos níveis de pressão aplicados.
Da mesma forma, o histórico genético e as distinções de raça podem desempenhar um pequeno papel na realização do treinamento, pois raças como Jersey são conhecidas por exibir um pouco mais de curiosidade em seu comportamento do que as Holandesas. É possível que elas se adaptem mais rapidamente quando confrontadas com um novo ambiente.
Algumas linhagens genéticas também são conhecidas por aceitar o manuseio humano não rotineiro mais fácil do que outras, mas mesmo com extensa pesquisa destinada a identificar essas linhagens, a previsão dessas características com um alto nível de certeza pode ser falha.
Temperamento de funcionários
Adams-Progar acredita que grande parte do sucesso depende de funcionários com as habilidades e o temperamento certos. “Não se trata apenas de treinar as novilhas”, disse ela. “Os funcionários são vitais para a situação. Isso é importante tanto para a segurança dos tratadores como dos animais. As pessoas devem ser capazes de ler o comportamento, mas isso não pode ser ensinado em uma hora. É um certo conjunto de habilidades que vem junto com o temperamento certo.”
Ela acredita que a paciência é fundamental. Manejadores que trabalham em baias de maternidade e com pares vaca/bezerro devem estar calmos, firmes em seus movimentos, usar o posicionamento correto e ter consciência do ambiente. “Se pensarmos em uma novilha de primeira lactação com todos esses hormônios e instintos maternos novos, desconhecidos e potencialmente alarmantes correndo por seu corpo, é fundamental que os tratadores entendam que esse animal tem uma enorme quantidade de comportamento materno para lidar. Ela pode ser agressiva e os trabalhadores precisam estar cientes das opções de saída. A resolução de problemas e o pensamento rápido devem fazer parte do conjunto de habilidades.”
Aplicando o processo ao longo da vida
Ela descreve o treinamento como um processo ao longo da vida, em vez de um manejo a ser realizado 2 semanas antes que surja a necessidade.
A pesquisa em seu laboratório do estado de Washington examinou os níveis de facilidade de manejo usando câmeras de vídeo com foco em zonas de fuga. Eles observaram 3 fases da vida em 2 fazendas leiteiras escolares: uma cooperativa gerenciada por estudantes e um centro regular de laticínios. Os animais manuseados desde pouca idade pelos alunos tornaram-se mais difíceis à medida que envelheciam. Eles concluíram que, como esses bovinos estavam interagindo mais amplamente com os alunos, muitas vezes incluindo carícias e contatos não relacionados aos cuidados necessários, quando as zonas de fuga normais foram testadas, os tratadores não conseguiram movê-las em pequenos grupos. “Elas não tinham mais uma zona de fuga”, disse Adams-Progar. “É incrível a diferença que a prática de manejo faz, mesmo com bezerros pré-desmamados, pois isso afeta a facilidade de manejo quando eles amadurecem.”
Ela admite que muitas fazendas leiteiras não empregam métodos de treinamento para novilhas de primeira lactação por vários motivos, incluindo tempo, questões econômicas, escassez de mão de obra e o campo de tarefas aparentemente em constante expansão. A maioria das fazendas não faz isso, mas ela pede aos produtores que considerem seriamente a prática. Aqueles que não usaram nenhum método relataram histórias de problemas e lesões que ocorreram quando as novilhas passaram pela primeira visita à sala de ordenha. “É um novo ambiente; elas nunca estiveram lá antes, por isso é uma experiência única e potencialmente estressante tanto para os funcionários quanto para os animais. O novo ambiente as torna mais difíceis de manejar e isso torna mais difícil para os funcionários gerenciá-los.”
Ela sugere que os produtores tentem incorporar algum nível de treinamento em sua operação, mas, no mínimo, ela confirma a necessidade de ferramentas para tornar a experiência o mais livre de estresse possível. Os portões devem ser localizados adequadamente, os painéis de aglomeração mantidos e oscilando livremente e a infraestrutura limpa com superfícies de apoio seguras para evitar escorregões e quedas. “Pode ser perigoso mover uma nova novilha para uma sala de ordenha pela primeira vez. Eu encorajaria o uso de uma estratégia de treinamento, mas se isso não for possível, certifique-se de que as ferramentas estejam lá para tornar a experiência o mais seguro e livre de estresse possível para todos os envolvidos.”
As informações são do Dairy Global, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.